A gestão ambiental é uma profissão que encontrou um caminho sem volta de ascensão e prosperidade, crescendo cada vez mais em todo o Brasil e no mundo. Ao longo do tempo, aumenta o interesse e a pressão pública nas empresas para que elas tomem medidas de mitigação de impactos ambientais, recuperação de áreas naturais degradadas, compensação do passivo ambiental e racionalização da gestão de recursos naturais, inclusive com a obtenção dos selos ISO14000, referentes ao alcance da excelência na gestão ambiental empresarial. Essa pressão da opinião pública também recai sobre o governo, para que ele, através do IBAMA e do Ministério do Meio Ambiente, melhore a fiscalização e recrute profissionais de meio ambiente mais competentes e seus órgãos e instituições também adotem sistemas de gestão ambiental. No entanto, há um detalhe com que os cursos de GA parecem não se preocupar. Esse detalhe é a manutenção da integridade da vida animal, incluindo também a abolição da crueldade contra os bichos. E é importante que comecemos a relevá-la dentro do âmbito gestor ambiental.

A primeira relação inseparável entre GA e a libertação animal está na sustentabilidade. Ao longo dos últimos 300 anos, a pecuária recrudesceu como causa de muitíssimos danos ambientais, incluindo poluição, desmatamento desenfreado - vide abertura de pastos e vasta plantação de monoculturas que servem forragem animal - e emissão de gases-estufa e, mesmo com medidas como "boi orgânico" ou "boi verde", continua tendo numerosos e imensos impactos nos ecossistemas. Sabe-se que um único boi, até atingir cerca de 500 quilos, terá consumido até seu encarceramento derradeiro e execução uma média de um hectare inteiro de pasto. O vegetarianismo e veganismo, como medidas tomadas por consciência ética e respeito imparcial à vida dos animais, também têm benefícios ambientais, na diminuição dessas consequências desastrosas paralelamente à poupança da vida dos bichos. É certo que haveria desemprego com a abolição da pecuária, mas notemos que essa abolição jamais será abrupta como a falência de uma empresa e sua reabsorção no mercado de trabalho será alvo de cooperação entre os gestores, fazendeiros, os próprios empresários de agronegócio, desde que adotem mercados alternativos, como o de substitutos 100% vegetais de carne e leite, e outros ramos profissionais que mitiguem as conseqüências da lenta extinção de empregos pecuários.

Outro detalhe é que sabe bem um estudante de GA que a lei respalda o bem-estar do animal, seja ele doméstico, rural ou silvestre, como parte de um meio ambiente sadio. Tem destaque o Artigo 225 da Constituição Federal, parágrafo 1º, inciso VII, que veda práticas que submetam animais não-humanos à crueldade, e a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), Artigo 32, que pune com o rigor da lei maus tratos contra os bichos, sem falar de leis mais localizadas, como a Lei 4.685/2007, que pune crueldade contra eles no Rio de Janeiro-Capital. As duas primeiras leis contra maus tratos estão misturadas com o universo de legislação ambiental escancarado pela Carta Magna Brasileira e a LCA, o que implica que, ao menos legalmente, há ligações essenciais entre a harmonia ambiental e o bem-estar animal. Uma hipótese minha do que essas ligações se tratam na prática é que o respeito aos animais não-humanos está inserido: a) na dignidade social, uma das pontas do triângulo que orienta o gestor ambiental - além do desenvolvimento econômico e da preservação ambiental -, uma vez que não é possível uma população socialmente digna sem que seus companheiros não-humanos façam parte de uma relação social adequada e sejam tratados com dignidade, respeito e zelo; b) na qualidade ambiental urbana, uma vez que precisamos zelar para que o problema do abandono de cães e gatos seja minimizado (nada de extermínio nazístico de animais de rua, por favor!) e assim não haja aquela propagação de doenças típica de cidades ambientalmente desarrumadas; c) na educação ambiental, uma vez que a ignorância que leva um carroceiro a agredir seu cavalo é a mesma que o faz desmatar bosques e capturar animais silvestres para vender, visto que ele não sabe lidar com a natureza viva (animal e vegetal) com consciência; d) no freio de atitudes ambientalmente irresponsáveis de empresas de agronegócio, uma vez que muitas empresas que superexploram a pecuária também desmatam freneticamente para nutrir os gados explorados. Ainda que essa ligação não pareça tão evidente assim no cotidiano vivido pelo pretendente a gestor ambiental, este ficará incumbido de fiscalizar o tratamento dos bichos e também de ajudar a parar a maldade humana que inferniza o Reino Animal.

Algo que lamento acerca da atitude do curso e da profissão é sua visão atual ainda estagnada sobre os direitos dos animais, apesar de todas aquelas ligações entre meio ambiente e respeito imparcial aos animais não-humanos. O setor (e disciplina acadêmica) de gestão de recursos naturais ainda trata a fauna como uma fonte de recursos para o homem, deixando a entender que a preocupação padrão de um gestor no que tange ao tratamento reservado ao Reino Animal não-humano é no máximo de promover bem-estarismo aos bichos rurais explorados ou cuidar do monitoramento, triagem e proteção dos animais silvestres, ficando assim mantida a permissão para a exploração quase livre - uma vez que o bem-estarismo não permitiria crueldades extremas - dos animais vítimas do mundo rural.

Dada essa visão estagnada, fica a falta de estímulo para que o profissional em gestão ambiental inclua no seu amor à profissão o amor imparcial aos animais não-humanos, à fauna universal, e também fica exposta uma lacuna ética. Do mesmo jeito que o gestor ambiental é apaixonado pela natureza íntegra e preservada, independente de qual seja o ecossistema, desde a vegetação semi-árida natural à floresta tropical, ele deveria também zelar pelos animais sem acepção (excetuando a erradicação de parasitas que são nocivos aos animais domesticados e aos humanos). E, da mesma forma que é um dever ético que o gestor não apóie atos de exclusão humana ainda que fosse para recomposição florestal, ele deveria ter o também dever ético de repudiar a exploração animal, ainda mais aquela que invariavelmente polui e devasta o meio ambiente ao redor.

Fica minha recomendação aos professores e alunos dos cursos de Gestão Ambiental e os que já se formaram: procurem dar mais atenção à problemática da exploração e matança dos animais não-humanos, uma vez que está dito que a relação homem-bicho também é parte integrante do panorama ambiental. Uma sugestão que pega desprevenido os próprios gestores ou pretendentes: comecem consigo mesmos os esforços de preservação ambiental, deixando de consumir alimentos e produtos vindos de bichos mortos ou escravizados. E não adianta dar a desculpa da "cultura de consumo de animais", porque a própria cultura é algo que o gestor ambiental precisa obturar e ajustar para que a sustentabilidade seja alcançada. Do mesmo jeito que vocês ajudariam a melhorar os parâmetros culturais de uma comunidade tradicional que estivesse esgotando as árvores próximas para fazerem esculturas de madeira, podem muito bem ajustar os de sua própria sociedade. Começando por vocês mesmos.