Antônio Padilha de Carvalho

                           A sobrevivência do ser humano neste planeta depende da água. Em muitos países o gerenciamento dos recursos hídricos tem sido objeto de uma política de estado altamente valorizada. Tudo isso a demonstrar que a dependência nas forças do mercado, não promoverá sozinha resultados satisfatórios, e que será sempre necessária alguma forma de intervenção por parte dos governos, a fim de implementar uma política de proteção e valorização desses recursos.

              Há que salientar ainda que a água passa por um ciclo hidrológico complexo, envolvendo chuva, absorção, escoamento superficial e evapo-transpiração, que torna as atividades ligadas aos recursos hídricos altamente interdependentes.

              Acontece porém que os governos nunca tratam os recursos hídricos de maneira abrangente, fragmentando as decisões referentes ao assunto, posto que fornecimento de água para a população, energia elétrica, irrigação e transporte, são tratados por órgãos totalmente diversos, sendo assim também as decisões, fragmentadas e diversas. Não existe uma decisão única com relação ao uso da água, fazendo surgir problemas de coordenação e decisão a respeito de assunto tão importante.

              Nessas decisões de estado, dificilmente acontece a participação dos usuários, estando eles afastados do planejamento e gerenciamento dos sistemas de tais recursos, fazendo nascer projetos não confiáveis, viciados, que acabam por não atender os verdadeiros interesses dos consumidores.

              A nível mundial, a agricultura é, de longe, o maior usuário de água 69%, em comparação aos 23% na indústria e aos 8% no uso doméstico. Nos países em desenvolvimento, no entanto, o percentual utilizado na agricultura é até mesmo mais alto, 80%.

              A chuva é a fonte primária de água doce, sendo certo que sua vazão anual é de 50 vezes maior que o estoque normal mantido em rios, lagos e reservatórios.

              O controle da poluição e a qualidade da água que é oferecida à população tem deixado muito a desejar em vários países em desenvolvimento. O consumo de água poluída é a principal causa de muitos problemas de saúde, levando a óbito milhões de pessoas anualmente.

              Além dos danos econômicos e ambientais oriundos da poluição da água, é de registrar o sofrimento das pessoas. A pobreza é agravada substancialmente pelo não tratamento dos esgotos e do uso inadequado de águas poluídas nas fontes alimentícias, trazendo doenças e limitando o acesso à água limpa e saudável.

              Essas doenças debilitam as pessoas, com conseqüências negativas, diminuindo a sua  produtividade, em especial nas áreas rurais. O lançamento de efluentes industriais não tratados, a lixiviação de produtos químicos agrícolas e as práticas inadequadas de uso da terra em agricultura, florestamento e mineração, causam grande degradação à terra e aos recursos hídricos.

              Novos tipos de poluidores têm surgido, representados por produtos químicos sintéticos não degradáveis, que são invisíveis, tóxicos e persistentes, de difícil tratamento e de alto custo.

              Mesmo existindo mais de 300 acordos entre países, buscando solucionar assuntos específicos sobre recursos hídricos, e mais de 2.000 acordos tratarem de provisões de água, é muito raro o gerenciamento coordenado de bacias fluviais internacionais, resultando perdas econômicas, degradação ambiental e conflitos entre países.

              Esse, infelizmente, é o saldo negativo da falta de uma política séria de gerenciamento dos recursos naturais colocados à nossa disposição.

                

Antônio Padilha de Carvalho, geógrafo, mestrando em Hidrologia/UFMT, Presidente do CLUBE GEO- Instituto de Defesa do Meio Ambiente.