Funcionalismo Holandês

 Orlando Rocha Machado (UFC)

 Segundo o funcionalismo holandês, um modelo de gramática funcional deve permitir uma visão mais adequada da forma como as línguas naturais se organizam. Por esse motivo, deve tal modelo apresentar três tipos de adequação.

Adequação tipológica, pragmática e psicológica. Essas adequações são essenciais para a eficácia da investigação linguística das línguas naturais. Segundo Márcia Nogueira (2013), a adequação tipológica diz respeito à necessidade de que uma teoria se volte, de forma sistêmica, ou seja, interligada, para as similaridades e diferenças existentes entre as línguas naturais, integrando estudos relativos à forma, ao sentido e ao uso. Enquanto a adequação pragmática de uma teoria relaciona-se à integração da gramática (descrição e explanação das expressões linguísticas) numa teoria pragmática mais ampla da interação verbal. Já a adequação psicológica, reside na capacidade de relacionar  os comportamentos linguísticos com os modelos psicológicos da competência linguística; em outras palavras, a gramática deve ser vista como uma construção composta de um modelo de produção, um modelo de interpretação e de um estoque de elementos e princípios usados nos modelos de produção e de interpretação.

 O modelo da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE) é visto como uma expansão do modelo da Gramática Funcional (SIMON DIK).

De acordo com Nogueira (2013), essa expansão é justificada por algumas razões. Inicialmente, há muitos  fenômenos linguísticos que só podem ser explicados em termos de unidades maiores que a frase em si mesma, tais como formas verbais narrativas, partículas discursivas, cadeias anafóricas etc. Por outro lado, há muitas outras expressões linguísticas que são menores do que a frase e, no entanto, funcionam como enunciados completos e independentes do discurso.

 O modelo dessa gramática integra duas abordagens: o da estratificação descendente e a modular. Segundo Nogueira (2013), ao contrário do modelo da Gramática Funcional proposta por Dik, que é um modelo ascendente (bottom-up), em que a descrição da expressão linguística vai das unidades menores às maiores, a Gramática Discursivo-Funcional, como modelo da produção do discurso, exibe uma estratificação descendente (top-down). Em outras palavras, entende-se, nesta teoria, que a geração de estruturas subjacentes e, em particular, as interfaces entre os vários níveis, pode ser descrita em termos das decisões comunicativas que um falante toma quando constrói um enunciado.

No modelo da GDF, vale salientar o fato de que, além do componente gramatical, prevê-se o conceitual, contextual e de saída, importantes na interação linguística. Devido às operações de formulação, inicialmente, no nível Interpessoal (Pragmático) e Representacional (Semântico), tem-se em seguida a codificação nos níveis Morfossintático e Fonológico. Portanto, na GDF os níveis do componente gramatical têm ordenação descendente.

Um guarda de trânsito pára um condutor por excesso de velocidade:

- Posso ver a sua carteira de habilitação?

- Não tenho. Foi suspensa na última vez em que fui processado!

- Muito bem! Então posso ver o registro de propriedade do veículo?

- O carro não é meu... Eu roubei!

- O carro é roubado?

- Sim, é roubado! Mas espere! Acho que vi o registro de propriedade no porta-luvas quando fui guardar o meu 38...

- O quê? Tem uma arma no porta-luvas?

- Sim... Eu guardei lá depois de matar a dona do carro e jogar o corpo dela no porta-malas!

- Não acredito! Tem um corpo no porta-malas?

- Sim senhor...

Ao ouvir isto, o agente chama imediatamente o seu superior, que começa o interrogatório:

- Senhor, posso ver a sua carteira de habilitação?

- Claro, aqui está ela!

Apreensivo, o policial examina o documento e vê que tudo está em ordem!

- A quem pertence este veículo? - prossegue ele.

- É meu, seu guarda. Aqui está o registro de propriedade - diz ele entregando o outro documento ao policial, que checa e constata que realmente o veículo pertence ao condutor.

- O senhor faria o favor de abrir lentamente o seu porta-luvas?

- Sim senhor - diz o sujeito, tranqüilamente, mostrando que o porta-luvas estava vazio.

- Agora quero ver o porta-malas - diz o oficial, confuso.

O condutor sai do carro e abre o porta-malas, mostrando que lá não havia corpo algum. Perplexo, o policial exclama:

- Não compreendo... O meu agente me disse que você não tinha carteira de habilitação, o seu carro era roubado, tinha uma arma no porta-luvas e um corpo no porta-malas...

- Ah, claro. E aposto que o mentiroso também lhe disse que eu andava em excesso de velocidade, não é?

Disponível em: < http://www.portaldohumor.com.br/cont/piadas/185/A-Blitz-do-mentiroso.html> . Acesso em: 13/12/2012.

Análise das orações em destaque como Predicação ou Proposição com base na natureza de seu conteúdo. 


a) Apreensivo, o policial examina o documento e vê que tudo está em ordem!

Predicação: a oração designa um estado de coisa; situação: posição.
b) Acho que vi o registro de propriedade no porta-luvas quando fui guardar o meu 38...

Predicação, pois do ponto de vista semântico a oração designa um estado de coisa no qual se evidencia  eventos; ações:  realizações.
c) ...diz o sujeito, tranquilamente, mostrando que o porta-luvas estava vazio.

Predicação em que a oração designa um estado de coisa; situação:  estado.
d) E aposto que o mentiroso também lhe disse que eu andava em excesso de velocidade, não é?

Proposição: a oração designa um fato possível.


e) E aposto que o mentiroso também lhe disse que eu andava em excesso de velocidade, não é?

Predicação: a oração designa um estado de coisa; um evento, uma ação, mais precisamente uma atividade.

Identificação e comentário do emprego de um constituinte pragmático extra-oracional no diálogo da piada.

Não é? Nesta frase, em negrito, retirada do diálogo da piada, temos um constituinte pragmático extraoracional denominado marcador ilocucionário, ou seja, um marcador discursivo que corresponde a uma proposição interrogativa.

 Neste pequeno trecho do diálogo:

- Posso ver a sua carteira de habilitação? (M1, A1)

- Não tenho.  (A1)Foi suspensa na última vez em que fui processado! (A2) (M2)

- Muito bem! (A3)Então posso ver o registro de propriedade do veículo?(A4) (M3)

- O carro não é meu... (A4)Eu roubei!(A5) (M4)

Existem 4 Moves e 5 Atos Discursivos.