Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

UNIJUÍ

 

 

 

 

ASPECTOS SOCIAIS DO SINTOMA

 

 

         Acadêmica: Magali Eckert Hentges

                 

                                                                  

 Santa Rosa

A Função Paterna

A partir da leitura do texto “A Função Paterna” de Charles Melman, procuro trabalhar a composição da sociedade familiar com a coordenação de uma chefia masculina, também chamada de pai.

Neste sentido, inicio meu pensamento pela constituição familiar, onde é o pai que, através da linguagem, castra, frustra e priva o menino e a menina de ter ou ser o falo. A criança insere-se assim no campo do desejo, desejo este, orientado por esta falta constitutiva, pois a criança vai em busca do falo na mãe (a mãe é o primeiro amor, tanto do menino, quanto da menina), mas este falo não está lá. Então, procura encontrá-lo no pai, o qual também não o possuí, é neste momento em que o pai frustra mais uma vez, seu filho(a), pois ele percebe a ausência de seu significante (falo) desejado. Sendo assim, o pai frustra, priva a criança de ter acesso ao falo e, castra, fazendo com que ela busque a satisfação de seu desejo em outra pessoa.

Na verdade, o desejo sempre é orientado pela falta, pois ele é produzido para “fechar o buraco” que ali se encontra. É pela busca de satisfação deste desejo, de gozo, que as pessoas se reúnem em grupos, formando uma sociedade.

A sociedade é criada por membros com interesses em comum. Tradicionalmente, é legado ao pai, a chefia simbólica da família.  No passado, a mulher abria mão do seu sobrenome, no matrimônio, passando a se identificar pelo sobrenome da família do cônjuge. Também na educação, era função do pai estabelecer e cobrar regras da/na família, como por exemplo, quando um filho desrespeitasse qualquer membro da mesma, a mãe comunicava ao pai, para que este, depois do comunicado, realizasse algum tipo de repreensão, justificando assim, a submissão da mãe ao pai também, em outras palavras, a família era comandada (bem ou mal) pela figura paterna.

A idealização do homem na antiga sociedade familiar era o pai, ou seja, os indivíduos pertencentes a este grupo, gozavam com a chefia que o pai representava, por isso que o menino deseja tanto ocupar o lugar dele, pois vê nele uma simbolização de potência, virilidade, assim como o respeito que os demais membros têm pelo mesmo. Em psicanálise, este “ocupar o lugar do pai”, representa o desejo do “assassinato do pai”, pois assim o menino ocupa o lugar do mesmo, mencionado anteriormente. No texto, esta função paterna é possuidora de uma ambivalência de amor e ódio, onde o pai é símbolo de potência, mas também de inveja sentida pelo filho.

Mas, com o passar dos tempos, com a modernização e com as diferentes necessidades exigidas pelos novos sistemas sociais; a mulher saiu do seu anonimato e da sua submissão, em busca do seu espaço. Investiu no seu potencial e, aos poucos, passou a questionar alguns conceitos, tais como: “eu também sou capaz, uma vez que possuo condições de realizar as mesmas coisas ou, ao menos compreender as questões resolvidas pelo cônjuge”. Elas foram em busca de seu emprego, de sua renda própria exigindo com isto, maior participação do esposo no lar, assim como a divisão das tarefas e auxílio na educação dos filhos. Com isto, os filhos passaram a ter um convívio equilibrado, tanto de mãe quanto de pai.

Esta mudança na vida da mulher trouxe sua libertação e sua valorização, mas ao mesmo tempo, acabou trazendo danos aos filhos, os quais passaram a ter dificuldades quanto à presença do pai simbólico. Este significante herdado do pai simbólico tem a função de estabelecer regras; regras sexuais (estabelecimento da sexualidade) e regras sociais (por exemplo, as leis familiares); cabe ao filho obedecê-las ou não.

A delinqüência, possivelmente, também corresponde à um declínio da função paterna, que lança todos na procura de improváveis atos simbólicos, como por exemplo, a toxicomania (como sintoma social, voltado ao alto índice de consumismo do ser humano) no reino contemporâneo dos objetos, parece ser um meio de continuar gozando de uma falta, segundo Melman.

Para finalizar, posso concluir que, em todos os tempos, com várias transformações sempre existiram e existirão ganhos e perdas, no entanto, para evoluir estas mudanças são fundamentais.

 

Referências Bibliográficas:

CALLIGARIS, Contardo. A Psicanálise e o Sujeito Colonial. In SOUZA, Edson Luiz André (org.). Psicanálise e Colonização: Leituras do Sintoma Social no Brasil. Artes e Ofícios Editora, Porto Alegre, 1999.

__ Sociedade e Indivíduo. In.: Psicanálise e Sintoma Social. São Leopoldo: Editora Unisinos, 1993.

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização (1930[1929]). Rio de Janeiro: Imago, 1986.

__ Totem e Tabu (1913). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. XIII, 1974.