Há muitas maneiras de enfrentar uma dificuldade, mas poucas são tão simplistas e afetadas. Mudar o corte de cabelo, fazer dieta forçada ou penitência espiritual são algumas delas.

Quando estou vivenciando uma crise afetiva ou existencial, a primeira coisa que penso em fazer é um corte radical nos meus cabelos. Entre outras coisas, evito as tentações da mesa e me enfurno na cama embaixo de vários lençóis. Em outras ocasiões, como esta, por exemplo, eu me entrego às palavras e escrevo tudo que me vier a cabeça, numa voracidade e compulsão de uma pessoa bulímica.

Até hoje sempre me pergunto qual o significado dessas simbolizações. De quais aprendizagens estou fugindo? E por quê?

Será que a minha força, assim como a de Sansão, está nos cabelos? Quem sabe na gula desenfreada ou na insônia que me consome dia-a-dia? Mas e se for? Por que então me desarmo de todas essas fontes de energia justamente agindo ao contrário? Não há qualquer possibilidade dessa loucura ser real, não faz nenhum sentido, não tem nenhuma lógica que justifique atitudes tão imaturas e infantis.

Por trás dessas simbolizações se escondem os reais significados de cada uma das minhas inabilidades e frustrações. Tudo na vida tem um sentido de ser e de existir, nada é ou acontece por acaso. Precisamos aprender a “olhar” para dentro de nós e observarmos os gestos, comportamentos e atitudes que escolhemos como linguagens para expressar nossos sentimentos ao mundo.

O corte de cabelo com certeza simboliza algo muito importante sobre mim. Ele representa o desejo e ao mesmo tempo o medo de aceitar as mudanças. A falta de apetite é um sintoma de autopunição. E quanto ao sono exagerado, este revela a minha total ausência de recursos internos para enfrentar os desafios e dificuldades.

Nada escapa aos sentidos, tudo tem o seu significado. Não há nada que não faça sentido se olharmos dentro do seu contexto específico. O que acontece às vezes é que o melhor que nós sabemos fazer é encontrar mecanismos de fuga para não ter que construir aprendizagens.