Frustrações que podem advir do uso educativo das NTICs.

Gilberto Santos de Oliveira.

É notório que, no atual panorama global, a utilização das novas tecnologias da informação e comunicação (NTIC?s) atende às diversas necessidades dos mais diferenciados tipos de alunos. "Quanto mais mergulhamos na sociedade da informação, mais rápidas são as demandas por respostas instantâneas. As pessoas, principalmente as crianças e os jovens, não apreciam a demora, querem resultados imediatos." (MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2006, pg.20) E essa necessidade de aprendizagem rápida tem levado cada vez mais instituições de ensino a recorrer ao uso da NTIC?s como ferramenta pedagógica.
Hoje as NTIC?s são ferramentas imprescindíveis ao aprendizado e a impossibilidade de usá-las, por parte de alguns alunos, vem gerando no Brasil um novo tipo de exclusão, a exclusão digital. Quem sofre desse mal, vê-se completamente incapaz de reação, pois envolve questões econômicas e não apenas de mero interesse em aprender a utilizá-las. Hoje no Brasil um computador ainda é muito caro e, portanto, completamente inacessível para maioria dos alunos, isso sem contar o preço dos softwares e dos serviços digitais que também são elevados. Mas o governo brasileiro vem se preocupando com este problema e segundo Carvalho (2009, pg. 25): O conceito de inclusão digital apresentado pelo site do atual governo federal está associado aos conceitos de desenvolvimento social autossustentável e promoção da cidadania. "O conceito passa pelo fato de o cidadão não ser cobrado pelo serviço na hora que vai usá-lo, pois o acesso à informação deve ser um direito de todo cidadão brasileiro, como é o acesso aos serviços de saúde e de educação. O fato de se ter ou não dinheiro não pode ser um obstáculo".
As NTICs, tendo o computador e a internet como principais representantes, trouxeram à educação benefícios inquestionáveis, mas também advieram muitas frustrações quanto ao seu uso educativo. Uma delas seria a resistência por parte dos alunos e professores que segundo MORAN; MASETTO e BEHRENS (2006, pg.54): "Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece um modo de não dar aula, de ficar "brincando" de aula ". Outra frustração com o uso educativo da internet seria segundo MORAN; MASETTO e BEHRENS (2006, pg.54): "Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que foi combinado, deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente." Outra frustração poderia ser o elevado custo financeiro para a instalação de computadores e redes digitais nas escolas, uma vez que o histórico econômico do país, maculado por corrupção financeira e falta de recursos para a educação, não favorece essa concretização. Mas o governo brasileiro vem se preocupando com esse problema, é o que vemos no que diz CARVALHO (1999, pg. 25): "A visão tecnicista, instrumental da comunicação também é observada na escola, espaço considerado privilegiado para a inclusão digital, ao lado dos telecentros públicos e dos programas de barateamento das tecnologias para o consumo doméstico. Televisores, aparelhos de DVD e rádio, computadores e acesso à internet têm sido disponibilizados com velocidade crescente nas escolas públicas de todo o país, muitas vezes atendendo aos interesses da indústria da informática.". Num país onde falta infraestrutura básica nas escolas, seria utópico haver recursos para o emprego das NITC?s. A maioria das escolas públicas brasileiras carece de recursos básicos, e isto sem contar a má remuneração dos nossos professores da educação fundamental, seria até absurdo, um país que não tem recursos para remunerar seus professores possuir escolas completamente equipadas com computadores de última geração.
Outra frustração seria que a Inserção das NTIC?s como ferramenta educativa na Sociedade implica criar um sistema em que as mudanças ocorrem a velocidades quase impossíveis de se acompanhar, interferindo nas relações sociais, profissionais e econômicas. Segundo Lévy (1999, pg.157) "Pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no começo de seu percurso profissional serão obsoletas no fim de sua carreira. A segunda constatação, fortemente ligada à primeira, concerne à nova natureza do trabalho, na qual a parte de transação de conhecimentos não para de crescer. Trabalhar equivale cada vez mais a aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos.".
Outra frustração provém de parte da comunidade docente que acredita na possibilidade do computador substituí-los nas salas de aula. Mas trata-se de uma visão equivocada, pois segundo Lévy (1999, pg. 171) "A partir daí, a principal função do professor não pode mais ser uma difusão dos conhecimentos, que agora é feita de forma mais eficaz por outros meios. Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento.". Então segundo o que diz Lévy o professor não seria substituído pelas NTIC?s, teria apenas que se adaptar às novas formar de exercer sua profissão.
Outra frustração seria o fato da criança entrar em contato na escola apenas com máquinas que não tem a menor possibilidade de demonstrar emoções humanas, o que poderia ocasionar a formação de uma geração de indivíduos com problemas psicológicos ou com dificuldades de relacionamento o que vem de encontro ao que diz Lévy (1999, pg.162): "Mas, ouvimos algumas vezes dizer, algumas pessoas permanecem horas "diante de suas telas", isolando-se assim dos outros. Os excessos certamente não devem ser encorajados".
Portanto uma forma de diminuir as frustrações com o uso educativo das NTIC?s estaria em não dar credibilidade à visão mítica de que o computador estaria gradativamente substituindo os professores. As NTIC?s surgem para atender ao que diz Lévy (1999, pg.169): "Não será possível aumentar o número de professores proporcionalmente à demanda de formação que é, em todos os países do mundo, cada vez maior e mais diversa. A questão do custo do ensino se coloca, sobretudo, nos países pobres. Será necessário, portanto, buscar encontrar soluções que utilizem técnicas capazes de ampliar o esforço pedagógico dos professores e dos formadores." Desta forma é imprescindível que a comunidade docente entenda que o importante é a reciclagem contínua de sua formação pedagógica e a adaptação às novas formas de ensinar. Outra maneira estaria nas políticas públicas que, mesmo insatisfatoriamente, estão investindo na diminuição da exclusão digital, no acesso as NTIC?s, no barateamento de computadores, softwares e serviços digitais, no incentivo ao software livre e na formação e atualização de professores.


Referências Bibliográficas:

MORAN, José Manuel; MASETO, Marcos Tarciso; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 10 ed. Campinas, SP: Papirus, 2006.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999. Título Original: Cyberculture.

MORAN, José Manuel. Internet no Ensino. Revista Eletrônica Comunicação & Educação - Vol. 5, Nº 14, 1999. Acesso em 30-07-2011:
<http://revcom.portcom.intercom.org.br/index.php/Comedu/article/view/4083/3833>

APARICI, Roberto. Ensino, Multimídia e Globalização. Revista Eletrônica Comunicação & Educação, v. 5, nº 14, 1999. Acesso em 30-07-2011:
<http://revcom.portcom.intercom.org.br/index.php/Comedu/article/view/4416/4138>

CARVALHO, Olívia Bandeira de Melo. Os "incluídos digitais" são "incluídos sociais"? Estado, mercado e a inserção dos indivíduos na sociedade da informação. Revista eletrônica Liinc em Revista, v.5, n.1, 2009, p. 19- 31. Acessado em 29-07-2011:
<http://revista.ibict.br/liinc/index.php/liinc/article/viewFile/294/184>