Fratura Exposta

Neri P. Carneiro

Conta a história que está história se deu numa cidade vizinha, num período que a História chama de tempo de chumbo.

O chumbo aqui não se refere ao minério plúmbeo, mas ao governo exercido pelos militares, especialistas em armas e artimanhas acrescentavam peso ao corpo de incontáveis brasileiros que “desaparecidos”.

Bem esta não é uma história de História. Minhas histórias não têm compromisso com a História, mas com a coleta de histórias  contadas sobre os grandes homens de várias histórias - não que os pequenos homens e mulheres não façam história...

Mas deixemos para lá os problemas conceituais e vamos à nosso caso.

Então comecemos assim, está história que aconteceu com um vereador duma cidade vizinha:

Dizia-se que os militares exigiam mais escolarização. Por isso inventaram o MOBRAL, lembra? No caso os vereadores  cidade vizinha daqui aprovaram uma lei, e o prefeito sancionou. A lei dizia que todo prefeito ou vereador deveria voltar aos bancos escolares. Eles queriam políticos escolados!

Não deu certo! A maioria deles não tinha freqüentado escola! Solução: fizeram outra lei! todos os prefeitos e vereadores deveriam estudar! Uma tal de educação de adultos.

Lá pelas tantas o Salustiano, vereador de terceiro mandato, cabelos brancos, decidiu a dar exemplo: Matriculou-se!

E começou a estudar!

Até que aprendia bem!

Tava já na quarto ano!

A professora - sempre são professoras que estão ilustrando as histórias e as mentes... A professora marcou uma prova.

O Salustiano estudou, se preparou, e entrou na sala para a prova.

Era prova sobre os conhecimentos sobre o corpo humano. E não era na base do xizinho: tinha que responder mesmo. A questão em questão era sobre o que se pode saber sobre situações de emergência, sobre como cuidar de uma pessoa com uma fratura. Na verdade a questão estava assim formulada:

“O que fazer quando se tem uma fratura exposta?”

O Salustiano não entendeu a pergunta e perguntou o que era “fratura exposta”

- “É quando um osso quebrado fica exposto, aparecendo pelo lado de fora da carne”, explicou a professora.

E o Salustiano tascou a resposta:

“A melhor coisa que se pode fazer com um osso exposto é cortá-lo em pedaços bem pequenos, colocar numa panela e cozinhar. Alguns chamam isso de sopa de osso, outros chamam de caldo. Então com o osso da fratura exposta deve-se fazer um caldinho de osso. Fica muito saboroso!”