Fotonovela ou fotoromanzi: melodrama de papel

Importadas da Itália, império das revistas sentimentais, inspiração do empresário Cino del Duca, inicialmente publicavam, conforme HABERT, " resumos de filmes ao lado de fotos ilustrativas. Pouco depois começam a aparecer os "cine-romances" (a redução do cinema à linguagem dos quadrinhos) o enredo do filme narrado através da justaposição das fotos (cenas principais) e do texto. Desta maneira anunciavam os próximos lançamentos ou prolongavam as sensações dos filmes".

Dos anos 1960 até meados de 1980, a fotonovela teve o seu apogeu de publicação no Brasil. Estava inserida nas revistas classificadas como imprensa sentimental que segundo Edgard Morin, "permanece em parte no nível melodramático projetivo do cinema antigo romance popular, enquanto a imprensa feminina bovarysta (Elle, Marie-Claire) está orientada não só para o imaginário realista, mas para a práxis feminina (conselhos de beleza, de higiene, de moda, etc). Os conselhos práticos principalmente o correio sentimental) são pequenos burgueses: o interesse do lar, das crianças ou dos pais sobrepuja o amor e os conselhos domésticos.

A emoção de abrir um novo folhetim remete ao classificado reino da liberdade. De devaneio ou evasão que LIPOVESTSKY, cita "entre os sociológios como Lazarsfeld ou Berton e mais ainda entre os filósofos como Marcuse ou Debord, a cultura de evasão tornou-se um novo ópio do povo encarregado de fazer esquecer a miséria e a monotonia da vida cotidiana. Em resposta à alienação generalizada, o imaginário industrial atordoante e recreativo". A viagem no universo da fantasia sentimental começa no ritual de estar bem acomodado, deitado ou confortavelmente instalado no quartinho das revistas e embevecer com a capas sedutoras e mágicas, com modelos sorridentes e com cenas do cotidiano que BARTHES, in Mensagem Fotográfica, sentencia: Ás vezes também a palavra pode até contradizer a imagem de maneira a produzir uma conotação compensatória; uma análise de Gerbner (The Social Anatomy of the Romance Confession Cove-Girl) mostrou que em capas de revistas sentimentais a mensagem verbal das manchetes da capa (de conteúdo sombrio e angustiante) acompanhava sempre a imagem de uma cove-girl radiosa; as duas mensagens entram aqui em compromisso; a conotação tem função reguladora, preserva o jogo irracional da projeção-identificação, conforme Roland Barthes.

No interior, na década de 1960, a fotonovela criava um imaginário de consumo fácil e de caráter evasivo, onde predominavam os aspectos mágicos.Além da hipnose, Habert alerta que "a fotonovela e as revistas têm a função de transmitir padrões urbanos e integrar seus leitores no novo mundo, no mundo do consumo.Elas recriam um imaginário urbano, sem necessariamente criar um próprio". Era o que o menino precisava para voar do mundo excessivamente cômodo da infância para as perspectivas de vida além das montanhas, da grota onde visitava a família paterna. O ambiente melancólico, solitário e sombrio da zona rural ampliava a sensação de estar só no mundo, vasto mundo que as fotonovelas traziam em referência de vida social e emotiva além das montanhas da grota, onde estava localizado o "Sítio dos Pintos". Existia um mundo além do horizonte habitado por artistas, como Franco Andrei, Michela Roc, Jean Mary Carletto, Franco Dani, Rossella D'Aquino,Raimondo Magni,Rosalba Grottesi, Paola Pitti, Maria Giovannini, Germano Longo, Olga Solibelli, Sandro Moretti, Milena Vanni e Luciano Francioli, Franco Angeli e Gabriela Desi Farinon, atores italianos que a cada semana se revesavam nas histórias de amores impossíveis, intrigas conflitos e finais sempre felizes. Para Habert "o tema maior é o amor. E os aspectos existenciais são diluídos. A insistência no cotidiano, principalmente através da linguagem fotográfica, desenvolve um mundo semelhante ao que existe, mas artificial".

O artigo completo sobre as fotonovelas tem quinze páginas e para ler na íntegra escreva para Robson Terra ([email protected])