Resumo

 

Este artigo pretende mostrar como a fotografia é uma importante forma, na contemporaneidade, de registrar e posteriormente relembrar fatos vividos, visto que a sociedade atual passa por um momento de instantaneidade e da novidade, com isso surgiu-se a necessidade de se registrar acontecimentos para guardá-los como memória.

 

Palavras-chave

 

Fotografia – contemporaneidade – realidade – memória – documento – reconstrução do passado -

 

Fotografia como meio, na contemporaneidade, de registrar acontecimentos vividos e tê-la como memória.

 

Desde o seu surgimento, com Niepce e Daguerre, as fotografias foram utilizadas como forma de registrar os acontecimentos importantes da vida.

 

Kossoy ( 1989 ) , afirma que:

“Das excursões daguerrianas às primeiras tentativas de conquista do espaço sideral, por onde quer que o homem se tem aventurado nos últimos cento e cinqüenta anos, a câmara o tem acompanhado, comprovando sua trajetória, suas realizações. Seja como meio de recordação e documentação da vida familiar, seja como meio de informação e divulgação dos fatos, seja como forma de expressão artística, ou mesmo enquanto instrumento de pesquisa cientifica, a fotografia tem feito parte indissociável da experiência humana”. (p. 100)

 

Com isso, durante todo o século XX, a fotografia se tornou popular à medida que houve a possibilidade de digitalizar a imagem tornando o processo que antes era demorado, com longas poses e de delongada revelação, por um processo digital de rápido e fácil manuseio.

 

Olga ( 2005 ), acrescenta que:

“Desde os anos trinta e quarenta, com a ‘democratização’ do registro fotográfico (...) a vida dos grupos sociais e dos indivíduos passou a ser registrada muito mais pela imagem do que pelos livros de memórias, cartas ou diários, e a memória individual e familiar passou a ser construída tendo por base o suporte imagético”. ( 20)

 

A partir disso pode-se afirmar que o registro imagético tem se tornado constante na contemporaneidade, visto que a modernidade provocou inúmeras transformações na sociedade atual. Com a implantação do capitalismo informacional houve um continuo desenvolvimento das tecnologias e consequentemente dos meios de comunicação, isso fez com que informações e produtos pudessem circular globalmente.

 

Nessa sociedade contemporânea, com avançada tecnologia, violência e isolamento, o homem é alvo de um número cada vez maior do registro imagético, e tem preferido vivenciar uma realidade virtual a correr risco com relacionamentos desconhecidos. (SIMSOM,  2005: 20)

 

Esse capitalismo global gerou a noção de instantaneidade na sociedade, essa  que está sempre atualizada através dos meios de comunicação com novas informações, isso faz com que pareça que o tempo passa cada vez mais rápido. Kossoy acrescenta que somos “personagem de uma ‘civilização da imagem’ (...) alvos voluntários ou involuntários do bombardeio continuo de informações visuais de diferentes categorias emitidas pelos meios de comunicação”. (1989: 18)

 

Dessa forma surgiu-se a necessidade de se utilizar a imagem para registrar os acontecimentos da vida para que não se perca da memória. Olga acrescenta que “o registro imagético vem permeando cada vez mais a nossa cultura ocidental contemporânea e se transformando talvez no principal texto orientador de construção das memórias individuais e da memória coletiva dos grupos sociais.” (2005: 31)

 

A fotografia então se tornou uma forma de relembrar do passado, do acontecido, pois revelam fragmentos do que foi vivido e apresentam aquilo que queremos guardar da gente e que pensamos em mostrar para os outros. Vale ressaltar o que Kossoy afirma que “fotografia é memória, e com ela se confunde” (2005: 40). Ela serve, dessa maneira como suporte da memória, como um ponto de onde se sai para reconstruir a história que ela ajuda a contar.

 

O mesmo autor acrescenta a isso, que a foto pode ter múltiplas faces e realidade, a primeira para ele seria evidente que é o visível, a foto representa exatamente o que está contido nela e o segundo seria o enfim. ( 2005 : 40) Ele então se questiona o que a fotografia revelaria e discuti que ela fala do mundo físico, visível, traduz o aparente das coisas e das pessoas e diz também que ela revela um detalhe que se pretendeu mostrar. ( KOSSOY, 2005: 43) Com isso a foto traduz uma situação que realmente aconteceu.

 

Mirian (2005) acrescenta que, “ao se fixar instantes, garante-se a permanência de condições consideradas inesquecíveis” (38). Com isso, atualmente estamos sempre recorrendo a fotografias de nossas vidas para orientar a reconstrução dos acontecimentos ali retratados. ( OLGA, 2005: 20)

 

Kossoy (2005: 42) aborda também que “a fotografia funciona em nossas mentes como uma espécie de passado preservado, lembrança imutável de certo momento e situação, de certa luz, de determinado tema, absolutamente congelado contra a marcha do tempo”. E acrescenta que os homens guardam esses “inúmeros pedaços congelados do passado em forma de imagens” (KOSSOY, 2005: 43), para que possam com ele se recordar de trajetórias da vida.

 

A foto veio, dessa forma, revolucionar a memória, dando-lhe uma precisão e uma verdade visuais nunca antes atingida, visto que a memória funciona através dessas imagens fixas. ( LEITE, 2005: 34-35)

 

Com isso pode-se dizer, como afirma Kossoy (2005),  que “ a pessoa tem na imagem fotográfica o start de lembrança, recordação e o ponto de partida para narrar os fatos e emoções contidas naquela foto “. (43)

 

Kossoy (1989) acrescenta que “uma única imagem contém em si um inventário de informações acerca de um determinado momento passado, ela sintetiza no documento um fragmento real visível destacando-o do continuo da vida” ( 69).

 

Outro ponto a ser discutido é a analogia entre fotografia e realidade, essas para alguns estão diretamente relacionados a tal ponto que possa ser considerada um substituto imaginário do real, que pode ser transportado através do espaço e tempo. ( KOSSOY, 2005: 42)

 

Kossoy (1989) acrescenta que a informação visual da foto nunca é posta em duvida, ”sua fidedignidade é em geral aceita a priori, e isto decorre do privilegiado grau de credibilidade de que a fotografia sempre foi merecedora”. (69)

 

Vale ressaltar também que a fotografia possibilitou conhecer hábitos e costumes de antepassados, como afirma Olga (2005: 31):

“As imagens fotográficas têm exercido um papel significativo nesse processo de seleção e registro do que deve ser armazenado e se constituem num útil sistema de transmissão de memória para alguns grupos sociais”.

 

Essa, dessa forma, possibilitou ao homem conhecer outras realidades que até então só conhecia por meio de escritos, de forma verbal e por desenhos. Deu um inicio a uma outra forma de aprendizagem do real, visto que permitiu o acesso às informações de hábitos e fatos de outras civilizações. ( KOSSOY, 1989: 15)

 

Olga acrescenta também que a foto foi uma maneira encontrada, a partir do século XIX, para se comunicar com parentes distantes. (2005: 24)

 

A fotografia pode ser caracterizada também como conteúdo documental, essas retratam aspectos da vida passada de um determinado lugar sendo importante para os estudos históricos e para conhecer mais sobre a região, recuperando informações sobre as mesmas. (KOSSOY, 1989: 35) Ou seja, a foto constitui-se uma fonte de informação histórica. (KOSSOY, 1989, p. 17)

 

Kossoy (1989) acrescenta que a “invenção da fotografia propiciaria de outra parte a inusitada possibilidade de auto-conhecimento e recordação (...), de documentação e denuncia graças a sua natureza testemunhal” (16).

 

Dessa forma pode-se dizer que a foto é um testemunho visual de certa situação ou fato, ou seja, ela se oferece como registro do que o espelho vê, representa o que realmente aconteceu, como as pessoas nos vêem e como éramos naquele momento. (LEITE, 2005: 38)

 

Contrapondo-se a isso Barthes (1984) afirma que a partir do momento em que a pessoa se sente olhado por uma objetiva, “tudo muda: ponho-me a ‘posar’, fabrico-me instantaneamente em outro corpo, metamorfoseio-me antecipadamente em imagem” (22), ou seja, a pessoa se transforma para ser fotografada, sempre se transmite o bom e o feliz.

 

A isso Miriam (2005) acrescenta que a fotografia registra “unicamente instantes alegres de solidariedade, encobrindo os conflitos e as transgressões”. (37) Dessa maneira, retrata-se sempre a felicidade, o amor, a paz, ou seja, coisas boas, o que realmente as pessoas querem ver.

 

Vale ressaltar também que somos envolvidos afetivamente com o conteúdo fotográfico, elas mostram como eram nossos familiares e amigos, nos fazem lembrar de um passado numa fração de segundo e é por meio delas, então que construímos nossas trajetórias ao longo da vida. ( KOSSOY, 1989, p. 68)

 

A fotografia, desse modo, pode causar emoções como impressionar, revoltar, trazer lembranças, despertar alegrias, roubar palavras, indignar e até mesmo recuperar raros instantes de poesia e beleza dos homens. (JUNIOR., 2005: 71)

 

Mas também, como afirma Kossoy (1989), “ocorre que essas imagens pouco ou nada informam ou emocionam àqueles que nada sabem do conteúdo histórico particular em que tais documentos se originam” (98). Ou seja, ela tem significado para quem sabe de seu contexto ou viveu aquela cena.

 

Porém vale ressaltar que autores como Barthes (1984) acreditam que a foto não é um meio seguro de se registrar acontecimentos, visto que para ele, a fotografia tem o mesmo destino do papel, ou seja, é perecível. Acrescenta também que antigamente as sociedades tinham o monumento como forma de lembrança, mas com o surgimento da fotografia eles começaram a utilizá-la para esse destino, o que para ele essa pode ser um testemunho seguro, mas ao mesmo tempo é fugaz. (139)

 

Com tudo isso que foi discutido pode-se dizer que, como afirma Fatorelli (2005: 85),

“ao possibilitar o registro mecânico da imagem no interior do aparelho, o processo fotográfico criou uma nova linhagem de imagens que relacionam de modo inédito natureza e cultura, uma imagem conformada através de procedimentos técnico, mas igualmente natural, dependente dos sinais luminosos emitidos pelos objetos “.

 

Ou seja, a fotografia possibilitou registrar e armazenar experiências da vida, essas imagens-memória, pois “ela dá a noção precisa do microespaço e tempo representado, estimulando a mente à lembrança, à reconstituição, à imaginação”. (KOSSOY, 1989: 101-102)

 

Portanto, Kossoy (2005) ressalta que:

“Quando apreciamos determinadas fotografias nos vemos, quase sem perceber mergulhando no seu conteúdo e imaginando a trama dos fatos e as circunstâncias que envolveram o assunto ou a própria representação (o documento fotográfico) no contexto em que foi produzido: trata-se de um exercício mental de reconstituição quase que intuitivo”. (40)

 

A foto então, se constitui na principal fonte de reconstrução de épocas passadas, memórias antigas e até mesmo cenas recentes. (KOSSOY, 2005: 40)

 

Mas vale destacar que a foto mesmo sendo um meio para conhecer o passado ela somente, não reúne o conhecimento dele. Kossoy acrescenta que ela  pode ser usada como fonte historia mas ela só mostra um fragmento da realidade, então deve-se recorrer a outros meios para buscar entender o acontecido. (KOSSOY, 1989:72)

A fotografia também pode ser caracterizada como segunda realidade, ou seja de documento, sendo realidade fixa e imutável, mas que pode estar sujeita a inúmeras interpretações, como dita acima. (KOSSOY, 2005: 44) Visto que, para Miriam (2005: 34), “as fotografias serão vistas de maneira diferente, dependendo de quem olha”.

É importante dizer ainda, que as fotografias sobrevivem após até o desaparecimento físico dos seus referentes, o que permanece é um elo afetivo na memória à medida que seu momento registrado é único e não se repetirá jamais e mesmo que os personagens envelheçam ou morram, e os cenários desapareçam, a fotografia é a única que sobrevive. ( KOSSOY, 2005: 43)

Pode-se destacar, além disso, que como afirma Miriam (2005: 36), “ a atração dos retratos de família corresponde, pois a uma necessidade de identificação com sua imagem”.

Outro ponto que vale acrescentar é que, como afirma Kossoy (1989), a fotografia, “por outro lado, apesar de sua aparente credibilidade, nela também ocorrem omissões intensionais, acréscimos e manipulações de toda ordem”. (99)

Enfim, pode-se dizer que fotografia vem sofrendo mudanças, devido à evolução da tecnologia e a digitalização, perdendo seu caráter natural (original), visto que atualmente essa passa por um processo de manipulação e modificações, sendo difícil diferenciar o que é real e o que foi gerado.

 

 

 

 

 

 

 

Referencias bibliográficas

 

BARTHES, Roland. A Câmara Clara. 3º edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

FATORELLI, Antonio. Fotografia e modernidade. In: SAMAIN, Etienne (org). O Fotográfico. 2º edição. São Paulo: Senac, 2005.

JUNIOR, Antônio Ribeiro de Oliveira. O visível e o invisível: um fotógrafo e o Rio de Janeiro no século XX. In: SAMAIN, Etienne (org). O Fotográfico. 2º edição. São Paulo: Senac, 2005.

LEITE, Miriam Lifchitz Moreira. Retratos de família: imagem paradmatica no passado e no presente. In: SAMAIN, Etienne (org). O Fotográfico. 2º edição. São Paulo: Senac, 2005.

KOSSOY, Boris. Fotografia e História.  São Paulo: Ática, 1989.

KOSSOY, Boris. Fotografia e memória: reconstrução por meio da fotografia. In: SAMAIN, Etienne (org). O Fotográfico. 2º edição. São Paulo: Senac, 2005.

SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes von. Imagem e memória. In: SAMAIN, Etienne (org). O Fotográfico. 2º edição. São Paulo: Senac, 2005.