O dilema sempre esteve e estará presente nas discussões científicas sobre as reais funções do Professor nas salas de aula: O Professor deve comportar-se como mero agente de intermediação entre o aluno e o conhecimento técnico de determinada disciplina ou deve consistir em um dos agentes responsáveis por tornar os alunos cada vez mais capacitados em interagir com a sociedade, de modo a compreenderem seus deveres e obrigações, primando-se pela paz, respeito e preservação ambiental, tornando-os (nossas crianças, jovens e universitários) aptos a interpretarem e manifestarem-se acerca dos acontecimentos cotidianos desse mundo tão complexo, tornando-os capazes de transformar o meio em que estão inseridos rompendo com os paradigmas opressores que possam se instalar?

A educação é fundamental para a construção ampla e sólida da cidadania no ser humano. Tal pensamento constitui-se pacífico perante a sociedade. Então, por quê a educação não é vista com tanta importância pelo Estado (na prática)? Tal fato pode ser explicado e exemplificado, de modo sucinto, de acordo com alguns fatos da história da humanidade.

De acordo com os ensinamentos de Marilena Chauí (1986:17), nos séculos anteriores à ilustração, a divisão social romana é retomada, havendo a distinção entre o Povo "como instância jurídico-política, legisladora, soberana e legitimadora dos governos", "a parte mais útil da nação", e a Plebe "como dispersão de indivíduos desprovidos de cidadania, multidão anônima que espreita o poder e reivindica direitos táticos".

Nota-se que naqueles tempos era considerado cidadão aquele que detinha posses, educação e decência. A Plebe era totalmente excluída da sociedade.

Podemos também utilizar o Século das Luzes como exemplo. Miguel G. Arroyo (2007:48) tece importantes considerações:

"Somente quem for capaz do exercício livre da razão e da vontade esclarecida estaria apto a entrar no reino do humano, da liberdade, dos fins, dos valores e da política. Estes seriam uma minoria, a maioria continuaria no reino da ignorância, da irracionalidade, no reino natural das necessidades."

Nota-se, claramente, a notória distinção sócio-educacional da época: quem detinha o conhecimento, a razão, a lucidez proporcionada através da intelectualidade, possuía status sócio-político mais elevado do que a maioria, reprimida e ignorante.

Importante tornam-se as idéias de A. Emith (apud ARROYO, 2007:55):

"O que interessa é que o povo continue no seu lugar: "Logo que podem trabalhar, têm que arranjar qualquer trabalho, com o qual possam garantir a sua subsistência". A função da gente comum é cooperar para o progresso, trabalhando. Sua educação será apenas em função de que não sejam tão estúpidos que se deixem desencaminhar dessa função por qualquer oposição injustificada."

E Edgar Morin (2000:112) complementa tal pensamento ao tecer comentários sobre o futuro da democracia:

"Os cidadãos são expulsos do campo político, que é cada vez mais dominado pelos "expertos", e o domínio da "nova classe" impede de fato a democratização do conhecimento."

Como deve comportar-se o Educador em meio ao paradigma da educação atual (de sempre)?

É uma questão de iniciativa particular. O Educador tem a possibilidade de agir em prol da sociedade, utilizando-se como agente de transformação das pessoas, visando não ser apenas um intermediário entre determinado conteúdo e o aluno, mas sim tornar aquele conteúdo útil, técnica e socialmente.

Não adianta, porém, jogar esse enorme peso sobre os ombros dos Professores. A família, a sociedade e o Estado também possuem vital importância para o aflorar da cidadania e o combate à ignorância, violência e desrespeito entre as pessoas.
Falta de apoio técnico, ausência do Estado, famílias omissas... Os motivos podem formar uma extensa lista, mas a escolha ainda torna-se possível no cotidiano de cada um de nós.

Ex positis, verifica-se que esse cruel paradigma educacional não ocorre apenas em nossa Nação. É um modelo sócio-político que sempre se repetiu, em busca do Poder e conseqüentes vantagens econômicas, durante toda a história do homem.

Candidatos e mais candidatos surgem periodicamente com promessas de alteração desse paradigma cruel mas somente aproveitam-se da máquina pública, novas normas jurídicas são criadas diariamente por legisladores despreparados e acabam por não surtir os efeitos adequados, professores despreparados lançam-se ao mercado de trabalho em busca de remunerações e nada fazem para lapidar nossos brutos jovens, etc...

Que a honra, coragem e sabedoria de poucos consigam influenciar a maioria a tentar derrubar essa história de todos e de sempre.

Referências bibliográficas:

ARROYO, Miguel G. Educação e Exclusão da Cidadania. In BUFFA, Ester, et alli. Educação e Cidadania: que educa o cidadão? 13ª ed. Coleção Questões da Nossa Época. Volume 19. São Paulo: Cortez, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Conformismo e resistência. São Paulo: Brasiliense, 1986.

HERKENHOFF, João Baptista. Ética, Educação e Cidadania. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina E. F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 2000.