Formalismo: Princípios do Estruturalismo

Orlando Rocha Machado (UFC)

O princípio da oposição, segundo Paulo Mozânio (2012), articula-se com o princípio da funcionalidade. Ela decorre da oposição entre os diversos termos da língua.Vem do princípio saussureano de que a língua é forma, isto é, um feixe de relações. Daí o princípio geral de que as unidades existem como unidades da língua vez que nascem de um sistema de relações. Uma diferença mínima entre duas unidades duma língua denomina-se traços distintivos.

O princípio da sistematicidade refere-se ao fato de os mesmos traços distintivos serem comumente utilizados na língua mais de uma vez. Portanto a sistematicidade é também chamada recorrência ou recursividade. Em outras palavras, um certo número de traços distintivos, recorrentemente usados possibilita, conforme reconhece Coseriu “um número de unidades funcionais e superior ao dos próprios traços distintivos” (1979, p.74). Se os traços podem combinar-se diversamente, existe a possibilidade de haver mais unidades que traços distintivos.

O princípio da neutralização aparece mais claro no estruturalismo europeu e considera casos de suspensão das oposições, quer dizer de “neutralização” como o próprio nome sugere. Em fonologia, por exemplo, costuma aparecer em sílabas pretônicas, como em R/ê/cife, R/é/cife  e, num registro mais culto R/i/cife. A oposição entre /é/, /ê/ e /i/, que acontece nas tônicas, deixa de existir, ocorrendo neutralização.

Vejamos alguns exemplos desses princípios:

Temos no  PE: lav-á-sse-mos; PC: “imperfeito” e “subjuntivo”. Analogamente, as mudanças poderão ocorrer no tempo e modo, principalmente, no tempo, pelas substituições da desinência modo-temporal de lavávamos, -va, respectivamente, por –r e 0, nos planos de expressão e conteúdo das formas verbais, abaixo:


PE: lav-a-r-mos; PC: “futuro” e “subjuntivo”
PE: lav-a-0-mos; PC: “presente”, “pretérito perfeito” e ”indicativo” 

Paulo assiste TV todos os dias. Paulo ouve TV todos os dias.

A segunda substituição não é adequada. De  acordo com as substituições e devidas combinações ou não, pode-se concluir que nem toda substituição é possível. Na frase, há limitações devido a regras de combinação.

 As unidades: -ra,- re, -rão do futuro do presente são morfes, portanto formam uma classe, no caso, classe de morfes. Esta classe, com PE  -ra,- re e –rão e PC “futuro do presente” e “indicativo” forma o morfema. Às vezes, o morfema é constituído só de um morfe, como  –mos, cujo PC é “1ª. pessoa” e “plural”.

As formas verbais amamos, assumem valores fora de contexto, presente ou passado; não existe neutralização mas sincretismo.

Na oposição homem x mulher, há neutralização, pois “homem” pode ter um significado genérico, por exemplo, na frase: “O homem busca a felicidade”. Neste caso, o masculino não se opõe ao feminino e pode aplicar-se tanto a homem quanto mulher.

Notamos casos de redundância no plano da morfologia ao observar casos como a passagem de o fechado para o aberto em alguns plurais e femininos:


 Avô/avós; avô/avó. O avô é maravilhoso, a avó é maravilhosa, os avós são maravilhosos.

 Vejamos as frases abaixo:


 Orlando cursa Letras.
 Ele cursa Letras.
 Alguém cursa Letras.


Deduz-se, baseado nas frases acima, que pela recorrência, os pronomes do caso reto e indefinidos, como alguém e ninguém, são subtipos dos substantivos.

O traço de abertura é sistemático, porque, geralmente, é usado na Língua mais de uma vez, ou seja, aparece em muitas palavras em oposição, através, principalmente, das alternâncias vocálicas, como ocorre em sintaxe e morfologia na redundância, por exemplo, como em alguns plurais e femininos na passagem do o fechado para o aberto, através dos traços de altura da língua em médio – alto e médio – baixo. 

Planos de expressão (PE) associados a dois traços em planos de conteúdo (PC):

 PE: -mos; PC: “1ª. pessoa” e “plural”
 PE: -sse;  PC: “imperfeito” e “subjuntivo”
 PE: -va;    PC: “imperfeito” e “indicativo”

Radicais também podem sofrer alomorfia, como nos verbos ditos irregulares,usando PE e PC, por exemplo, no radical do verbo ser, os elementos s, ei, é (ex.: sou, eis, é) do PE têm o mesmo PC: “presente e indicativo”.