Formalismo - Introdução ao Gerativismo:Gramática Gerativa

Orlando Rocha Machado (UFC)

A gramática gerativa: um conceito diferente de gramática. Paulo Mozânio (2012) enfatiza,  os falantes têm ao seu dispor uma gramática internalizada: um sistema de regras que governa a distribuição de formas linguísticas. As sentenças consideradas legítimas são dadas como gramaticais, pois são geradas segundo a gramática de dada língua enquanto as não-legítimas são agramaticais. Nesta concepção de gramática, abandona-se a presunção prescritiva de boa parte das gramáticas normativas. Quem sabe decidir se uma sentença pertence ou não a dada língua é do falante nativo daquela língua,seja escolarizado ou não. Assim, não se deve associar os conceitos de certo e de errado, de natureza prescritiva, não se associam aos conceitos de gramaticalidade /agramaticalidade da Gramática Gerativa. E o que possibilita ao falante decidir, então, se uma sentença é gramatical ou possui o nome técnico de competência.

A gramática tradicional afirma que o sujeito o ser de que se afirma algo e que o predicado é o que se afirma do sujeito, comentando a circularidade da definição e demonstrando que a definição não se aplica a todas as orações do português.

A definição de sujeito e predicado em que o sujeito é o ser de que se afirma algo e, o predicado é o que se afirma do sujeito, há circularidade nesta definição. Temos que entender, primeiramente, a definição de um termo, o sujeito, para em seguida compreendermos um conceito de outro termo, o predicado. Incrível! Que a própria gramática tradicional se contradiga nesta definição de sujeito e predicado, ao propor regras de construções frasais do português cuja definição não é aplicada, por exemplo, em orações constituídas de verbos impessoais, como verificamos nas seguintes frases: há poucos alunos na sala de aula. “Haver” no sentido de existir; faz três dias das eleições. “Fazer” indicando tempo decorrido; choveu pouco este ano no sertão cearense. “Chover” expressando fenômeno atmosférico. Portanto, corroborando com o que diz  Paulo Mozânio Duarte (2012), que são as próprias gramáticas que nos dão esta ilusão de certo e de errado. A definição de sujeito e predicado é desmanchada com referência a não aplicabilidade em orações do português compostas por verbos impessoais.

O gerativismo se apoia em conceitos fundamentais,tais como:

 a ) Mente: A mente, para o gerativista,é a sede de uma série de faculdades humanas, como a da linguagem, por exemplo.

b) Racionalismo: uso da razão, dote característico do ser humano, para distinguir frases gramaticais ou agramaticais no funcionamento da língua, em interações sociais, por exemplo.

c) Aceitabilidade: O Gerativismo, com sua gramática, preceitua uma aceitabilidade, do ponto de vista linguístico, aceitar todas as sentenças geradas segundo a gramática de dada língua, gramaticais, e descartar as que formam frases agramaticais ou não-legítimas. Pode ser, porém, que algumas frases sejam gramaticais, porém não tenham aceitabilidade. Uma frase como “ O telefone se entristeceu” é gramatical, mas sua aceitabilidade é baixa.

Já diziam Ferdinand de Saussure e Coseriu, um bom estudo linguístico tem que ser sincrônico e não diacrônico, para se poder chegar a conclusões aceitáveis. Uma análise da sintaxe abordada em algumas gramáticas tradicionais de porte, infelizmente, contraria o pensamento destes ícones da Linguística, em vários aspectos, mas gostaria de enfocar o exemplo referente ao texto de Camões. Como é possível termos um estudo consistente da sintaxe do século XX, baseado num texto de Camões do início do século XVI, provavelmente. Isto é incoerente, é como parar no tempo, imaginar que a sintaxe da época de Camões se adequasse aos propósitos de estudo da sintaxe atual, desprezando a evolução da sintaxe durante quase cinco séculos, impulsionada com o advento da Linguística como ciência e,consequentemente, com o surgimento do Formalismo, com contribuições fundamentais para a evolução da sintaxe. 

Esta afirmação da Gramática normativa que sujeito e predicado são termos essenciais da oração, ou seja, a oração só existe se for constituída necessariamente por estes dois termos, e logo em seguida contraria esta norma, mencionando que o sujeito não existe, nas famosas orações sem sujeito, vou concordar com Carone (2001), que foi muito feliz em sua afirmação quando designa a oração sem sujeito como “oração não-oração”, é meio esquisito mas é o que se pode concluir, pois a construção foi mutilada em sua essência.

Como bem disse Carone (2001), percebe-se na afirmação outra contradição a respeito do sujeito: quando substantivo ou pronome, ele é dito termo essencial da oração, equiparando-se ao predicado. E quando ele assume forma oracional, classifica-se como oração subordinada substantiva subjetiva, ele é subordinado ao verbo, ou seja, desaparece a equiparação entre sujeito e predicado.

Poucas gramáticas falam da natureza do agente da passiva, se é complemento ou adjunto. Agente da passiva é adjunto, porque não é exigido pelo verbo. Assim, na frase: As provas foram feitas “pelos alunos”, se tirarmos “pelos alunos” a frase continua gramatical. Já, se gerasse uma frase agramatical com a retirada de “pelos alunos”, teríamos a ocorrência de um complemento, devido à exigência do mesmo pelo verbo.