Neurisângela Maurício dos Santos Miranda*

Resumo: Propõe-se, neste artigo, despertar para uma reflexão teórica e empiricamente fundamentada acerca do papel da família frente ao processo de formação do leitor e, simultaneamente, apresentar a contribuição dessa instituição, como coadjuvante da educação escolar, no ensino da língua materna e na construção da competência linguística. Considerando a potencialidade dessa temática e seus efeitos para o indivíduo e a sociedade elencam-se aqui fatores imprescindíveis à ação da família ? que junto à escola ? é responsável por excelência pela educação do sujeito sem preconizar uma sobre a outra, mas por em leque a importância de que sejam coadjuvantes no processo de inserção das crianças, desde a mais tenra idade, na sociedade letrada, valorizando as iniciativas naturais de incentivo à leitura que ocorrem no cerne familiar.

Palavras-Chave: Formação Leitora; Competência Linguística; contribuição familiar.

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* Professora Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior (Faculdade de Guanambi - Ba); Acadêmica do Curso de Licenciatura em Letras (PARFOR/UNEB - BA/Campus XII) Graduada em Pedagogia (UNEB-BA/ Campus XII); Coordenadora Pedagógica da Rede Pública Municipal de Ensino da cidade de Palmas de Monte Alto ? BA. E-mail: [email protected].
** Artigo pautado em trabalho monográfico de conclusão de curso ? Domínio da Língua Materna: um desafio da escola e da família pela inclusão ? apresentado à UNEB/Campus XII, o qual teve como orientadora a Professora Mestra Kátia Montalvão.
1. Introdução

"É na família, cerne da educação, que a criança aprende e dá vida às primeiras palavras, as quais são apenas sopro de toda a atividade linguística e social do porvir".
(A autora)

Pensar e fazer educação, em especial no que concerne à área da Linguagem implica, a priori, em um distanciamento da visão isolada de ensino perpetuada através dos tempos no Brasil. Pensar e fazer educação implica, assim, em integrar senão toda a comunidade, ao menos as duas principais instituições responsáveis pela educação dos sujeitos: a família e a escola. Comumente, encontramos trabalhos científicos de diversos níveis e modalidades que acolhem o ensino da Língua Materna e as várias políticas de formação do leitor, porém sob a perspectiva de um ensino que se desenvolve apenas no âmago escolar. Raros são os estudos ou tratados que enveredam essa temática, buscando como foco o ensino da língua materna e as suas contribuições no processo de formação de leitores sob a perspectiva da família.
Essa á a razão pela qual o presente artigo mergulha nas incontestáveis contribuições que a família oferece em relação à construção e aquisição dos primeiros conceitos e empregos da língua viva usual que, mais tarde, sedimentarão as bases da competência linguística e do letramento do sujeito, capaz de participar e contribuir de forma mais efetiva no contexto social em que se insere. Ressalte-se que não ignoramos no decurso das discussões as limitações que as famílias, por uma série de fatores ? idiossincráticos, econômicos, culturais ? trazem em seu bojo, mas apontamos a potencialidade inerente a elas (as famílias) como fortes contribuidoras na formação do leitor. Até porque, nem sempre o fato de possuir maior poder aquisitivo implica em colaborar mais no processo em pauta.
É importante expor que toda a discussão aqui enveredada é fruto da suma de um dos capítulos de um trabalho monográfico realizado a partir de uma pesquisa de cunho qualitativo que valeu-se de entrevistas semi e não estruturadas, observação assistemática e não participante como instrumentos de coleta de dados, contando com uma amostragem de 31 sujeitos partícipes, entre os quais destacamos discentes, docentes e pais envolvidos com o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa da educação infantil e do ensino fundamental da rede pública municipal de ensino da cidade de Palmas de Monte Alto, Bahia. Discussão essa que se dinamizou ao dialogarmos as falas dos partícipes do intento com grandes nomes da literatura específica da área em pauta como Charmeux (1997), Back (1987), Cagliari (1999), Abramovich (1985) e outros, os quais garantem densidade científica a este intento.