Formação de Professores em Moçambique: A Importância da Prática no Ensino de Biologia

 

1.0 Introdução

A Educação em Moçambique, vive uma época de grandes desafios, pois de alguns anos para cá, temos ouvido reclamações sobre a Qualidade de Ensino, principalmente no que se refere às escolas públicas.O volume de informações dos currículos e principalmente as dificuldades de implementação do currículo (tornando a maioria das aulas de carácter expositivo),  distânciam a experiência e o pensamento crítico das práticas escolares.

O Ensino de Biologia precisa ser aperfeiçoado em Moçambique, melhorando cada vez mais a formação de professores e, actualizando a metodologia na sala de aulas por forma a responder os desafios de momento.

O presente artigo tem como objetivo fundamental contribuir para que os processos de formação de professores sejam mais eficazes e especificamente: Propõe estratégias metodológicas/técnicas e materiais de ensino com vista a elevar a qualidade de ensino-aprendizagem, com a finalidade de tornar o aluno (futuro professor), um cidadão crítico, activo e transformador da sociedade na qual está inserido. A metodologia usada na elaboração do presente artigo, baseou-se na consulta bibliográfica de obras literárias que fazem uma reflexão profunda em relação ao tema e, a experiência da autora como docente de uma instituição de ensino superior destinada a formação de professores.

2.0 O Processo de Ensino-Aprendizagem no Curso de Licenciatura em Ensino de Biologia

O fraco domínio de alguns conteúdos (biologia molecular, ciclo celular, genética, evolução, dentre outros) por parte dos alunos já é um ciclo e, acredita-se que esta dificuldade deriva da escassa componente prática na sua formação - pois, como muitos autores defendem, a prática é fundamental para o desenvolvimento cognitivo do aluno.

No curso de Licencitura em Ensino de Biologia, são abordadas disciplinas de formação geral, disciplinas de formação educacional (que atribuem as componentes psicopedagógicas necessárias a todo e qualquer professor), e disciplinas especializadas (CUP, 2009). A Biologia como ciência é abordada em diferentes especialidades (disciplinas de formação específica), desde o primeiro até ao último nível, como subsídio para o enriquecimento do conhecimento que os futuros professores deverão transmitir/mediar; são abordadas também outras ciências que auxiliam na consolidação dos conhecimentos de biologia (CUP, 2009).

De acordo com Schnetzler (2000), um dos maiores problemas na formação de professores de Ciências Naturais é, sem dúvida, a desarticulação entre os conteúdos específicos e pedagógicos (In Fabricio et al, 2006); esta é uma situação que não é alheia a Formação Superior de Professores em Moçambique sendo uma das causas da dificiente profissionalização.

2.1 Contextualização da Prática no Ensino de Biologia, para a Formação de Professores

A prática a que se refere no presente artigo, não é necessariamente aquela característica das aulas laboratoriais, trabalho de campo, resolução de problemas práticos ou exercícios por exemplo, ou seja, não se refere às aulas práticas; mas sim, às actividades práticas directamente relacionadas com a futura profissão dos alunos deste ensino (aquelas que directamente marcam a articulação entre os conteúdos específicos, pedagógicos e ao cotidiano).

Está mais que claro que o professor não é, nem deve ser um mero imitador, mas também, é inquestionável que o conhecimento ou aprendizagem também se adquire por imitação (Fernandes, ano desconhecido). Alguns estudantes inspiram-se ou admiram certo professor e anseiam “ser como ele” quando desempenharem um papel semelhante na sociedade e; sugere-se neste artigo que se aproveite também esta componente para melhorar a qualidade de ensino e aprendizagem na formação de professores.

A tese é que se o professor agir (prática) em termos metodológicos e técnicos do mesmo modo que o formando deverá agir no seu posto de trabalho, este último terá mais habilidades na mediação de conhecimentos. O professor será “imitado positivamente”. Note que a imitação não deve nem será mecânica, mas sim, será no sentido de construção de conhecimento, habilidades e competências pois será subsidiada por outros métodos de ensino diferentes do que é aqui proposto (Muller, 2005; Kishmoto, 1978; Fernandes, ano desconhecido).

Hora vejamos: o aluno durante a sua formação constrói os seus conhecimentos em Didáctica (tanto Geral como de Biologia), o que pressupõe que no final, terá as ferramentas necessárias para o melhor desempenho da sua profissão futura.

a) Contudo, os professores das disciplinas específicas (que é onde são abordados os diferentes temas que irá leccionar) não usam ou pouco usam os materiais didácticos e consequentemente, o aluno dificilmente percebe, relaciona ou valoriza na prática, a importância destes, uma vez que no próprio local de apreandizagem não se faz valorizar e, inconscientemente (mesmo com esforço dos professores de didática) os objectivos do currículo não são alcançados.

b) Por outro lado, mesmo nos casos de mediação de conteúdos de disciplinas especializadas, em que os materiais didáticos são usados, a metodologia/técnica usada por vezes não permite a este aluno apropriar-se deste, pois ele torna-se um mero espectador, passivo no uso do meio, embora possa ser activo na aula durante a mediação de determinado conhecimento.

2.2 A Prática no Ensino de Biologia, para Formação de Professores

Uma boa componente prática nos cursos de formação de professores é sem dúvida a Prática Pedagógica contudo, todos sabemos dos constrangimentos em submeter os nosso alunos a tal actividade, devido à dificuldades de implementação. Portanto, mesmo ainda no ambiente escolar do ensino superior é necessário criar condições e metodologias para que os alunos tenham práticas constantes e estejam prepararados para o seu dia-a-dia como professores.

Em concordância com Bazzo (2000), não existe um método ideal para ensinar os nossos alunos a enfrentar a complexidade dos assuntos trabalhados, mas sim, haverá alguns métodos potencialmente mais favoráveis que outros (In Lima e Vasconcelos, 2006). Entretando, ficam aqui algumas contribuições de como se pode potenciar a formação de professores por meio de actividades práticas, sustentando a tese em reflexão.

  1. 1.      Sendo o datashow um recurso didático útil e facilitador na mediação de conhecimentos, é  importante que os alunos (futuros professores), se interessem e dominem o seu uso. Para tal o seu professor deve formar pequenos grupos e distribuir temas de acordo com o plano analítico. Enquanto por um lado os alunos se vão familiarizando com o tema, por outro o professor fornece um texto de apoio com o objectivo dos estudantes sintectizarem e identificarem os pontos chaves que deverão constar na apresentação. A posterior os alunos com auxílio e supervisão do professor, montam o slide que será usado pelo professor durante a aula. No final, os alunos ganham afecto, familiarização e domínio do uso desta tecnologia na leccionação, melhoram suas habilidades em leituras e resumo de textos e, facilmente assimilam as matérias.
  1. 2.                  Actualmente se tem enfatizado a importância das aulas laboratoriais na mediação de conhecimentos, o que também e inquestionável, contudo a abordagem prática em alguns temas deverá ser diferenciada. Por exemplo, na disciplina de Biologia Celular e Molecular (BCM), leccionada no curso de Licenciatura em Ensino de Biologia, pela Universidade Pedagógica, no conteúdo referente a “introdução ao estudo da BCM” deve-se abordar os métodos e técnicas de estudo da célula. O professor de Biologia das 9ª e 12ª classes, deve orientar uma prática laboratorial do referido conteúdo. No nível de abordagem no Ensino Secundário Geral (ESG), o aluno familiariza-se com os instumentos e executa algumas práticas sob orientação constante do professor. No nível superior, o aluno deve ser capaz de orientar o aluno do ESG, logo deve ter habilidades no uso dos instrumentos e técnicas e, elaboração e orientação duma aula laboratorial; este conhecimento facilmente é construído com a prática.

A metologia a usar neste caso e similar ao método de projecto pois, um dos objectivos é o de proporcionar ao aluno uma situação autêntica de vivência e experiência onde " o aluno deve converter-se em um ser activo que concebe, prepara e executa o próprio trabalho (Piletti, 2004:118). O professor do Ensino Superior, deve fornecer aos alunos o tema do projeto (aula laboratorial) e em conjunto planearem todos os detalhes deste. Os alunos buscam informações e seleccionam o material necessário, executam a prática laboratorial, e terminam com a apresentação das constatações e conclusões; o professor (dos alunos do Ensino Superior) deve ser apenas um mediador que  vai dirigi-los, sugerir-lhes ideias úteis e auxiliá-los quando necessário (Piletti, 2004)

No final, os alunos (futuros professores) para além de vivenciarem conhecimentos e técnicas (que devem se apropriar para melhor orientar uma aula laboratorial), também desenvolvem atitudes de cooperação, liderança e responsabilidade, para além de facilmente construirem o seu conhecimento sobre a matéria.

  1. Os jogos didáticos ou pedagóogicos são aqueles fabricados com objectivo de proporcionar determinadas aprendizagens e, sengundo Miranda (2001), mediante estes podem-se atingir objectivos relacionados à cognição, afeição, socialização, motivação e criatividade (In Campos et al, ano desconhecido) ; sendo por isso muito úteis aos alunos do ESG, embora ainda não seja uma prática constante em Moçambique.

Os futuros professores devem ser formados por forma a utilizarem esta poderosa ferramenta didáctica naqueles conteúdos que de antemão ja se sabe que são de difícil compreensão (ex: Biologia molecular, ciclo celular, genética, evolução). Os jogos didácticos devem ser abordados nas Didácticas com participação dos professores das disciplinas específicas. Neste caso, os alunos juntamente com os professores das disciplinas específicas identificam temas/conteúdos de difícil compreensão (pode-se tomar como base as dificuldades individuais durante a sua aprendizagem). Com base nos conteúdos seleccionados os alunos buscam informação na literatura existente sobre os jogos didácticos e juntamente com o professor de didáctica elaboram e confeccionam os jogos. Os jogos confeccionados deverão ser usados pelos mesmos em aulas modelo no ensino superior.

Os temas de difícil compreensão no ESG, muitas vezes são os mesmo no ensino superior (o ciclo vicioso) e com esta prática, os alunos ao pesquisarem sob o tema e elaborarem o jogo por um lado eliminam as suas próprias dificuldades e por outro familiarizam-se com a técnica e consequentemente farão uso quando professores.

3.0 Conclusões

Constatar que há necessidades de mudanças não é suficiente, é necessário buscar formas realistas e exequíveis para o melhoramento da qualidade de ensino. As estratégias metodológicas sugeridas neste artigo, são claramente realistas e, exequíveis, sendo portanto um subsídio para a formação de professores profissionais.

  

Apostar na componente Prática no Ensino de Biologia, é sem dúvida a melhor alternativa para o desenvolvimento de habilidades que facilitem a mediação de conhecimentos dos professores e futuros professores de Biologia pois, contribui para a eliminação de suas próprias dificuldades e claramente elevam a qualidade de ensino no País.

A Biologia pode e deve ser baseada em práticas desde os primeiros níveis de ensino até ao nível superior.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4.0 Bibliografia

 

  • CAMPOS, L. M. L., BORTOLOTO, T. M., FELÍCIO, A. K. C., A produção de Jogos Didácticos para o ensino de Ciências e Biologia: Uma Propposta para Favorecer a Aprendizagem, Instituto de Biociências da Unesp, Botacatu, (ano desconhecido).
  • CUP, Currículo do curso de Licenciatura em Ensino de Biologia, Maputo, 2011
  • FERNANDES, V. L. P., Uma Leitura Sócio-Histórica da Imitação no Processo de Ensino Aprendizagem, CAPES, (ano desconhecido)
  • GRACHANE, A. A., & MULLER, S., Biologia pela Prática 9ª classe, Texto Editores, Maputo, 2007
  • HENTSCHKE, L., AZEVEDO, M. C. C. C., ARAÚJO, R. C., Os saberes docentes na formação do professor: perspectivas teóricas para a educação musical, Revista da abem, nº 15, 2006
  • KISHIMOTO, T. M., O jogo e a educação infantil, Pioneira, São Paulo, 1996
  • LIBÂNEO, J. C., Dadáctica, Editora Cortez, São Paulo, 2006
  • LIMA, K. E. C & VASCONCELOS, S. D, Análise da Metodologia de Ensino de Ciências nas Escolas da Rede Municipal de Recife, Rio de Janeiro, 2006
  • MULLER, S., Didáctica das Ciências Naturais, Texto Editores, Maputo, 2005
  • PIAGET, J., A formação do Símbolo na Criança: Imitação, Jogo e Sonho, 3ª edi, Rio de Janeiro 1978
  • PILETTI, C., Didáctica Geral, Sâo Paulo, 2004
  • WILSEK, M. A. G. & TOSIN, J. A. P. Ensinar e Aprender Ciências no Ensino Fundamental com Actividades Investigativas através da Resolução de Problemas, São Paulo (ano desconhecido)