FATEFFIR – FACULDADE DE TEOLOGIA FIDES REFORMATA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO - PÓLO DE JATAÍ - GO


Laércio  Silva  dos  Santos

 

 

 

 

 

FORMAÇÃO  DE  PROFESSORES  E  A  AUTONOMIA

Uma breve análise da obra “Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire

Artigo apresentado à FATEFFIR – Faculdade de Teologia Fides Reformata – Pólo de Jataí – Curso de Mestrado em Educação Holística sob a orientação do professor Dr. Marcílio Sampaio.

Jataí – GO

Agosto/2012

 

FORMAÇÃO  DE  PROFESSORES  E  A  AUTONOMIA

Uma breve análise da obra “Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire

Laércio Silva dos Santos

RESUMO

 

Este trabalho tem como objetivo fazer uma breve análise da obra “Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire e buscar compreender como o professor pode construir a sua autonomia intelectual dentro do processo de ensino aprendizagem e a  Autonomia do aluno na relação existente na sala de aula.  E entender também que o professor ensina e aprende no relacionamento com os educandos na escola.  E que precisa intensificar a pesquisar para garantir-se no exercício da função e ter posição política definida dentro do contexto educacional.

Palavras-chave: Educação, Pedagogia, Autonomia, Aprendizagem.

ABSTRACT

 

This paper aims to make a brief review of the book "Pedagogy of Autonomy" by Paulo Freire and seek to understand how teachers can build their intellectual autonomy within the process of teaching and learning Autonomy student relationship in the classroom. And also understand what the teacher teaches and learns the relationship with the students at the school. And that needs to step up to ensure research is on the job and have defined political position within the educational context.

Keywords: Education, Pedagogy, Autonomy, Learning.

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Na obra Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire faz reflexões sobre a prática educativa e os saberes que são sempre necessários no exercício do magistério. Nesta Magistral obra ele nos convida a participar de diversas reflexões acerca da problemática da educação e dos rumos para a melhoria da prática educacional.

A reflexão permanente sobre a prática da qual a obra enfatiza já precisaria ser uma pratica cotidiana na vida do professor, pois a realidade do trabalho docente no Brasil é muito carente e porque não dizer deficiente quanto aos recursos didáticos e preparação dos professores para lidarem com o trabalho pedagógico diariamente.

Sabe-se que a postura do professor dentro do contexto escolar pode fazer a diferença, desde que  tenha consciência dos diversos problemas que existem na educação, que fogem do alcance de resolução dos professores, mas que os problemas que estão ao alcance sejam encarados por todos os docentes comprometidos e que tomem posição rumo ao desenvolvimento do seu trabalho, isso  conseqüentemente irá refletir diretamente na formação dos educandos e garantirá o primeiro passo para a melhoria da escola e da autonomia do trabalho pedagógico.

FORMAÇÃO  DE  PROFESSORES  E  A  AUTONOMIA

A crise dos saberes pedagógicos fez com que muitos teóricos pensassem em possíveis ações que a alterasse.

Paulo Freire trata da formação docente, orientada pelos saberes necessários para a superação desse descompasso, a obra faz com que revisemos não só a prática docente, mas também a nós mesmos. Segundo Paulo Freire não há docência sem discência.

“A prática de cozinhar vai preparando o novato, ratificando alguns daqueles saberes, retificando outros, e vai possibilitando que ele vire cozinheiro. A prática de velejar coloca a necessidade de saberes fundantes como o do domínio do barco, das partes que compõem e da função de cada uma delas, como o conhecimento dos ventos, de sua força, de sua direção, os ventos e as velas, a posição das velas, o papel do motor e da combinação entre motor e velas. Na prática de velejar se confirmam, se modificam ou se ampliam esses saberes. (Freire:1996, p. 11)

Segundo o autor a educação precisa estar vinculada aos movimentos de mudança. O professor deve ser um eterno estudante para no movimento de ensino/aprendizagem vá se moldando e construindo-se.  Neste sentido o autor finaliza o raciocínio para que compreendamos melhor,

Nesta forma de compreender e de viver o processo formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me tornar o falso sujeito da "formação" do futuro objeto de meu ato formador. É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. (Freire:1996, p. 12)

Segundo Freire não há docência sem discência, ou seja, as duas se explicam e complementam e os seus sujeitos, apesar de diferentes não se reduzem a simples condição de objeto um do outro, quem ensina aprende e quem aprende ensina.

Lançamos irremediavelmente, a partir disso, um olhar para a realidade e constatamos o quanto esses saberes estão desvinculados dela, temos assim um panorama, uma radiografia minuciosa da docência no Brasil, as dificuldades metodológicas, relacionais, de postura, intelectual que o professor enfrenta, e o maior e principal que é o alheamento do professor em relação ao sistema na qual ele está inserido, a alienação contra a qual ele não luta, e que insiste em imobilizá-lo constantemente.

Os saberes de Paulo Freire falam, mostram como o professor precisaria conceber aspectos  fundamentais de sua prática como: a  metodologia, o planejamento, o ensino, a vivência com os alunos, a ética e o bom senso.  A metodologia atual é marcada pelo positivismo, pois o professor a entende como forma de ensinar, não se preocupando em verificar se ela está gerando aprendizagem, ele dá aulas descritivas, desconsiderando a curiosidade do aluno e o seu conhecimento prévio.  Esse ensinar de forma estanque, isolada, talvez justifique tanta aversão do aluno a escola.

Freire Propõe o ensino como pesquisa, no qual o aluno sendo sujeito, age sobre o objeto de conhecimento, auxiliando pela mediação do professor.  Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro” (Freire:1996, p. 16).  Um ensino dialógico em que ocorra simultaneamente o ensinar e o aprender, por que o professor entende a si e ao aluno como um ser inconcluso, inacabado, por isso aqui o mais importante é a aprendizagem de ambos, a disciplina é entendida como a aceitação dos estímulos, que fará com que gradativamente a curiosidade ingênua se transforme em epistemológica.

A separação da ideologia positivista diz que disciplina é silêncio. Exercendo-se como pesquisador e não apenas professor, ele irar entender-se como ser histórico e social, portanto em construção, e percebe que a feitura da sua identidade é responsabilidade própria, isso gerará protagonismo. Ambos a partir desse momento negarão o determinismo, a neutralidade, primeira por que  sabe-se agora como ser histórico, e segundo que a neutralidade é a negação dessa condição,  a pessoa não quer mais se adaptar ao mundo, mas inserir-se nele, modificando-o, não se conformando, nem absolutizando os obstáculos.

 Para adquirir essa postura, professor precisa superar alguns ranços, aqueles que estão formando alunos na licenciatura, especialmente, pois ainda equivocadamente, entendem “formar” com treinar, adestrar, basta verificarmos a grande quantidade de exercícios objetivos, não-significativos presentes na sala de aula, incapazes de provocar reflexão, desenvolver criticamente, só apassiva.

A autoridade é um saber importantíssimo na prática educativa, não se confunde, nem com licenciosidade, nem com autoritarismo, o aluno respeitar o professor pela autonomia científica e didática, pois o professor é todo o tempo um pesquisador, ele não precisa usar o autoritarismo para dissimular a sua  ignorância, por que ele sabe, nem tampouco para se  impor à sala de aula, ele negocia as relações, entende de ética, tem –na como princípio, despreza a ética de mercado, a sua é a ética universal, pensa o ser humano e não o lucro, sabe que ao ser  autoritário está reproduzindo o modelo dominante, de acomodação e conformação, sabe que não está sendo ético, porém  a alienação de que a grande maioria dos professores sofrem não permite ou que eles percebam isso.  Esta eticidade é proeminente ao educador, mas não nasce, precisa ser construída, assim como a criticidade e depois disso reafirmadas, pois estamos todos os dias expostos a transgressão ética, e saber dessa exposição, favorece a resistência, contra a ideologia fatalista e Neoliberal, que a coloca pra nós como um determinismo, contra a qual é impossível lutarmos.  Para sustentar o autor argumenta da seguinte forma:  Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão.” (Freire:1996, p. 18)

Antropologicamente o aprender precede o ensinar, é por isso que o aluno da licenciatura precisa ser ativo e não passivo, pois se a pessoa não se sente sujeito de sua formação, certamente ele irá reproduzir a mesma hierarquia histórica  e perniciosa, na qual quem ensina é sujeito e quem aprende é objeto.

Os alunos precisam vivenciar os saberes, relacioná-los com a realidade, para isso é preciso lê-los bem, entende-se aqui leitura como aquela que desperta o compromisso em quem lê, o faz sujeito, levá-lo a negar a idéia de neutralidade, ninguém é neutro, a não - manifestação é política.  É preciso ter bom senso para perceber que o professor, até sem querer é um ser político, e assim sendo o seu serviço pode ser a favor da ideologia Neoliberal  ou da humanitária, um opressor, ou um libertador.

Outro fator importante à prática educativa é a corporeificação  das palavras, o falar e o fazer juntos, a vinculação do discurso à prática, não é possível discursar sobre liberdade sendo autoritário. A conveniência com a diversidade, rejeição de qualquer forma de discriminação, o professor não pode ver, falar e avaliar a partir do seu mundo, limitadamente, ele precisa transcender, conhecer sensivelmente para entender, fugindo da mentalidade homogeneizante e opressora. O professor precisa assumir sua  identidade e auxiliar o aluno na assunção da sua, não é possível ter ou construir autonomia sem assumir sua identidade, quando este entende que cada aluno tem seu ritmo, e o respeita já é uma prova deste auxílio, às vezes isso se manifesta  num simples gesto do professor.

Em relação a boa e digna convivência com os alunos é preciso cultivar a humildade e a tolerância, só assim será possível respeitar a curiosidade dos alunos, não se pode usar as condições de trabalho ou a falta delas para trabalhar mal, dando isso como resposta a tal carência, a resposta possível  e  ética  que se pode dar pra uma situação como essa, é a luta contra os que promovem o descaso. A apreensão da realidade para poder alterá-la, de forma que o conhecimento sirva não para acomodar-nos aos moldes, mas para questioná-los e transformá-los, tendo aprendido a realidade compreende-se a simultaneidade do aprender e do ensinar, tanto no professor quanto no aluno.

Tendo em vista isso a neutralidade política é absolutamente impossível, pois o professor precisa mostrar a sua postura, justamente para que o aluno possa avaliá-la, aceitando-a ou rejeitando-a, exercendo assim a sua autonomia, pois independente de como eles se constrói o importante  é que ela esteja sendo construída.

O ensinar exigirá ainda do educador alegria e esperança, através da promoção de espaços pedagógicos, significativos, prazerosos, unido a esperança de que esse querer não é um sonho, uma utopia, mas uma construção possível, não aceitando determinismo, mas as possibilidades de transformação.  Não basta, porém, achar que existem possibilidades, é preciso ter convicção nelas, constatando a   realidade do mundo e estando consciente de que se pode intervir nela, a inserção só pode ser compreendida como geradora de decisão. Outro desafio que a nós educadores se coloca é a conversão da rebeldia em senso de revolução.

O estímulo à curiosidade é um fator importantíssimo para que ele mesmo vá construindo o seu conhecimento, mas não podemos perder de vistas os limites, que deverão ter como pauta a ética, se o professor não entender o caráter de mobilidade -do c. nem ele, nem o aluno serão aprendentes e ensinantes.  É preciso para se desenvolver, expandir amplamente a curiosidade, e não quietá-la em nós e nem nos alunos, conheça-la instigá-la em nós todos os dias e depois neles, para isso é preciso que aprendamos a lidar com a relação autoridade – liberdade.

Ambas devem ser dosadas, ou o equilíbrio será quebrado, pois o autoritarismo e a  licenciosidade são indisciplinas do professor, o que é  tendencioso por causa de nosso passado autoritário,  reproduzirmos  ou o questionarmos dinamicamente em nome da liberdade. É importante que o professor na vivência de sua liberdade e autoridade, encontre o equilíbrio para construir a sua relação com o aluno.

A autoridade quando bem construída é exercida com sabedoria e segurança, funda-se na competência, com a sua formação estuda, se informa exerce a sua curiosidade epistemológica, para  poder ter força moral, firmeza para coordenar a classe, não basta só isso, mas se o professor não tem uma certa autonomia científica, não será possível ele construir sua autoridade que passa pela segurança que esse conhecimento oferece, e pela generosidade   que lhe é peculiar como ser  humano e que precisa ser expressa.  A disciplina precisa ser repensada, e não mais entendida como silêncio, mas como inquietude daqueles que têm dúvida.

Há muitas dicotomias que precisam ser desfeitas, pois assim como não se pode separar ensino de conteúdos da formação ética, há muitos outros pontos indissociáveis, e que talvez não tenham sido compreendidos, a superação de alguns aspectos da vida do professor é fundamental para que ele possa auxiliar o aluno, pois não poderá auxiliá-lo a superar a ignorância se ele a vivência, será uma contradição que o levará ao descrédito, não se pode apenas discursar, preciso praticar o discurso.

O comprometimento é outro saber que o professor deve incorporar, pois a eticidade, a negação da mentira, a honestidade  nas relações, é fundamental para construir a credibilidade junto aos educandos, isso não para aqui vai além, perpassa muitos aspectos, inclusive o que prega a neutralidade do professor, a leitura crítica e a percepção do cunho ideológico desta  frase, dada a impossibilidade formar seres apolíticos, quando se vive num mundo regido pela política, por decisões políticas. 

A educação deve ser compreendida como forma de intervir no mundo, pois o que é ensino pode servir para reproduzir a dominação, como para  desmascará-la, ver isso é imprescindível, mas não basta apenas ver ou educar em prol de uma ou de outra, mas percebê-la como interventora, interferir, lutar se indignar  contra todo e qualquer tipo de discriminação, de opressão, e conta maior problema que e a desfaçatez, o cinismo Neoliberal, que justifica a miséria em nome do lucro, e isso é preciso ser feito junto com o aluno e não erroneamente para ele.

As decisões que tomamos precisam ser feitas a partir da consciência, para que a coerência caminhe conosco, o professor não pode se dizer progressista e incoerentemente ser racista.  O ser humano  precisa necessariamente ser político para ser capaz de tomar decisões, pois considerar a educação como algo neutro é principalmente ingenuidade,  acriticidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leitura desta obra é de extrema importância para a formação do professor, pois não se limita a apontar caminhos de maneira técnica e fria, faz isso e, paralelamente, conduz a reflexão, levando o professor a descobrir o que real e verdadeiramente é a prática educativa, dando uma sacudida no conformismo.  A leitura nos leva a perceber que  a formação do professor é permanente, ela se dá durante o processo de formação do professor na faculdade e também durante o processo de ensino aprendizagem, no dia-a-dia na escola, no trabalho pedagógico.

Faz com que o professor sinta o quão grande é a sua responsabilidade podendo gerar autonomia ou opressão. Intima-o a perceber que uma prática ingênua,  alheia à realidade e apolítica,  gera a manutenção de um sistema perverso e desumano.  A formação do professor de forma geral deve ser repensada, deve ser priorizada no sistema educacional brasileiro, mas enquanto isso não ocorre efetivamente Paulo Freire nos convoca para, a partir de leituras reflexivas, nos preparemos para encarar os problemas cotidianos do trabalho pedagógico que ocorre nas salas de aulas pelo Brasil afora.

 

BIBLIOGRAFIA

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra,  São Paulo: 1996.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1910 – 1989. Minidicionário  Século XXI Escolar: o minidicionário da Língua Portuguesa/ 4ª edição ver. Ampliada – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.