Formação Crítica

Wanderson Vitor Boareto

Graduado em História, Bacharel em Direito, Pós Graduado em História e Construção Social do Brasil, Docência do Ensino Superior e Educação Empreendedora.

Resumo

O Brasil esta passando por diversas manifestações conta o aumento de tarifas e da falta de políticas públicas que garanta direitos básicos a população de base. No entanto a forma que as manifestações estão tomando, e a demonstração de ditadura do governo nos leva a repensar nosso Estado Democrático de Direito.

Palavras Chaves

Manifestação, Povo, Governo, Classe sociais, Democracia.

O ano de 2013 está sendo marcado por protestos e aumento da violência nas cidades brasileiras. Esta crise mostra a fragilidade de uma sociedade doente, que acredita que as coisas estão melhorando, se isso fosse mesmo verdade não teríamos tantas demonstrações de insatisfação esparramadas pelo país. Esta semana o governo brasileiro lançou uma portaria proibindo protestos durante os jogos da Copa das Confederações. Este mesmo governo chegou ao poder lutando pelo direito de greve e de manifestos públicos, proibiu a insatisfação e a indignação do povo perante aos órgãos de poder. Este povo que depende de serviços de base como o transporte público, postos de saúde e patrulhamento na rua, se sente abandonado pelos seus parlamentares.

Em Varginha, Sul de Minas Gerais, um grupo de estudantes de uma escola federal depois de várias tentativas de falar com o poder executivo fez uma passeata reivindicando o passe escolar, direito este que foi garantido até a crise do último mandato. Este grupo de alunos foi recebido com violência pela polícia militar da cidade. A imprensa se calou, o Ministério Público também. Jovens que só querem o que é direito, nada mais.

Os brasileiros perderam o espírito de reivindicação e hoje simplesmente reclamam das atrocidades do governo, que mostra a cada dia seu autoritarismo e sua intolerância. Reclamar é mais fácil, reivindicar está ligado a deveres e obrigações. Pensando assim, ninguém pensa no coletivo e sim em seu próprio umbigo. Como diz o Professor Dr. Aristides Ribas de Andrade Filho: “o arroz está pouco meu pilão primeiro”. Este individualismo que é fruto de sistema perverso que todos nós estamos inseridos é uma afronta à sociedade carente que vive das migalhas e do adestramento do poder elitista que manipula e cita as regras do jogo.

No entanto, antes de se reivindicar alguma coisa, temos que lembrar que para ter direitos e deveres em uma sociedade, primeiro deveríamos ser um povo. Ser um povo está ligado a ter objetivos coletivos em níveis e perspectivas diferentes. Ou seja, ter o bem comum como função básica da política pública brasileira. Na verdade existe uma falsa sociedade, no sentido de deveres e direitos. Isso é demonstrar em uma situação prática do cotidiano, um indivíduo sem poder aquisitivo é preso tem muita dificuldade para provar sua inocência ou se defender é menor de que uma pessoa que tem dinheiro. Pensando assim, podemos entender por que os grandes bandidos do Estado estão soltos e ocupando os melhores cargos na política e nas empresas do Brasil.

O Professor Darcy Azambuja em sua obra “Introdução a Ciência Política” nos ensina que: ”Nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem comum, pelos interesses comuns e principalmente, por ideais e aspirações comuns”. Neste sentido, o verdadeiro desenvolvimento está em formar cidadãos de dentro para fora e não de fora para dentro, como muitos acreditam. Esta formação está ligada diretamente a família, a religião, aos amigos e pessoas que convivem no dia a dia. A escola, que é órgão indispensável para o ser social, no entanto, é utilizada como reprodutora e adestradora de pessoas. Este órgão de formação está falido em nossa temporalidade, isso pode ser sentida pelos índices de violência e de corrupção em nossa sociedade.

O velho Marx em sua obra “Critica da filosofia do Direito de Hegel” nos ensina: “Trata-se de pintar a pressão sufocante que as diferentes esferas sociais empregam umas sobre as outras, o mau humor universal, mas passivo, a estreiteza de espírito complacente, mas que se ilude a si próprio; tudo isto incorporando num sistema de governo que vive pela conservação da insignificância e que é a própria insignificância no governo”. Esta afirmativa de Marx ao se referir no falso poder do governo que ártico e manipula a sociedade de base através de artifícios extremamente insignificantes como bolsa famílias e cotas da universidade. É claro que seria muita ingenuidade acreditar que só isso basta, mas como nós ensinaram os antigos imperadores romanos a forma para governar bem é através do “pão e circo”.

A forma que as manifestações estão se fazendo são infantis em nosso país, causam vergonha devido a destruição do patrimônio público e dos valores morais da cidadania que está sendo desrespeitada pelas autoridades do Brasil. Lembrando que polícia não é autoridade e sim servidor público que exerce a função de assegurar a ordem e o cumprimento da lei. Autoridade na esfera municipal é o prefeito que é a chefia o executivo, o presidente da câmara dos vereadores que é o chefia o legislativo e o juiz de Direito que preside o judiciário.

Como se pode falar em Estado Democrático de Direito se as formas de manifestação pública estão sendo censurado pelos órgãos  de poder de nosso país. É claro que estas manifestações tem que ter objetivo e postura de cidadãos sérios e não de baderna. A forma que muitas manifestações estão sendo feitas não se distanciam da criminalidade de muitos grupos combatidos por todos os cidadãos de bens de nosso país.

Outro ponto que  devemos levar em conta, é  que nossos políticos são  reflexos nossos, ou seja, todo povo tem o governo que merece como nos ensina Aristóteles no Século IV a.c.. No entanto, como falar em democracia em uma sociedade de classes? Isso é impossível! Como citado, os órgãos de formação estão caóticos. O voto tem poder, mas este poder é manipulado, através dos partidos e dos meios de comunicação que servem a elite, e não a sociedade. Este modelo coronelista acontece no Brasil á séculos, e talvez perdure por muito mais tempo devido à manipulação do capital.

Manifestações são legítimas em uma sociedade legítima e não em uma hipócrita como a nossa, no sentido de fazer o que se fala, mas não fazer o que se faz, esta é a postura de grande parte dos brasileiros. Para se pensar neste sentido o filósofo chinês Confúcio nos ensina: “se você quer uma coisa para dez anos plante arroz; se você quer uma coisa para cem anos plante uma árvore; se você quiser mudar um povo plante filosofia no coração das crianças”.

Temos que fazer alguma coisa, nossa sociedade está se destruindo, mas fazer o que? Para começar temos que nos organizar em grupos de pessoas sérias, com objetivo comum que possam beneficiar todas as pessoas que estão a nossa volta e não apenas grupos privados. Estudar as leis, e passar isso a frente através de cursos e palestras mostrando que o povo não deve temer o governo, mas o governo deve temer o povo como diz Locke. Só assim, com propostas justas e uma sociedade politicamente ativa nosso país sairá da reclamação e   chegará a reivindicação. E se tornará uma sociedade mais preparada para enfrentar os desafios da Pós Modernidade.

Bibliografia

AZAMBUJA, Darcy, Introdução a Ciência Política, Ed Globo, 2008, São Paulo, SP;

ANDERY, Maria Amália, Para Compreender a Ciência, Ed Garamond, 2007, Rio de Janeiro, RJ;

MARX, Karl, Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, Ed Boitempo, 2005, São Paulo, SP;

FURTADO, Celso, Formação Econômica do Brasil, Ed Companhia Nacional, 2004, São Paulo, SP;

Aristóteles, Política, Ed Nova Cultura, 1999, São Paulo, SP;

HOLANDA, Sergio Buarque de , Raízes do Brasil, Ed Companhia das Letras, 1995, São Paulo, SP;