FORMAÇÃO CONTINUADA: POSSIBILIDADES PARA UMA PRÁTICA EDUCADORA REFLEXIVA

Vana Lucia Medeiros Silva[1]

 

RESUMO

O presente artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica sobre formação continuada de professores. O mesmo foi pensado a partir do tema do projeto de pesquisa de minha dissertação de conclusão de Mestrado em Ciência da Educação e Multidisciplinaridade. Tem por objetivo discutir a importância da formação continuada para o uma prática pedagógica reflexiva. O mesmo faz uma breve discussão e assuntos relevantes à formação como a garantia legal, alguns conceitos históricos de formação ao longo dos anos e por fim discute sobre a possibilidade de uma pratica pedagógica reflexiva, e por fim faz as considerações finais a respeito de uma prática reflexiva.

PALAVRAS-CHAVES: formação, professor, prática reflexiva.

ABSTRACT

This article it is a bibliographic research about continued teacher training. The same was thought from the research project the topic of my dissertation completion of the Master of Science in Education and Multidisciplinary. It aims to discuss the importance of continuing education for a reflective teaching practice. So does a brief discussion of relevant issues to the formation as the legal guarantee, some historical concepts of training over the years and finally discusses the possibility of a reflective teaching practice, and finally makes his final remarks regarding a practice reflective.

KEY-WORDS: education, teacher, reflective practice.

INTRODUÇÃO

Vivemos na era do avanço tecnológico que diariamente cresce cada vez mais. Inserida nessa tecnologia encontra se a educação, ligada intimamente a diversas formas de interações e comunicações expressas no cotidiano. A sociedade evolui e junto com ela as pessoas. Os avanços tecnológicos desafiam o professor a compreender a realidade. Para acompanhar os alunos e inserir-se no seu mundo, o professor deva estar atualizado e também envolvido nessa complexidade do mundo moderno. Se a sociedade é moderna concomitantemente a escola deva ser, assim também o professor.

Atualmente, almeja-se muito uma educação de qualidade acreditando que para alcançá-la  é necessário que sociedade, escola e professor andem juntos, falarem a mesma língua, e como meio destaca-se  aqui a formação dos professores visto como um dos elementos importantíssimo para essa conquista (educação de qualidade).

O presente artigo traz a discussão de algumas questões elementares da formação continuada, como a garantia prevista em lei, assim tornando a formação uma ação contínua e indissociável à prática do professor. Além disso, menciona também o pensamento sobre o que é formação, o qual varia do termo reciclagem até os dias atuais “formação continuada”, mostra a importância de ter uma formação focada nas discussões e desenvolvimento de uma prática de qualidade, objetivando assim um fazer pedagógico reflexivo adequando-se a nova era social.

FORMAÇÃO: AMPARO LEGAL

A formação continuada é um direito e um dever dos professores, direito no sentido de buscar melhoria profissional a partir de uma formação que contribua para o bom desenvolvimento de sua prática, dever no sentido de manter-se nas formações de forma participativa.

Para promover a qualidade, é preciso que os órgãos realizam formações capazes de contribuir para a atuação do professor, sejam governos federais, estaduais, municipais e até mesmo formações desenvolvidas no ambiente de trabalho.

Não podemos deixar de lado a articulação entre formação e profissionalização, haja vista que uma política de formação implica nitidamente ações com intuito da melhoria e qualidade da educação, a qual abrange condições necessárias de ensino, bem como a evolução profissional, segundo os termos legais.

Atualmente é enfatizada a importância da formação. Muito tem se discutido sobre sua a importância, seja em palestras, seminários, fóruns, conferências, congressos, etc., depois de muitos embates um marco importantíssimo para essa conquista foi a garantia nas leis.

A Lei 9394/96, art. 67, garante que:

Art. 67 – Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:

II – aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim;

V – período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho;

VI – condições adequadas de trabalho.

O Plano Nacional de Educação identifica alguns pré-requesitos essenciais na formação continuada dos professore “é fundamental manter na rede de ensino e com perspectiva de aperfeiçoamento constante de bons profissionais do magistério” (apud. CARNEIRO, 2004, p.165).

O Sistema Nacional de formação Continuada de Professores reconhece que “uma política nacional de valorização, formação inicial e continuada dos profissionais da educação precisa ser implantada urgentemente”. (CARNEIRO, 2004, p.165).

No âmbito legal, é visível a viabilização e valorização da formação dos profissionais da educação, essa formação consiste na associação entre teoria e prática no ambiente escolar, mas é necessário que a formação seja significa e eficaz para o professor. Não basta ter a garantia na lei, mas que sejam ofertadas formações que permitam a ampliação do horizonte cultural e profissional dos professores e seu desenvolvimento pessoal.

 

FORMAÇÃO CONTINUADA: ALGUNS CONCEITOS HISTÓRICOS

 

No decorrer dos anos, diferentes termos têm surgido a cerca da formação do professor, o mesmo tem se modificado, por levar em conta os diferentes contextos históricos- sociais de cada época.

 MARIN (1995, p 16 – 17 Apud VERDINELLI, 2007, P. 20-22) mostra alguns conceitos sobre as diferentes concepções de formação continuada.

Reciclagem cujo significado é [...] Atualização pedagógica pra se obter melhores resultados [...] Treinamento, entendido como sinônimo de [...] tornas destro, apto, capaz de executar determinada tarefa. [...] Aperfeiçoamento [...] busca da perfeição. [...] Capacitação [...] tornar capaz, habilitar, por um lado, e por outro convencer, persuadir [...] formação continuada, educação continuada, são muitos similares entre si, uma vez que partem [...] de outro eixo para a formação de professores, para a pesquisa em educação, para os compromissos institucionais e dos profissionais que atuam nessa área.

 

Como é notório, com o passar do tempo surgiram diferentes concepções a cerca da formação continuada isso porque (como já mencionado), a sociedade está em mudanças constantemente. Alguns desses termos foram vistos negativamente, como por exemplo, reciclagem que foi relacionado com a reciclagem de lixo. O termo treinamento dava-se a idéia de apenas treinar, treinar simplesmente para executar, o que gera uma idéia de mecanização do saber. O termo aperfeiçoamento torna-se contraditório quando se refere ao ser humano, considerando que somos seres que estamos sempre em construção, comentemos falhas, portanto, imperfeitos.

Apesar de considerar que os professore devam ser capazes de atuarem como tal, o termo capacitação gerou também certo desconforto se levarmos para o lado do sentido dessa palavra considerando os professores incapazes. Os dois últimos termos traduzem melhor a questão da formação (considerando a sociedade atual), isso porque ambos compreendem o conhecimento como algo histórico-social, “algo que se constrói pelos profissionais, em sua prática cotidiana” (VERDINELLI, 2007). Assim pode-se afirmar que o termo formação continuada nos dá uma idéia mais ampla do que seja essa formação.

A formação continuada é a garantia do desenvolvimento profissional permanente. Ela se faz por meio do estudo, da reflexão da discussão e da confrontação das experiências dos professores (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2003, p. 338-339. Apud. VERDINELLI,2007,  p. 23)

Diante disso, a formação continuada engloba não só estudos, mas principalmente exige do professor que faça uma reflexão a cerca de sua atuação, bem como também desenvolva o processo de investigação. Pensando assim, pode-se afirmar que hoje a formação continuada é uma necessidade profissional das sociedades atuais.

FORMAÇÃO DO PROFESSOR: NOVO OLHAR À PRATICA PEDAGÓGICA

No mundo globalizado e tecnológico em que vivemos, os cidadãos estão cada vez mais cedo mergulhado em um grande aparato de informações, essas “mudanças sociais levaram a afeito uma crise de paradigmas, inclusive com serias repercussões na educação e particularmente na escola” (CAMPOS, 2007, P. 15).  E é na escola que o professor acompanha o desen­volvimento dessa sociedade cada vez mais informatizada e exigente de múltiplos letramentos. Assim “a escola está destinada a formar o cidadão para esta nova sociedade, considerando as exigências do novo tempo” (CAMPOS, 2007, P 15).

O professor é responsável pelo o processo de letramento do educando, processo esse repleto de desafios que se constitui em educar na heterogeneidade dos sujeitos capazes de atuarem competentemente nas diferentes esferas desse avanço social. Nesse sentido o processo de ensino aprendizagem apresenta uma de suas faces - as interações entre o professor e alunos que juntos deverão construir conhecimentos além dos adquiridos ao longo da história da humanidade.

A docência engloba comportamentos, atitudes, valores e ações próprias do professor, para atuar tem que dominar uma série de saberes, competências e habilidades, em outras palavras o professor deve dominar não somente os conteúdos específicos, mas sua transformação em objetos de ensino, mediante a transposição didática, a mediação pedagógica e a articulação entre saberes disciplinares e curriculares e realidade dos alunos. Sendo assim o professor deva estar apto a desenvolver sua práxis atendendo às  exigências da sociedade globalizada para oferecer um trabalho que corresponda com os avanços de todas as esferas da sociedade..

Assim, é possível traçar um perfil pretendido para o professor, espera-se que o mesmo seja reflexivo, autônomo e pesquisador de sua própria prática, já que a construção de saberes é desencadeada não somen­te pelo conhecimento científico, mas também pela valorização de ações cotidianas do fazer pedagógico. Volta-se aí a concepção de competência e habilidades (termos estes surgidos devido às discussões sobre a qualificação dos trabalhadores) que segundo CAMPOS (2007) ambos “prioriza a formação humana a partir da prática, na qual o importante reside no aprender a fazer”.

CAMPOS (2007, p. 17-18) dissocia esses termos atrelados à qualificação do professor, para ele:

Competência é a capacidade de mobilização de recursos cognitivos, afetivos e emocionais que ocorre numa situação determinada, situada e que se manifesta em situações reais, imprevisíveis inusitadas e contingentes. [...] Habilidades referem-se ao domínio do fazer com eficiência.

É valido firmar que apesar de conceituar os termos acima os quais se encontram inseparáveis à formação do professor, CAMPOS (2007) deixa claro que a ação pedagógica vai muito além de competências e habilidades, o professor não se limita, pois ele é um ser criativo, critico “o docente amadurece professor pela própria atividade de ser professor [...] o professor é um permanente aprendiz, tornando-se um professor [...]

Não diferente, LIBÂNEO (2003, p. 23Apud. FREIRE, 2009, p.34) referindo-se a qualidade profissional diz que:

[...] Falar de “competências” não é a mesma coisa que falar de “qualificações”. As qualificações referem-se à aquisição de saberes requeridos para o exercício de uma profissão e a confirmação legal dessa aquisição mediante diplomas, certificados, etc. As competências referem-se a conhecimentos, habilidades e atitudes obtidas nas situações de trabalho, no confronto de experiências, no contexto do exercício profissional. A competência profissional é a qualificação em ação, são formas de desempenho profissional em que a qualificação se torna eficiente e atualizada nas situações concretas de trabalho.

A formação profissional docente tem um papel decisivo na qualidade da educação, considerando que educação de qualidade exige profissional também de qualidade. Pensando assim, nota-se que a qualificação profissional está apoiada em uma prática ativo-reflexiva.

No que diz respeito à qualidade profissional do professor, a formação é um elemento de desenvolvimento pessoal e profissional.

A formação deve estimular uma perspectiva critico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite a dinâmica de auto-formação participada. Estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista à construção de uma identidade profissional (NÓVOA, p.13).

É importante frisar que a formação do professor inicia-se na graduação, mas esta é apenas a formação inicial, é a base do conhecimento para o trabalho pedagógico do professor, mas não é suficiente e o professor deva ter claro que seu processo de formação não termina em uma faculdade, mas que o mesmo é continuo. A cada momento descobrimos coisas novas, percebendo isso o professor sente a necessidade de se aperfeiçoar cada vez mais e uma das formas para a concretização desse aperfeiçoamento se dá através da formação continuada, hoje considerada essencial para a ação dos professores.

O termo formação continuada vem acompanhado de outro, a formação inicial. A formação inicial refere-se ao ensino de conhecimentos teóricos e práticos destinados à formação profissional, completados por estágios. A formação continuada é o prolongamento da formação inicial, visando o aperfeiçoamento profissional teórico e prático no próprio contexto de trabalho e o desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla, para além do exercício profissional. LIBÂNEO (2004, p. 277 Apud, GÓES, 2008, p.1)

Diante desse pressuposto, fica claro que a formação continuada é um elemento crucial na construção de uma prática reflexiva, desde que esta se volte para o pensamento reflexivo baseando-se na consciência da capacidade de pensamento e reflexão, caracterizando o professor como criativo e não mero reprodutor de ideias, para isso é de urgência promover uma formação que se repõe, implicando reavaliação dos processos de aprendizagem, familiarização com os meios de comunicação e com a informática, desenvolvimento de competências comunicativas, de capacidades criativas para análise de situações novas e cambiantes, capacidade de pensar e agir com horizontes mais amplos. Estamos frente a exigências de formação de um novo educador (LIBÂNEO, 2001, p. 05).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O dia a dia da prática em sala de aula envolve o conhecimento do professor assim como do aluno também que se  transformam em ação, ação  que gera ou aperfeiçoa mais conhecimentos através da troca de experiências.  Hoje o professor já não é visto como o detentor do saber, pois tanto aluno como professor, ambos aprendem juntos.

Tornar-se professor, é um percurso repleto de complexidade, além de ser um processo continuo envolvendo construções de significados tanto ao ensino com à aprendizagem,  ambos associados à realidade histórico-social do aluno, isso faz com que o professor domine saberes, capacidades e habilidades tornado-o assim competente no seu fazer pedagógico, dessa forma o considerando como um profissional da educação.

Para tanto é valido frisar que a formação continuada é importante como fator a contribuir com o educador, assim como também, possibilitar um aprofundamento dos conhecimentos adequando-os ao ato de ensinar, para que isso aconteça a formação continuada deva ser organizada com objetivos claros levando em consideração a realidade de professores e alunos, focando em  uma pratica reflexiva, e assim despertando professores reflexivos. As formações continuadas precisam superar a expectativas e ao mesmo tempo envolver os professores, concedendo espaços para lidar com dúvidas e dificuldades, possibilitando partilha de seus êxitos, conquistando caminhos de construir praticas docentes refletidas na ação para haver de fato a teorização da pratica profissional.

 

REFERENCIAS:

CARNEIRO, Moacir Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensivo: Artigo s artigo. Petrópolis, RJ: vozes 2004

CAMPOS, Cassimiro de Medeiros. Saberes docentes e autonomia dos professores – Petrópolis, RJ: vozes, 2007

FREIRE, Lucileia Lima.organização escolar e gestão participativa: contribuições na formação contiuada do professor. Artigo, 14 paginas.  Disponível em: www.fest.educ.br acesso em: 28 mai.2015

GÒES, Hervaldira Barreto de Oliveira. Formação continuada: um desafio para o professor do ensino básico. Artigo, 2008 10 páginas. Disponível em: www.gd.g12.br/ eegd acesso em: 30 mai. 2015

LIBÂNEO, José Carlos.Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas. Artigo 2001, 26 páginas. Disponível em: www.educaremrevista.ufpr.br acesso em 29 mai.2015

NÓVOA, Antonio. Para uma formação de professores construída dentro da escola. Artigo. Disponível em: www.revistaeducacion.educacion.br acesso em: 29 mai. 2015

VERDINELLI, Marilsa Maria. Formação continuada de professores do ensino fundamental subsidiada pela pedagogia histórico- crítica e teoria histórico-cultural. Dissertação do mestrado 2007, 206 paginas. Disponível em: www.ppe.uem.br acesso em: 28 mai. 20015



[1]  Mestranda em Ciências da Educação e Multidisciplinaridade – Faculdade Norte do Paraná - FACNORTE