O amigo leitor já deve ter percebido que a desorientação do homem nos dias atuais é clara e evidente. Há uma enxurrada de comportamentos que vem colocando por terra valores imprescindíveis para a convivência harmônica dos seres em nosso planeta. E o que será que está acontecendo? Por que tanta confusão?

            Creio que essa desorientação atual, e aqui tenho que concordar com o filósofo argentino do início do século XX, Carlos Pecotche, é um sinal inconfundível de que os conceitos vigentes não estão mais satisfazendo às exigências intelectuais e às necessidades espirituais de nossa época.

            O homem está prisioneiro de uma visão restrita da concepção do que venha a ser homo sapiens (o homem como ser racional). Temos a racionalidade como a principal distinção entre outros seres vivos, mas ao desenvolvermos essa racionalidade criamos ao mesmo tempo a loucura e o delírio, uma mistura de homo sapiens com homo demens (o homem como ser demente), capaz de grandes loucuras, até as mais insanas e criminosas. Segundo outro filósofo, o francês Edgar Morin, é muito difícil separar o sapiens do demens, pois entre os dois permeiam a efetividade, o sentimento, e, portanto, acaba por extirpar a racionalidade pura. Até mesmo um grande cientista como um matemático ou um físico, completamente dedicado à racionalidade matemática, o faz levando mão da paixão.

            Outro dia estava 'pescando' e contemplando a imensidão de uma noite de lua nova com suas incontáveis estrelas e me dei conta, com maior nitidez, da pequenez dos homens. O homem vem buscando a verdade durante milênios e, embora deixando frustrações e ilusões, ainda mantêm viva a centelha da esperança dentro de si – aliás, o sentimento de esperança figura racionalidade?  

            O homem sempre pressentiu a existência de algo além, uma continuação indefinida além de sua existência. Cientistas racionais do quilate de Albert Einstein, e até mesmo o filósofo Friedrich Nietzche, esse último antes de morrer, chegaram a essa conclusão. Pensar neste 'além', nesta 'força' além de nossa racionalidade, é sem dúvida ingressar em uma zona perigosa que pode levar o homem a loucura, se não for iniciada paulatinamente dentro de um processo evolutivo consciente. Para isso o homem terá que deletar de sua mente, certos paradigmas (conjuntos de crenças ou verdades relacionadas entre si) que foram disseminadas por grupos de interesses exclusos ao do desenvolvimento do homem, com o propósito tão somente de dominação – um exemplo de ação 'demensiana' –, para culminar ao estágio evolutivo do chamo de homo omni (o homem completo na sua essência).

            A chama inextinguível da esperança continua a arder dentro do homem, e o século XXI marcará o início de um caminhar para uma evolução consciente.

            Uma visão holística (do latim holos, que significa todo, visão holística seria então a percepção de que tudo se integra) é hoje necessária para a continuação de sua própria existência.

            Antigos e até pouco tempo ridicularizados ramos da 'ciência', como a Metafísica de Heráclito de Éfeso iniciada a mais de 400 a.C. e mais recentemente, a aproximadamente 70 anos atrás, a Física Quântica, que teve como percussor o físico Nobel alemão Max Planck, vêm se mostrando  necessárias para iniciar esta nova jornada do “conhecer a si próprio para compreender o todo”.

            Termino este texto registrando uma tradução de um fragmento filosófico de  Heráclito de Éfeso para reflexão:

 

            Tudo fazemos e dizemos segundo a participação do entendimento divino. Por isso devemos seguir apenas a este entendimento universal. Muitos, porém, não são outra coisa que a interpretação dos modos de ordenação do todo. Por isso, na medida em que tomamos parte no saber dele, estamos na verdade; mas, na medida em que temos coisas particulares, estamos na ilusão”.