GARUTI, Alberto. Fome no mundo: um problema sem solução? São Paulo, Revista Mundo e Missão, ed. Mundo e Missão abril 2002, disponível em http://www.pime.org.br/mundoemissao/fomesolucao acesso em 05/11/2011 sem paginação.

                                      Resenhado por Erenice Pereira Lima

 

Sobre o autor

Pe. Alberto Garuti nasceu em Valmadrera, província de Lecco (Itália), em 09 de fevereiro de 1932.  entrou no seminário aos 19 anos logo que concluiu o Ensino Médio. No seminário cursou filosofia e teologia nas cidades de Monza e Milão (na Itália) de 1951 a 1956. Três meses após ser ordenado padre viajou para o Brasil, vindo diretamente para São Paulo. Quando chegou ao Brasil cursou Letras na PUC de 1957 a 1960 e Orientação Educacional de 1961 a 1962. Em seguida cursou Psicologia em Paris no Instituto de Psychologie de 1966 a 1968 e em Roma na Pontifícia Universidade Salesiana, de 1986 a 1989.  De 1973 a 1976 foi Superior do PIME (Pontifício Instituto das Missões Exteriores). No PIME exerce seu trabalho de psicólogo junto aos vocacionados e é responsável pelo site www.pime.org.br, e também escreve para a Revista “MUNDO e MISSÃO”.

 

Fome no mundo: um problema sem solução?

O texto é divido em três partes, a primeira se inicia com uma breve referência à Conferência Mundial sobre Alimentação que aconteceu em 1974 em Roma e que decretou que todos, independentemente de qualquer discriminante, têm o direito de serem livres da fome e da desnutrição. O autor então faz uma crítica ao observar que esse direito tem ficado apenas no papel e não está acessível a todas as pessoas do mundo, principalmente as que vivem em países em desenvolvimento.

Na segunda parte ele comenta a importância de se conhecer as questões que estão envolvidas na problemática da fome para que se possa chegar há uma solução. Ele começa relatando os mitos que envolvem a temática da fome, mostrando que muitas das ideias que temos sobre as causas da fome estão equivocadas. Segundo Garuti três causas levantadas erroneamente são as de que o mundo não produz alimentos suficientes, que a população mundial é grande demais e que não há muitas terras apropriadas para o cultivo.  

Na terceira parte ele pontua problemas que para ele são os verdadeiros motivos de haver fome no planeta. Ele acredita que a problemática da fome é devido a uma soma de outros problemas que a antecederam ou que ocorrem simultaneamente a ela. No total ele aponta sete problemas principais: as monoculturas, que limitam a produção de alimentos em certas regiões do planeta; as diferentes condições de troca entre os vários países, problema que impossibilita que países mais pobres se destaquem no mercado mundial, já que os preços são tabelas pelos países mais ricos; as multinacionais, que controlam boa parte do comercio mundial, principalmente o de bens de primeira necessidade; a dívida externa, que paralisa o desenvolvimento econômico e social dos países devedores que acabam direcionando seus ganhos para o pagamento da dívida; os conflitos armados, que não só geram gastos altíssimos que poderiam ser dedicados a saciação da fome de milhares de pessoas, como também destroem o sistema produtivo dos países envolvidos nesses conflitos; as desigualdades sociais, que distanciam, cada vez mais, os mais pobres de uma condição de vida melhor; o neo-colonialismo, que não permitiu que as ex-colônias se tornassem realmente livres, mas fez com que elas continuassem, de certa forma, dependentes das ex-metrópoles ou de outros países.

Podemos perceber que os fatores apresentados pelo autor são de ordem histórica, política, econômica e social, o que nos ajuda a compreender a complexidade da questão da fome no mundo. Ao final dessa elencação, o autor nos apresenta uma conclusão na qual explica que três desses problemas cabem apenas aos países famélicos resolverem (as monoculturas, os conflitos armados e as desigualdades sociais), porém há certas dificuldades que precisam ser enfrentadas juntamente com os países desenvolvidos, pois se trata de uma situação internacional, como é o caso das condições desiguais de troca entre as várias nações, a presença de multinacionais, o peso da dívida externa e o neocolonialismo. Finaliza dizendo que os países em desenvolvimento não conseguirão vencer a miséria e a fome sozinhos, será preciso que haja uma mudança nas relações desses países com os mais industrializados.

O texto de Alberto Garuti é um texto referencial no estudo da temática da fome, pois nos apresenta conceitos básicos e indispensáveis para sua compreensão. A posição do autor quanto a esse problema fica bem clara, tendo sua fala regada por uma crítica aos governos que priorizam questões econômicas e políticas em detrimento do problema da fome, e aos países desenvolvidos que não se mostram dispostos a ajudarem os mais pobres, mas que pelo contrário, os exploram e os tratam indiferentemente. Sua preocupação com a garantia dos direitos humanos permeia todo o texto e nos faz analisar melhor, com olhos e ouvidos bem atentos, as relações existentes no mundo atual avaliando até onde essas relações são favoráveis a todos.

A estrutura do texto e a linguagem empregada são pontos positivos, pois permitem que o leitor faça uma leitura fluente e compreensiva. Outro ponto positivo é o uso frequente de exemplos e de dados estatísticos, o que facilita a assimilação dos conceitos analisados. Entretanto, em certos momentos observamos certa superficialidade no tratamento dos temas abordados, mas isso é entendido ao se perceber que o objetivo do texto é introduzir o tema da fome e não aprofundar seus aspectos. É um texto simples, explicativo e analítico, que tem por objetivo esclarecer e discutir as diferentes e inúmeras situações geradoras do problema e as questões que o complexalizam, dando assim margem às soluções cabíveis a ela.

O texto é indicado a quem pretende obter noções prévias sobre as causas da fome e entender como os mais variados aspectos da sociedade contemporânea influenciam em sua concepção. Recomendo a leitura pela postura crítica e esclarecedora que apresenta a respeito dessa questão tão séria e ainda tão presente em nossos dias.