A realidade de viver em um país que convive com a fome é horrenda. Ainda mais, se o país for como o Brasil, um celeiro de alimentos. Isso acontece, sobretudo, por causa do egoísmo dos detentores da maior parte das riquezas do país ao se preocupar apenas com o próprio estômago.
Como maior produtor de vários itens agrícolas e um dos cinco maiores exportadores de alimentos, o Brasil só aumenta os incentivos voltados para o mercado externo, ao passo que diminui a produção para o mercado interno, agravando assim as taxas de fome crônica no país, onde cerca de 32 milhões de pessoas sofrem com essa realidade.
É difícil entender como em um país onde os recordes de produção agrícola são crescentes no decorrer dos anos, a fome faz parte do cotidiano de um número alarmante de pessoas. É notável a raiz desse problema: a péssima distribuição de renda no país, uma vez que apenas 10% dos brasileiros retêm a maior parte das riquezas.
Alterar essa situação significa alterar a vida da sociedade, o que pode não ser desejável, visto que contrariaria os interesses e privilégios dos grupos dominantes. É muito mais cômodo e mais seguro responsabilizar o excessivo crescimento populacional ou as intempéries naturais como causas da fome e da miséria que assombram a grande maioria do contingente populacional.
Possuímos, além de recursos e tecnologia, alimento suficiente para todos e, por isso, podemos sim, vencer a fome. Só que para isso, é necessário alimentar um espírito solidário para derrotar o vírus do egoísmo e abdicar do sonho consumista, ilusoriamente inculcado pela propaganda e implementar uma globalização solidária. Isto principalmente porque é inadmissível a existência de famintos em uma região como abundância de alimentos.
Quem já presenciou a ganância com que os moradores de rua devoram os restos de alimento, considerados "inadequados para consumo" pelos grandes restaurantes brasileiros, pôde perceber que, como bichos insaciáveis, essas pessoas renunciam a dignidade humana a fim de matar a fome que lhes mata. Isso se dá sem que, muitas vezes, se dêem conta de que seus verdadeiros assassinos estão de terno discutindo os "interesses do país".