Fluxo de Caixa - conceitos e aplicações
Publicado em 25 de setembro de 2009 por Augusto Rocha
Fluxo de Caixa – conceitos e aplicações
Características de um Fluxo de Caixa:
1) Tempo real.
2) Entradas e saídas efetivas.
3) Princípio da realização
Diferenças entre Fluxo de Caixa e a DRE
O Fluxo de Caixa se diferencia da Demonstração de Resultados do Exercício, pois, num fluxo de caixa, levam-se em conta apenas as entradas e saídas efetivas do caixa da empresa. Assim, quando a DRE inclui depreciações, amortizações e exaustão, para apurar o resultado, pressupõe que estes gastos terão que ser reincorporados em algum ponto para dar continuidade as operações da empresa. O Fluxo de caixa não assume isso.
Seria mais correto pressupor que o Fluxo de Caixa vê tudo com base no retorno esperado, ou seja, não é porque o projeto atual está funcionando (está dando retorno) que, em longo prazo, se repetirá o projeto.
Assim temos como sair da DRE para o FC, e vice-versa, da seguinte forma:
Fluxo de Caixa = Lucro Líquido + Depreciação + Amortização + Exaustão
Dessa maneira temos que esse extra da depreciação, amortização e exaustão, se torna um incremento de caixa, e por conseqüência, uma fonte de financiamento da empresa. E é por esse motivo também que (pela DRE guiar-se pelo princípio da competência) que uma empresa pode possuir quebras de caixa mesmo apresentando lucro contábil.
Podemos resumir o FC de maneira mais analítica e operacional da seguinte maneira:
(Modelo baseado em Assaf, Alexandre – “Estrutura e Análise de Balanços”, Atlas, 8ªed.)
Ciclo Operacional e Ciclo de Caixa
Depois de diferenciado o FC e a DRE, podemos então compreender a relação entre o Ciclo de Caixa e o Ciclo Operacional. Enquanto o ciclo operacional começa na aquisição de matérias-primas, o ciclo de caixa só começará efetivamente quando houver o desembolso financeiro inicial.
Assim, o ciclo de caixa fica determinado pela diferença de tempo entre o desembolso e o recebimento. E isso estará intimamente ligado com a gestão do capital operacional da empresa.
Podemos esquematizar os dois ciclos da seguinte maneira:
A partir do esquema acima, podemos ver que após o recebimento da Matéria-Prima, a empresa tem em média 10 dias para pagar seus fornecedores, ou seja, se considerarmos a compra como feita no dia 1, a empresa terá 10 dias para efetivamente recorrer ao caixa.
Teremos assim, um Ciclo Operacional de 80 dias enquanto, ao mesmo tempo, um Ciclo de Caixa de 70 (80 – 10).
Tanto o Ciclo Operacional como o Ciclo FC têm ligações com da área de atuação da empresa, e por isso, não consiga ser reduzido de qualquer maneira. Mas, é trabalho de todo administrador conseguir diminuir os dois ciclos. Principalmente o Ciclo de Caixa, pois isso significa conseguir uma maior “produtividade do capital” investido nas operações. É a partir disso que se trabalhará o Capital de Giro Operacional e a necessidade do mesmo.
Mais uma vez podemos fazer referência às diferenças entre a DRE e o FC quando percebemos que dinheiro na mão é diferente de dinheiro no papel. Quando nos guiamos pelo regime de competência, esquecemos da Necessidade de Capital e, incorreremos à captações, na maioria das vezes, a alto custos de financiamento externo – principalmente num mercado como o brasileiro, aonde há escassez do capital.
Ciclo de Caixa Quantificado
O ciclo de caixa mensurará exatamente o que acabou de ser visto: concretizará os valores do ciclo operacional para calcular o capital operacional médio geral e por setor onde se encontra operacionalmente, e feito isso, gerará por conseqüência a necessidade de capital.
Suponhamos que temos as seguintes quantias aplicadas no processo operacional:
Ciclo Operacional | |||||
|
PME - MP |
PMF |
PMV |
PMC |
Total |
$ |
R$ 50.000,00 |
R$ 25.000,00 |
R$ 30.000,00 |
R$ 48.000,00 |
R$ 747.692,31 |
Δtempo |
15 |
30 |
9 |
26 |
80 |
$ Médio / Dia |
R$ 3.333,33 |
R$ 833,33 |
R$ 3.333,33 |
R$ 1.846,15 |
R$ 9.346,15 |
Se seguíssemos estritamente o princípio da competência teríamos o modelo acima para explicar-nos o capital investido em cada operação. Porém, sabemos que o Caixa só é desembolsado no dia 10, então teremos a seguinte, e verdadeira, quantia aplicada no PME-MP:
Aplicação PME = R$ 50.000,00 x (5 dias / 15 dias) = R$ 16.666,67
Então, remodelando o quadro acima teremos:
Ciclo Caixa | |||||
|
PME - MP |
PMF |
PMV |
PMC |
Total |
$ |
R$ 16.666,67 |
R$ 25.000,00 |
R$ 30.000,00 |
R$ 48.000,00 |
R$ 569.914,53 |
Δtempo |
15 |
30 |
9 |
26 |
80 |
$ Médio / Dia |
R$ 1.111,11 |
R$ 833,33 |
R$ 3.333,33 |
R$ 1.846,15 |
R$ 7.123,93 |
*Atente que o prazo médio de estocagem continua o mesmo – esse é o crédito recebido.
Conforme foi apresentado, teremos uma diferença diária de R$ 2.222,22, ou seja, alcançamos um bônus financeiro por conseguir estender o prazo de pagamento a nossos fornecedores. Isso se torna uma folga no caixa; folga que alivia o próprio financiamento do capital.
Caixa e Necessidade de Capital de Giro
Imaginemos uma empresa com o seguinte Balanço Patrimonial:
Aparentemente, teríamos uma folga financeira de $ 100 (PL + ELP – AP), entretanto isso não quer dizer que a empresa não possa vir a ter problemas de caixa como veremos a seguir. Então temos um Capital Circulante Líquido de $ 100.
Imaginemos agora que a mesma empresa possua uma Necessidade de Investimento Cíclico de $ 800 (Estoques e outros), mas que operacionalmente só auto-financie $ 600 (Fornecedores):
|
Investimento Cíclico em Capital de Giro (operações) |
$ 800 |
- |
Financiamento Cíclico do Capital de Giro (fornecedores) |
$ 600 |
|
|
|
= |
Necessidade de Investimento Cíclico (permanente) em Capital de Giro |
$ 200 |
|
|
|
- |
Recursos de Longo Prazo Aplicados no Capital de Giro |
$ 100 |
|
|
|
= |
Necessidade de Capital de Giro |
$ 100 |
Dessa maneira, podemos perceber que mesmo com a folga financeira existente e tradicionalmente usada, a empresa acima terá que buscar fundos para financiar mais $ 100.