Fluxo de Caixa – conceitos e aplicações

 

Características de um Fluxo de Caixa:

1)      Tempo real.

2)      Entradas e saídas efetivas.

3)      Princípio da realização

 

Diferenças entre Fluxo de Caixa e a DRE

O Fluxo de Caixa se diferencia da Demonstração de Resultados do Exercício, pois, num fluxo de caixa, levam-se em conta apenas as entradas e saídas efetivas do caixa da empresa. Assim, quando a DRE inclui depreciações, amortizações e exaustão, para apurar o resultado, pressupõe que estes gastos terão que ser reincorporados em algum ponto para dar continuidade as operações da empresa. O Fluxo de caixa não assume isso.

Seria mais correto pressupor que o Fluxo de Caixa vê tudo com base no retorno esperado, ou seja, não é porque o projeto atual está funcionando (está dando retorno) que, em longo prazo, se repetirá o projeto.

Assim temos como sair da DRE para o FC, e vice-versa, da seguinte forma:

Fluxo de Caixa = Lucro Líquido + Depreciação + Amortização + Exaustão

Dessa maneira temos que esse extra da depreciação, amortização e exaustão, se torna um incremento de caixa, e por conseqüência, uma fonte de financiamento da empresa. E é por esse motivo também que (pela DRE guiar-se pelo princípio da competência) que uma empresa pode possuir quebras de caixa mesmo apresentando lucro contábil.


 

Podemos resumir o FC de maneira mais analítica e operacional da seguinte maneira:

 

 

 

(Modelo baseado em Assaf, Alexandre – “Estrutura e Análise de Balanços”, Atlas, 8ªed.)


 

Ciclo Operacional e Ciclo de Caixa

Depois de diferenciado o FC e a DRE, podemos então compreender a relação entre o Ciclo de Caixa e o Ciclo Operacional. Enquanto o ciclo operacional começa na aquisição de matérias-primas, o ciclo de caixa só começará efetivamente quando houver o desembolso financeiro inicial.

Assim, o ciclo de caixa fica determinado pela diferença de tempo entre o desembolso e o recebimento. E isso estará intimamente ligado com a gestão do capital operacional da empresa.

Podemos esquematizar os dois ciclos da seguinte maneira:

A partir do esquema acima, podemos ver que após o recebimento da Matéria-Prima, a empresa tem em média 10 dias para pagar seus fornecedores, ou seja, se considerarmos a compra como feita no dia 1, a empresa terá 10 dias para efetivamente recorrer ao caixa.

Teremos assim, um Ciclo Operacional de 80 dias enquanto, ao mesmo tempo, um Ciclo de Caixa de 70 (80 – 10).

Tanto o Ciclo Operacional como o Ciclo FC têm ligações com da área de atuação da empresa, e por isso, não consiga ser reduzido de qualquer maneira. Mas, é trabalho de todo administrador conseguir diminuir os dois ciclos. Principalmente o Ciclo de Caixa, pois isso significa conseguir uma maior “produtividade do capital” investido nas operações. É a partir disso que se trabalhará o Capital de Giro Operacional e a necessidade do mesmo.

Mais uma vez podemos fazer referência às diferenças entre a DRE e o FC quando percebemos que dinheiro na mão é diferente de dinheiro no papel. Quando nos guiamos pelo regime de competência, esquecemos da Necessidade de Capital e, incorreremos à captações, na maioria das vezes, a alto custos de financiamento externo – principalmente num mercado como o brasileiro, aonde há escassez do capital.

Ciclo de Caixa Quantificado

O ciclo de caixa mensurará exatamente o que acabou de ser visto: concretizará os valores do ciclo operacional para calcular o capital operacional médio geral e por setor onde se encontra operacionalmente, e feito isso, gerará por conseqüência a necessidade de capital.

Suponhamos que temos as seguintes quantias aplicadas no processo operacional:

Ciclo Operacional

 

PME - MP

PMF

PMV

PMC

Total

$

 R$   50.000,00

 R$   25.000,00

 R$   30.000,00

 R$   48.000,00

 R$   747.692,31

Δtempo

15

30

9

26

80

$ Médio / Dia

 R$     3.333,33

 R$         833,33

 R$     3.333,33

 R$     1.846,15

 R$        9.346,15

 

Se seguíssemos estritamente o princípio da competência teríamos o modelo acima para explicar-nos o capital investido em cada operação. Porém, sabemos que o Caixa só é desembolsado no dia 10, então teremos a seguinte, e verdadeira, quantia aplicada no PME-MP:

Aplicação PME = R$ 50.000,00 x (5 dias / 15 dias) = R$ 16.666,67

Então, remodelando o quadro acima teremos:

Ciclo Caixa

 

PME - MP

PMF

PMV

PMC

Total

$

 R$   16.666,67

 R$   25.000,00

 R$   30.000,00

 R$   48.000,00

 R$   569.914,53

Δtempo

15

30

9

26

80

$ Médio / Dia

 R$     1.111,11

 R$         833,33

 R$     3.333,33

 R$     1.846,15

 R$        7.123,93

 

*Atente que o prazo médio de estocagem continua o mesmo – esse é o crédito recebido.

Conforme foi apresentado, teremos uma diferença diária de R$ 2.222,22, ou seja, alcançamos um bônus financeiro por conseguir estender o prazo de pagamento a nossos fornecedores. Isso se torna uma folga no caixa; folga que alivia o próprio financiamento do capital.


Caixa e Necessidade de Capital de Giro

Imaginemos uma empresa com o seguinte Balanço Patrimonial:

Aparentemente, teríamos uma folga financeira de $ 100 (PL + ELP – AP), entretanto isso não quer dizer que a empresa não possa vir a ter problemas de caixa como veremos a seguir. Então temos um Capital Circulante Líquido de $ 100.

Imaginemos agora que a mesma empresa possua uma Necessidade de Investimento Cíclico de $ 800 (Estoques e outros), mas que operacionalmente só auto-financie $ 600 (Fornecedores):

 

Investimento Cíclico em Capital de Giro (operações)

$ 800

-

Financiamento Cíclico do Capital de Giro (fornecedores)

$ 600

 

 

 

=

Necessidade de Investimento Cíclico (permanente) em Capital de Giro

$ 200

 

 

 

-

Recursos de Longo Prazo Aplicados no Capital de Giro

$ 100

 

 

 

=

Necessidade de Capital de Giro

$ 100

 

Dessa maneira, podemos perceber que mesmo com a folga financeira existente e tradicionalmente usada, a empresa acima terá que buscar fundos para financiar mais $ 100.