FLORESTAS DO AMAPÁ

A cobertura vegetal do Estado do Amapá, fisionomicamente, corresponde a dois padrões distintos: o domínio de formações florestadas e o domínio das formações campestres. Compondo o domínio das formações florestadas, tem-se: floresta densa de terra firme, floresta de várzea (aluvial) e manguezal. Compondo o domínio das formações campestres, tem-se: cerrado e campo de várzea (inundável ou aluvial).
A floresta de terra firme é o ecossistema de maior representatividade da região, compondo aproximadamente 70% da superfície do Estado. Este tipo de ambiente é o que apresenta a maior biodiversidade, maior biomassa e uma funcionalidade relacionada a uma multiplicidade de mecanismos e cadeias tróficas, constituindo-se num sistema de energia fechado, onde a maior sustentabilidade é baseada na ciclagem de matérias. Abriga essências de grande valor madeireiro, oleaginoso, resinífero, aromatizante, corante, frutífero e medicinal.
Fisionomicamente, a floresta de terra firme manifesta uma uniformidade paisagística, embora, quando avaliada em função de fatores, tais como relevo, drenagem, tipo de solo, etc., ostenta profundas variações florísticas, que correspondem a tipologias diferenciadas, principalmente, em nível de associações e de diversidade de suas espécies. A distribuição espacial desse ecossistema corresponde, principalmente, aos domínios de terrenos pré-cambrianos, paleozóicos e terciários e, seus limites ao norte, representam uma extensão de suas fronteiras com o Suriname e Guiana Francesa. Ao sul, a floresta de terra firme constitui uma faixa irregular de transição para a planície inundável.
Dentre seus atributos mais relevantes destaca-se sua alta biodiversidade, elevada produtividade primária, riqueza em essências econômicas, grande biomassa e uma complexa interação biológica, que é parte importante no processo da dinâmica de reciclagem de nutrientes e consequentemente, da auto-sustentabilidade do ambiente.
Como fator de produção, o importe econômico da floresta de terra firme é ressaltado pelo seu grande potencial em matéria-prima destinada à indústria madeireira, oleaginosa, resinífera, laticíifera, aromatizante, corante, frutífero, medicinal etc., e como banco genético da mais alta significação para várias tecnologias, que poderão, no futuro, proporcionar novas bases de sustentação para a humanidade.
A floresta de várzea ocupa 4,8 % do Estado e caracteriza toda a área de influência fluvial do Amapá, representando o ambiente típico da bacia amazônica, ocupando os terrenos recentes da margem esquerda do Canal do Norte do Amazonas e grande parte das áreas de influência dos principais rios que entrecortam esta região.
Fisionomicamente, a floresta de várzea de também é marcado pela presença de espécies de alto porte e pela riqueza de palmeiras, que constituem um dos elementos mais característicos deste ambiente.
De maior relevância na funcionalidade desse ecossistema, destaca-se a periodicidade de seu regime de inundação, que em maior grau, é ocasionado pelo movimento das marés. Submetida a esta condição, a floresta de várzea caracteriza um sistema de fluxo de energia aberto, onde a natureza e o condicionamento de suas águas originam um modelo particular de reciclagem do substrato enriquecido a cada maré pelas descargas de sedimentos fluviais.
Guardada as devidas proporções, a floresta de várzea também apresenta alta biodiversidade, elevada riqueza em essências econômicas e uma marcante função social, tenso em vista as facilidades que oferece para as práticas extrativas e, consequentemente, para o processo de ocupação e uso dos recursos naturais necessários à subsistência das populações residentes. Essa característica, que em muito influenciou o modelo de ocupação ribeirinha, ainda hoje persiste na forma intensificada da exploração indiscriminada, onde a extração seletiva de madeira e o abate de açaizeiros (Euterpe oleracea Mart.) constituem-se em demandas ambientais preocupantes, pelos riscos que representam tanto para do meio ambiente quanto para a sustentabilidade das populações ribeirinhas, pela diminuição do aporte de matéria-prima comercial e da própria suplementação alimentar.

Emanuel Cavalcante ? Pesquisador da Embrapa Amapá
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