Raquel Lívia Nascimento Rodrigues

Quando se analisa a cultura de um povo diante de influências que estes sofreram, possivelmente remete-se à idéia de arte, religião, política e demais aspectos que contribuíram para a quebra de padrões e estabeleceram suas identidades. Entretanto, pensar que ciência, mais especificamente a Física desempenhou e ainda desempenha um papel relevante na construção da cultura de uma Era não nos aflora muitos argumentos.
Diante dessa aparente falta de vínculo, esse texto analisa como a Física foi preponderante em determinados momentos da história, tanto no âmbito científico, quanto cultural. Situaremos em dois momentos da história que podem ser considerados marcos para a evolução do pensamento contemporâneo e para a quebra de paradigmas.
O primeiro foi no século XVII com Isaac Newton, que com suas realizações no campo da ótica, da mecânica, da matemática e astronomia fizeram dele até o século XIX o personagem mais admirado de todos os tempos. O outro foi no século XX com Werner Heisenberg, físico alemão laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1932, considerado o maior dos físicos posteriores a Einstein. É um dos fundadores da mecânica quântica e o seu pensamento tem uma importante influência no desenvolvimento da física atômica e nuclear. Todavia, não vamos enunciar seus feitos científicos com todos os seus cálculos, suas fórmulas e assim por diante, vamos fazer uma análise de como tais questões científicas guiaram o pensamento de gerações no sentido incorpóreo, mais precisamente do criacionismo.
Newton com suas teorias do movimento dos corpos celestes considerava que tal mecânica era governada pela gravitação universal e, principalmente, por Deus, que segundo uma das frases consideravelmente famosa do próprio cientista: "A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode." Para Newton, o espaço absoluto representava "os sentidos de Deus". Dessa forma, Ele estava presente em todas as partes do Universo e agia sobre ele segundo a Sua vontade. Para a sua Física, Deus não era hipótese, mas realidade. Discrepante pensar em fé ao mesmo tempo que em ciência? Contraditório pensarmos em criação vinculada às leis físicas? Não para a época de Newton. Quando ele nasceu, em 1642 na Inglaterra, religião, ciência, magia, misticismo, física e matemática se misturavam. Astronomia e astrologia não se distinguiam. Alquimia e química eram a mesma coisa. Influenciado pelas idéias de Renè Descartes, a visão de Newton para o universo era de que o mesmo está em movimento e sua descrição se resume a entender as interações básicas dos componentes do universo e formular matematicamente as leis que regem esses constituintes, formulando assim sua mecânica determinista.
Sendo o iluminismo fator preponderante de mudanças da época, o século XVII, deixando para trás o absolutismo, combatendo grande número de religiões, abandonando o misticismo presente na vida daquelas pessoas, um cientista que ao mesmo tempo em que lutava contra todo um paradigma instituído por décadas, buscando revelar ao homem sua capacidade racional e valorizando o conhecimento como instrumento de libertação e progresso e que ao mesmo tempo não deixava de lado a presença de um Criador, de um Deus capaz de ser presente e justo simultaneamente, foi essencial para se tornar assim o pai da ciência moderna e formador de opiniões tanto no campo científico quanto cultural, evidência disso foi que suas idéias começaram a ser usadas na construção de máquinas que deram início à Revolução Industrial e no método racionalista do iluminismo, depois da virada do século XVIII.
O determinismo Newtoniano influenciou o pensamento científico até o início do século XX, todavia, coube a Werner Karl Heisenberg dar o golpe de misericórdia no império das certezas do determinismo ao formular, em 1927, o Princípio da Incerteza, que, resumidamente, declarava ser impossível determinar com precisão e simultaneamente a velocidade e a posição de uma partícula. Considerado um dos pilares da Mecânica Quântica, o Princípio da Incerteza chegou a ser o gerador da maioria dos temas polêmicos da física de nosso século e do século passado. Esse princípio teve profundas implicações na forma de percepção do mundo introduzindo um inevitável elemento de imprevisibilidade ou causalidade na ciência, causando a ruptura da lógica e da razão como verdades puras e absolutas. Ele modifica um dos paradigmas científicos mais consolidados, a saber, o de que o empreendimento da Ciência é a obtenção de um conhecimento exato, preciso e detalhado a cerca da realidade. Se antes deste princípio, o objetivo da Ciência era esse conhecimento exato sobre a natureza, depois de tal princípio, ficou claro que há limites  para o conhecimento, que não podemos obter conhecimentos exatos, que, no máximo, nossos conhecimentos serão prováveis, serão aproximações, modelos, representações da natureza. Isto cria algumas constatações que estremecessem as bases do pensamento científico clássico. Sem ter a certeza das conseqüências que esta teoria poderia causar nos fortemente entrincheirados conceitos, Heisenberg desmistifica até mesmo a presença de um Criador determinista, ou seja, que até mesmo Deus é limitado pelo Princípio da Incerteza, e não pode saber tanto a posição quanto a velocidade de uma partícula, tornando-o um "jogador de dados" inveterado. Moldado pela cultura clássica, especialmente pelos filósofos gregos, Heisenberg influenciou e ainda influencia a forma de pensar de uma legião de pessoas que a procura de respostas se tornam caçadores de conceitos que na realidade não passam de incertos.
Até o final do século XX a ciência acreditava que tinha a chave de todo o conhecimento, os últimos mistérios da natureza a serem desvendados era apenas questão de tempo, o que após uma sistemática análise, reconhece que não passa de uma fugaz ilusão.
Depois de uma análise breve e superficial de dois momentos da história, de dois marcos da construção do saber científico, é possível acreditar que a ciência influencia mais do que no nosso cotidiano com suas teorias e práticas, e sim no nosso comportamento, nossa maneira de pensar, de guiar nossa vida; que pode influenciar a cultura de uma Era, através de suas idéias, de suas ideologias e de seus pensamentos; pensamentos estes, que são construídos de uma forma que escapa à nossa percepção.

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