90 - FIQUE COM DEUS

De Romano Dazzi

 

Oi,

Creio que ontem, ao lhe dizer “fique com Deus” cometi um deslize.

Não se deseja, por exemplo, que “coma um bom franguinho no almoço”, a quem não suporta nem o cheiro de frango

Mas era apenas uma metáfora.

“Fique com Deus” exprime só o desejo que a pessoa fique em paz dentro de si mesma. Não é preciso procurar Deus.

Ele é apenas  uma causa – “A causa”. Ou chame-a de origem, princípio, faísca ou fagulha inicial.

E os sinais, as conseqüências desta causa são evidentes em todas as partes: nas estrelas, na terra, no microcosmo, em nossa alma, na própria  consciência que temos, de sermos o que somos.

Nenhum outro animal tem consciência de si, ou percebe o que ele realmente é.

Apenas vê o que está em volta e reage ao que o agrada ou o agride.

Nada ele se pergunta – ao que sabemos – e nada tenta se responder. 

Mas a nós, basta-nos  olhar um pouco mais fundo e percebemos que aquilo que poderia ser apenas o caos, se compõe em algum tipo de ordem,  que custamos a reconhecer, definir e aceitar, mas que sem dúvida está aí.

Por isso, criamos fórmulas e cálculos – e pensamos  ter encontrado Deus.

A sua idealização  vai além de qualquer número e de qualquer palavra com o qual tentamos defini-lo –  porque não se define o infinito.

Defini-lo é limitá-lo. E ele é ilimitado. Mas podemos adivinhá-lo, senti-lo. 

 

Imagine um jardim  bem cuidado, com plantas bem podadas, tratadas, regadas  Um jardim agradável, no qual andar, repousar e até  respirar se torna um prazer.

Ele não existiria por acaso; não se manteria por acaso, não se repetiria ano após ano, por acaso. Deve haver alguém que cuide dele.  Deve existir um jardineiro ..

E nós aceitamos e apreciamos os resultados, os sinais evidentes do seu infatigável trabalho; mas  recusamo-nos a aceitar que ele exista.

 

Pense que você seja um artista, uma espécie de  novo Gaudi, um Gênio Gaudi.

Trabalhando arduamente a vida toda, você conseguiu erguer uma torre magnífica,  uma obra maravilhosa, na qual se destacam azulejos pacientemente criados, figuras finamente trabalhadas, cores de matizes raros e harmoniosos.

Sua vida acaba e você se vai; mas a torre fica. 

Quem a vê, fica extasiado; a voz se espalha e todos correm para vê-la. 

E perguntam o nome de quem a realizou. Ninguém sabe quem foi, ninguém sabe o seu nome; você esperaria que todos dissessem: foi o Gênio Gaudi que a fez!

Mas de repente, a voz de um sabichão se levanta e solenemente diz:

- Não foi ninguém que a fez! Foi obra do acaso! Surgiu do nada! Foi a areia empurrada pelo vento que a esculpiu, a chuva trazida pelas nuvens que a moldou, o sol do meio dia que secou e fixou sua massa!  Não foi ninguém, não!!!....

Como reagiria você, Gênio Gaudi,   diante disso? O que diria? O que faria?

Pois eu ficaria possesso; tentaria por todos os meios ser lembrado; faria o possível para que as pessoas passando pela torre dissessem: grande capacidade, este Gênio Gaudi!. Bela obra, que ele fez.!

 

Não poderão nunca separar você  da sua obra; pois ela é a sua expressão.

Mas você não precisa aparecer, para que as pessoas acreditem que você existe; a sua obra fala por si e todos adivinham que você está por trás desse trabalho admirável.

 

Quanto a honrá-lo, adorá-lo, respeitando seus supostos mandamentos, esta é totalmente outra coisa.

Ah, sim, neste ponto entra a invenção e a intervenção dos homens.

São os homens que criam seitas, sociedades, grupos, escolas.

Escolhem aleatoriamente princípios, preceitos, normas e regulamentos, em nome daquele Deus cuja existência é intuitiva – e muito pouco racional.   

Todos dizem ter recebido diretamente dele uma procuração exclusiva

Todos criam e organizam um amontoado de códigos; que se  destinam a facilitar a vida de alguns, em detrimento da de outros.

Premiam e castigam, às vezes com uma crueldade absurda.

Abusam da nossa credulidade, da nossa inércia, da nossa covardia.

Eles nos fazem voltar ao homem primitivo, medroso e ignorante, empurrando-nos preconceitos e crenças, quase todas absurdas.  

Os seus princípios são derrubados pelas descobertas científicas, que dia a dia avançam em direção ao criador – mesmo que, às vezes,  pareçam seguir em sentido contrário.

Porque o conhecimento é uma forma de manifestação da divindade.

Quanto menos sabemos  mais próximos estamos do animal primitivo

Quanto mais aprendemos, mais nos identificamos com o Criador.

Reconheça apenas que existe – que deve existir – este criador. 

 

Forme em sua mente o aspecto dele como melhor achar, como quiser, semelhante a você ou completamente diferente, mas evite revesti-lo de poderes, ou imaginar que ele possa ou queira lhe indicar o que é o bem e o que é o mal, onde se encontram, como devem se procurados – até para que servem.  

 

Só cabe a você realizar algo de bom ou de mau,  para você mesmo e para os outros.  Fatores favoráveis ou adversos independem de sua decisão. 

 

Mas.....Fique com Deus!!