Por: Lucia Czer

 

 

            O velho leão já quase não caça, só o mínimo para sua sobrevivência e suas necessidades vão diminuindo dia após dia. Foge das lutas e move-se cada vez mais mansamente a fim de passar quase desapercebido, não fora seu porte majestoso.

            Mas, elas, as hienas vêm em bando sequiosas de espaço e poder. Cercam-no, rosnam ameaçadoras. Espreitam e acuam, constrangem-no com os dentes arreganhados, raivosas, sedentas de sangue. Aos poucos o conduzem até o limiar de seus domínios.

            O velho leão vai sendo expelido de seu território e o apressa o saber que pouco as impede de galgar-lhe ao pescoço, aniquilando-o definitivamente.

            O velho Nicolau é um velho leão cansado dos embates pela manutenção da vida. Já não tem forças e aos poucos deixa de reagir aos apelos de luta. Alquebrado, carrega no dorso as marcas da trajetória imposta.

            Expulso, dá uma última olhada ao que lhe pertenceu, dá adeus ao que amealhou aos poucos durante a vida difícil e laboriosa. Deixa tudo que conquistou com o trabalho de toda sua existência.

            Espera-se que tenha no peito uma mágoa incontrolável, ledo engano!

            O velho guerreiro vê na linha divisória um novo horizonte, o azul do céu, o espaço sem fim, a liberdade, enfim...

            Não é o fim da linha, mas uma nova linha que se inicia.

            Fecha a porta e sai para viver!