Em busca do fortalecimento das instituições políticas brasileiras um dos temas que gera grande debate diz respeito ao financiamento de partidos e campanhas, ou seja, a investigação sobre a via mais transparente para a alocação de recursos e capaz de produzir uma paridade de forças que permita direcionar o processo competitivo principalmente para o campo ideológico, arranjando para que dessa forma a demanda econômica não seja o elemento definidor da disputa.
Para essa discussão, a autora Delia Rubio destaca alguns pontos para a efetivação desse sistema como por exemplo, a necessidade de uma cultura sócio-política, a autonomia dos órgãos de controle e uma transparência que permeie todo o processo. É importante ressaltar que esta relação entre dinheiro e política produz uma desconfiança da sociedade quanto aos partidos políticos onde ela cita ? "Há a percepção de um divórcio entre uma classe política corrupta e uma sociedade civil honesta, impoluta e transparente", e diante disso, Rubio vai introduzir ao tema o item sobre fundos públicos versus fundos privados evidenciando os pontos positivos e negativos dos dois modelos.
Num primeiro momento surgem os fundos privados como única fonte de receita para os partidos e suas campanhas, que trouxe consigo alguns fatores restritivos à sua aplicação entre eles, o risco da dependência dos representantes políticos em relação ao poder econômico e uma possível desigualdade na disputa, entretanto, existe também o argumento a favor do financiamento privado referindo-se à natureza dos partidos políticos como associações privadas e com participação voluntária, objetivando que seus membros e simpatizantes tenham o direito e o dever de levantar recursos necessários para que os partidos cumpram suas funções. Obviamente este conceito se torna enfraquecido pelo fato dos partidos se constituírem de uma natureza mista, quase pública e onde uma de suas atribuições é o trato da coisa pública a partir da sua inserção no governo.
Em contrapartida às limitações do modelo privado alguns autores enfatizam a urgência da aplicação de um modelo de financiamento público ressaltando suas qualidades como; diminuição dos custos das campanhas, aumento da equidade das disputas, redução do potencial de corrupção, impedimento da pressão direta dos doadores sobre os atores políticos e permissão da participação de partidos que carecem de recursos. Porém, como toda a fórmula não é infalível existe a preocupação com a possibilidade de dependência dos partidos em relação ao Estado visto que, os custeios de campanha advêm de recursos públicos o que a autora chama de uma "estatização" dos partidos.
Rubio lembra que um elemento essencial para que o financiamento público possa alcançar seus objetivos é a utilização de um instrumento de controle eficiente e autônomo.
Contudo para ela, o mais ponderado seria o estabelecimento de um sistema misto incluindo o financiamento público e o privado, sendo o primeiro, vinculado a critérios de distribuição que mesclem os princípios de igualdade e proporcionalidade com elementos objetivos de aprofundamento dos partidos na sociedade, e o segundo, gerido de maneira a garantir a lisura sobre o valor, origem e o destino dos recursos recebidos.
Diante de todos estes componentes elencados até aqui, é de vital importância advertir que sobre este tema não há consenso e nem verdade absoluta e que, portanto, é essencial que se construa uma cultura política direcionada para a idéia de princípios de transparência, competência e compromisso de todos em torno de um objetivo comum que seja o de desempenhar as funções atribuídas da maneira mais idônea possível, mesmo que este pensamento possa parecer um ideário utópico.
Sem uma visão política comprometida com esses fatores não importa o modelo de financiamento utilizado, porque do contrário vai sempre se buscar formas de burlar o processo, ou seja, encontrar as brechas do sistema para com isso levar vantagem na disputa eleitoral.