Edson Silva

Raul Seixas, o roqueiro baiano e maluco mais beleza do mundo, disse certa vez: "...a civilização se tornou tão complicada/ Que ficou tão frágil como um computador/ Que se uma criança descobrir o calcanhar de Aquiles/ Com um só palito pára o motor..." Alguém dúvida ou discorda dele? Dias desses coloquei-me a imaginar. Já pensou ligar o computador e receber como mensagem que todo o sistema da internet foi "deletado" do planeta de forma irrecuperável? Deus nos livre, todos os dados perdidos, toda facilidade de pesquisa, tudo quanto é texto e imagem, sejam besteiras ou sérios, tudo irremediavelmente perdido...

E assim como no filme "O Livro de Eli", talvez virássemos criaturas errantes pela terra, com a visão ofuscada pelo último clarão, em busca de raros exemplares de livros impressos para (quem sabe?) reconstruirmos o conhecimento adquirido e acumulado pela humanidade desde o início da escrita. A tarefa não seria das mais fáceis, mas os primeiros passos necessariamente teriam que ser dados sem que tivéssemos certeza de quanto se precisaria ainda caminhar, quais seriam nossos limites, onde iríamos chegar ou mesmo se chegaríamos algum dia...

E os suores das faces e dos corpos nos fariam lembrar, com imensa saudade, que um dia, sentados na frente do microcomputador, bastava clicar num site de busca (ou sítio, como queiram os mais puros nacionalistas) para ter acesso a quase tudo que se comentava, se escrevia, se falava, se via ou se ouvia em todo o mundo e com direito a viagens pelo passado, presente e futuro. Pensando bem, é melhor nem pensar no fim do banco de dados virtuais. Isto seria a versão mais literal do final dos tempos, pelo menos dos tempos de luz do conhecimento. Lógico que tudo que se aprende deve ser acrescido de valor de juízo e de bom senso para não ser engolido como verdade absoluta.

O fim real do arquivo de informação virtual cairia como a derradeira bomba devastadora sobre todo conhecimento acumulado pela raça humana. A tela com a mensagem em qualquer idioma que: "o servidor não foi encontrado" nos daria calafrios, o desespero de não ter o poder nas pontas dos dedos para encontrar a informação que necessitamos certamente levaria todos a perguntar: "Senhor, porque nos abandonastes?", quanto ao "Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem..." não estou certo que seria consenso aos eventuais exterminadores do arquivo virtual...

Edson Silva, 48 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré.
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