No mundo dos negócios havia uma máxima que dizia que havia empresas "too big, too fail". Algo como grandes demais para quebrar.

A GM parece querer contradizer essa crença.

No dia 31 de março, o presidente americano, BarackObama , anunciou seu projeto para estimular a indústria automobilística, mas rejeitou os planos de reestruturação apresentados pelas montadoras General Motors e Chrysler. Disso dependia a liberação de mais dinheiro para salvá-las da falência. As companhias haviam pedido US$ 21,6 bilhões, além dos US$ 17,4 bilhões que já foram liberados em dezembro do ano passado pelo governo do presidente George W. Bush.

Obama disse que não pensa em "desculpar mais as más decisões" dos executivos das companhias e que elas não podem continuar dependendo de "um fluxo interminável de dólares" dos contribuintes.

Mas o governo americano não fechou completamente as portas para o novo resgate. Ofereceu mais dois meses para que a GM refaça os planos de ajuste e outros 30 dias para a que a Chrysler negocie uma fusão com a italiana Fiat.  A condição para reabrir os cofres públicos, avisou, é que se faça uma "cirurgia radical" nas contas das companhias. Mas enquanto o plano definitivo não fica pronto, a GM deve receber o suficiente para continuar funcionando.

Para Obama, os planos apresentados pelas montadoras são muito tímidos e chegaram tarde demais, o que não deixou escolha ao governo senão pressionar pela saída do executivo-chefe da GM, Rick Wagoner (que apresentou renúncia formalmente no mesmo dia), e apressar a fusão da Chrysler com a Fiat.  Obama ainda não descartou o uso da lei de falências no processo de recuperação das montadoras, apesar de a GM e a Chrysler terem advertido que a hipótese de uma "falência organizada"seria a pior das opções por significar a morte quase certa das empresas. Mas, para o presidente americano, é possível coordenar o processo sem que elas sejam extintas. "Isso não quer dizer que o processo vai levá-las ao fechamento ou vai liquidá-las e que elas não existirão mais", afirmou.

De fato, A maior montadora americana e a segunda maior do mundo, atrás apenas da japonesa Toyota, está tecnicamente quebrada. Seus papéis são considerados ativos de altíssimo risco e ocupam a última posição na classificação da agência de rating Moody''s. Vergada sob o peso de uma dívida de US$ 47 bilhões com o fundo de pensão dos funcionários e com os detentores de bônus, lançados no início da década, a GM corre até mesmo o risco de ter de apelar para a concordata (Chapter 11).

Uma concordata negociada, aliás, é uma opção vista com simpatia pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de acordo com relatos de assessores da Casa Branca. Neste contexto, poderiam ser criadas duas GM: a boa, formada pelos ativos de maior valor, e a ruim, detentora dos passivos trabalhistas e da dívida com investidores.

Mas mesmo os dólares e a disposição do governo em resgatar a GM do buraco podem não ser suficientes para manter a companhia de pé. A crise econômica atingiu os americanos de tal maneira que a questão não é que marca de carro eles vão comprar, mas sim se terão recursos para tal. Em março, as vendas do setor continuaram a trajetória de queda. A GM foi a que mais sofreu, registrando recuo de 45% em relação a igual período de 2008. Patamar mais crítico que os números apresentados pelas rivais Ford (- 41%), Toyota (- 39%), Chrysler (- 39%) e Honda (- 36%). A expectativa é que os pacotes de estímulo, que incluem um seguro que quita uma parte do financiamento caso o cliente perca o emprego, ajudem a reverter essa tendência.

Nos últimos anos, boa parte das vendas nos Estados Unidos se concentraram em utilitários esportivos (conhecidos pela sigla SUV) e picapes robustas. Modelos inadequados para um período no qual o consumidor médio vê o desemprego batendo a sua porta e o preço da gasolina nas alturas. 

Ja é consenso entre os analistas que a GM foi vítima de seu próprio gigantismo, ao se acomodar na liderança de mercado, por optar em continuar investindo em modelos longe da preferência do consumidor pós-crise, enfim por desistir de inovar.

Agora é esperar que o destino da GM seja decidido não pelas ações de seus executivos e sim pelo pensamento dos burocratas de Washington.

É parece que ninguém é grande demais para quebrar, já diziam os funcionários do Lehmann Brothers...

Bibliografia:
Jornal O Estado de São Paulo, edição 42.168 de 31 de março de 2009
Revista Isto É Dinheiro, edição 600 de 08 de abril de 2009
Revista da Semana, edição 82 de 09 de abril de 2009