Filosofia Heideggeriana: Existencialismo e Fenomenologia 

Maria do Livramento Rodrigues Soares Salgado[1] 

RESUMO: No presente trabalho serão apresentadas questões desenvolvidas por Martin Heidegger[2] em sua obra Ser e Tempo, os preconceitos da ontologia antiga – tradicional, os conceitos do ser, metafísica, também fazendo referência a outros filósofos que tratam dessas mesmas questões. Mostrando como o autor apresenta um novo método de indagação sobre "a natureza do ser" e descarta a dicotomia entre o homem racional e o universo insensato em que habita e considera o homem como um participante ativo do "mundo das coisas".

Palavras-Chave: Ser. Fenomenologia. Metafísica. Homem. Ente. Ontologia. 

Introdução:

Segundo  Heidegger, o homem é a porta de acesso ao ser, até se utiliza da expressão “o guarda do ser”, ou seja, é no homem que o ser irá agregar-se. A partir do método fenomenológico: parte do homem de fato, deixa que ele se manifeste tal qual é, e procura compreender, sua manifestação. Afirma que não tem como o ser se manifestar diretamente, em si mesmo, mas sempre como o ser deste ou daquele ente. Por mais que o ser esteja no ente, não há nada no ente que revele a natureza do ser. A metafísica é trabalhada do ponto em que ao haver a ultrapassagem da ontologia por regresso à sua raiz será, simultaneamente, repetição da origem da metafísica e destruição do fundamento da metafísica.

Martin Heidegger trata da questão do ser por sentir-se iluminado pela atitude fenomenológica. Husserl[3] foi um dos filósofos que foi decisivo para ele, pois seu pensamento estava entrelaçado à fenomenologia, que se caracteriza pela análise metódica, pela clareza ao expor e o seu rigor científico. O papel da fenomenologia para Heidegger é se desvincular do idealismo das Ideias e partir da vida real. Mas, não a terá como movimento, como Filosofia existente, real e, sim como possibilidade metodológica, pois ela não caracteriza o ‘quê’ dos objetos da pesquisa filosófica e, sim, ‘como’ daquela pesquisa, fundamentada na maneira pela qual entramos em contato com as próprias coisas.

Fundamenta a fenomenologia como movimento naquilo que se chama de hermenêutica da facticidade, hermenêutica que é primeiramente uma ciência que caracteriza os objetivos, as vias e as regras da interpretação. No caso da fenomenologia, essa própria interpretação, ou seja, anunciar o ser do ente de tal maneira que o próprio Ser venha a parecer.

A pergunta fundamental que tanto Husserl como Heidegger será: Qual o significado do ser? O que nós entendemos por ser?

Até Heidegger, entendia-se, que o significado da palavra ser era evidente, embora indefinível. Mas como sendo um autêntico fenomenólogo, percebe que é difícil responder à questão o que significa o ser.

O ser é o mais universal dos conceitos. A universalidade do Ser transcende toda universalidade genérica. O Ser é designado na ontologia medieval como um transcendental. Esta ontologia medieval discutiu amplamente esse problema, porém, não chegou a ter uma clareza fundamental, até Hegel definir o Ser como “o imediato indeterminado” e faz dessa definição a base de todas as demais explicações categoriais da sua “lógica”. O que se pode perceber sobre o conceito de ser é o mais obscuro de todos.

Quando se diz que o conceito de ser é indefinível, está querendo dizer que o Ser não deduzir-se de conceitos superiores por definição, nem por ser induzido a partir de conceitos inferiores. Heidegger afirma que o Ser não é um ente. Por fim, a forma de determinar o ente dentro de certos limites – a definição da lógica transcendental, que tem ela própria as bases na ontologia – não é aplicável ao ser.

O ser é o mais evidente de todos os conceitos. Em todo conhecer, afirmar, em todo comportar-se com respeito ao ente, mesmo com respeito a si próprio, faz-se uso do termo Ser, e esse vocábulo é supostamente compreensível sem mais. Em já vivermos em uma compreensão do Ser e do significado do Ser ainda ser velado na obscuridade prova que é necessário levantar a questão de novo. A tarefa a que Heidegger se propõe é fazer com que o Ser apareça, torná-lo tema de pesquisa metódica.

Heidegger utiliza a expressão levar à luz da compreensão as estruturas fundamentais do Ser, que são as condições de possibilidade do nosso mundo empírico, o fundamento constitutivo de tudo o que é. Trata-se de compreender esse mundo, e não de explicá-lo no sentido de reduzi-lo a outra coisa a ponto de ele desaparecer como mundo natural, do qual parte o próprio caminhar reflexivo. É essa compreensão que representa a realização máxima e radical da fenomenologia.

Na obra Ser e tempo quando trata da fenomenologia, percebemos a oposição entre o real e o seu significado a oposição entre o real e o seu significado, entre o empírico e o transcendental, sob a forma da oposição. A fenomenologia é a procura de um fundamento realmente radical, não somente do conhecimento, mas da qualidade do ser de tudo que é: um fundamento que seja ao mesmo tempo significado.

O objetivo da hermenêutica fenomenológica é em última análise a questão sobre o sentido do Ser em geral e, nesse sentido torna-se Ontologia, pois aquilo que deve tornar-se manifesto não é o ente que se impõe, mesmo que fosse o Ser-aí, mas aquilo que é escondido em todo ente, a saber, o seu Ser e o sentido desse Ser. Como apresentação do Ser do ente, e do seu sentido, a fenomenologia hermenêutica é Ontologia.

A metafísica, sob todas as suas formas e em todas as etapas da sua história, é uma só fatalidade, mas talvez também a fatalidade necessária do Ocidente e a condição da sua dominação estendida a toda terra.[4]

A Metafísica clássica considerava o pensamento como uma “visão”, o Ser como constante ser-sob-os-olhos, uma presença constante, esquecida de que a facticidade e a historicidade são indispensáveis. O objeto de pesquisa da essência do ser é o domínio onde o pensamento efetua a passagem do ente para o Ser, o horizonte transcendental da determinação do Ser como Ser.  

Visar ao Ser, compreender, conceituar, escolher e aceder são modos de aproximação constitutivos da questão e, portanto, são eles próprios modos do Ser de determinado ente, do ente que formula a questão que é cada um de nós. Desenrolar a questão sobre o Ser significa: a explicação de um ente – aquele que questiona – em seu ser. Esse ente, que é cada um de nós e que tem, entre outras possibilidades de ser, a de questionar, Heidegger o designa pelo termo Ser-aí. Portanto a colocação explícita e consciente da questão sobre o significado do Ser exige uma análise prévia e adequada desse ente relativo a seu ser. Em outros termos, a Metafísica exige uma ontologia fundamental.

Heidegger faz a distinção entre aquilo que é, o ente, e o ser do ente. O que é, o ente, inclui todos os objetos, todas essas pessoas e em certo sentido o próprio Deus. O ser do ente, o Ser em geral, se tornava um ser absoluto, ou Deus. Por que o Ser não é um ente, não é preciso alcançá-lo pelo gênero e pela diferença específica. O fato de compreendê-lo em sua significação fundamental a cada momento já nos mostra que se pode alcançá-lo de outra maneira. A compreensão do Ser é a característica e o fato fundamental da experiência do Ser-aí.

A compreensão do Ser caracteriza a existência humana como modo de ser que lhe é próprio. Determina não a essência e, sim, a própria existência do Ser-aí como ente, a compreensão do Ser faz a essência desse ente. A relação entre essência e existência se realiza graças a um novo tipo de ser que característica o fato Ser-aí. Devido a essência consistir na existência é que Heidegger designa o homem pelo termo Ser-aí e não pelo termo ente-aí.

[...] o Ser-aí não é apenas uma coisa no mundo; é um ser no mundo. As características peculiares do Ser-aí nos dizem algo de grande importância sobre a estrutura do próprio Ser, algo que nunca aprenderemos mediante as ciências naturais ou a cosmologia.[5]

Heidegger começa sua análise do mundo externo pelos utensílios, isto é, pelas coisas tais como se encontram e pelas coisa tais como se encontram e se dispõem na vida cotidiana, em vez de iniciar pelos fenômenos da natureza.

Segundo o filósofo na conversão do pensamento do Ser-aí para o Ser, para superar a Metafísica não significa destruí-la, e sim, mais simplesmente, revelar sua natureza: mostrar que era uma via humanista, subjetiva, niilista, para o Ser, via que por causa desses limites esgota as possibilidades essenciais da Metafísica.

CONCLUSÃO

Heidegger dedica-se a analisar o Ser-aí, descartando o termo consciência. Ao fazer a análise daquele terá como o instrumento da hermenêutica a fenomenologia, esta tem como objetivo levar o Ser a se mostrar, a se revelar.  Ente é um modo de ser e é determinado por este. O ente é tudo aquilo de que falamos ou nos referimos, diz respeito a muitas coisas e em sentidos diferentes. É o que somos e como somos. O homem é o único ente cujo qual podemos ter acesso ao ser, o qual podemos extrair o sentido do ser; ele é um ente que tem relação singular com seu ser.

BIBLIOGRAFIA

GILES, Thomas Ranson. História do Existencialismo e da Fenomenologia. São Paulo: EPU, 1989.

TROTIGNON, Pierre. Heidegger.Edições 70,1965.



[1] Aluna da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, cursando o 8º período.

[2] O ponto de partida do pensamento de Heidegger, principal representante alemão da filosofia existencial, é o problema do sentido do ser. Heidegger aborda a questão tomando como exemplo o ser humano, que se caracteriza precisamente por se interrogar a esse respeito. O homem está especialmente mediado por seu passado: o ser do homem é um "ser que caminha para a morte" e sua relação com o mundo concretiza-se a partir dos conceitos de preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa. O homem deve tentar "saltar", fugindo de sua condição cotidiana para atingir seu verdadeiro "eu".

[3] Husserl propôs um modo fenomenológico radicalmente novo de observar os objetos, examinando de que forma nós, em nossos diversos modos de ser intencionalmente dirigidos a eles, de fato os “constituímos” (para distinguir da criação material de objetos ou objetos que são mero fruto da imaginação); no ponto de vista Fenomenológico, o objeto deixa de ser algo simplesmente “externo” e deixa de ser visto como fonte de indicações sobre o que ele é (um olhar que é mais explicitamente delineado pelas ciências naturais), e torna-se um agrupamento de aspectos perceptivos e funcionais que implicam um ao outro sob a ideia de um objeto particular ou “tipo”.

[4] TROTIGNON, Pierre. Heidegger. p.  82.

[5] GILES, Thomas Ransom. História Do Existencialismo e da Fenomenologia. p.104.