Thiago B. Soares[1]

 

            De saída, Nietzsche desenvolveu teses, e múltiplos conceitos, porém, isso se deu no século XIX, contexto que reiterava suas bases filosóficas, ao trabalhar-se em contextos e épocas diferentes, necessitam de certos cuidados, para tanto, o conceito de desconstrução de Jacques Derrida é pertinente ao se lidar com textos fora de suas próprias fontes de realização, nesse sentido Aranha e Martins (2009, p. 448) apontam em relação ao texto: “Tudo o que se tem é um sistema de signos dentro do qual cada um adquire significado contextualmente, por meio da relação com outros”.

            Posto isto, é patente a necessidade atual do homem de produção científica cada vez mais onerosa, Nietzsche deixa bem claro, mesmo em seu tempo, mais de uma dezena de décadas se passaram e ainda se mantém como uma verdade, mas hoje os avanços ultrapassam até as necessidades dos homens mais instruídos, levando ao homem contemporâneo uma “vontade de nada” que se traduz em grande parte pelo famoso mal do século, pois, ele se intensifica á medida que a ciência se avança, dessa forma, post hocintensificação da necessidade de conhecimento, ergo, mal estar contemporâneopropter hoc. Não que um seja a totalidade da causa do outro, mas, precisamente tem que ver, no momento que se vive de tantas certezas que ontem foram quebradas, em uma análise mais profunda, logo, serão desarraigadas, deixando um vazio nesse ínterim de desacomodação para assimilação. Portanto, avançar em conhecimento em detrimento do gozo das benesses concedidas até o presente momento aparente ser em boa medida um disparate, haja vista, que tanto se tem para tanto mais querer, assim onde poderá residir o relativismo de Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”?  Quiçá um futuro em que não haja mais avanços galopantes possa trazer a pequena medida de paz que o Gautama preconizava para todos os seres vivos.

            Mesmo que o tom dado até aqui seja de aparente pessimista, não há pessimismo que não seja positivo em confronto com a dura realidade, pois um dos desafios que a Filosofia se incumbiu é o de acordar o homem de seu sono dogmático e levá-lo a indagar o quanto do que ele produziu é bom para si, sem perder de vistas as implicações éticas subjacentes à produção do conhecimento. Com empresa tão árdua a Filosofia se faz auxiliar das demais áreas do saber humano, contudo, ao passar do tempo essas mudam de tal forma que é a Filosofia a qual deve se manter desperta para as dificuldades que por ventura venham a surgir, já que talvez outra divindade com feições de Helena tenha tomado as rédeas da espécie homo sapiens, a Ciência.

            Qual ponto de partida não pode ser considerado ponto de chegada, já que isso seria considerado andar em círculos, ou seja, sair do lugar para ficar no mesmo, ao desconstruir os sentidos nietzscheanos, erige-se sentidos que Nietzsche os traduziria como o faz:

Nossa necessidade de conhecimento não é justamente nossa necessidade de conhecimento? O desejo de descobrir, no meio de todas as coisas estranhas, inabituais, incertas, alguma coisa que não nos inquietasse mais? Não seria o medo instintivo que impele a conhecer? O encanto do conhecedor não seria o encanto da segurança reconquistada?... Tal filósofo considerou o mundo como “conhecido” depois de tê-lo reduzido à “ideia” (2008, p. 262).

Quem melhor que o filósofo alemão para retratar tantos medos transmutados em desejos pelo poder de camuflarmos as reais latentes angústias que nos acometem para ainda assim continuarmos a busca mais intrépida em apagarmos o que somos, ou seja, seres frágeis, pouco conscientes da verdadeira natureza, no entanto, cônscios de como apagá-la.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. – 4º. Ed. – São Paulo, SP: Moderna, 2009.

NIETZSCHE, Friederich.A Gaia Ciência. – 2ª Ed. – São Paulo, SP: Editora Escala, 2008.

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[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]