Filosofia da Religião - um breve contexto

Filosofia da Religião

A religião é estudada por diversas áreas da ciência, pela psicologia, fenomenologia, psicanálise e pela sociologia. Essas ciências estudam a consciência religiosa na história. Em outras palavras estudam a consciência do ser humano. Nisso a filosofia da religião se torna uma reflexão a realizar com a ajuda da razão. Disso a filosofia nasceu, como sabemos, na antiga Grécia, como atitude de critica na vida concreta do ser humano. Ela nasceu com a possibilidade de formular a questão da verdade desta vida. Com isso a religião fazia parte desta vida concreta. A filosofia da religião como disciplina própria é recente e não se confunde com a teologia, pois esta tematiza a relação homem-Deus a partir da liberdade de revelação de Deus ao homem, ou seja, a partir de Deus. Já na filosofia, quando o homem filosofa ele mesmo pensa e nisso o pensar filosófico é forma radical da liberdade humana. A religião é um dado que está presente e não se funda na filosofia. Não é filosofia. A filosofia da religião tem a religião como objeto de seu pensar.

A filosofia da religião atualmente se encontra em situação precária dentro do conjunto social.Trata-se de indagação filosófica que usa métodos filosóficos com objetivos filosóficos. Cabe então a investigar o fenômeno religioso.

Na década de 60 foi assistido um eclipse do sagrado, “fim do monopólio das tradições religiosas”. A religião adapta-se ao modo da sociedade capitalista e neoliberal, mergulhando-se no secularismo e ocultamento religioso. As décadas seguintes vão mostrar que tal ocultamento se oculta, abrindo espaço a um espasmo religioso que nos atinge fortemente.

Assim instaura-se até mesmo um regime de concorrência religiosa entre as novas formas religiosas. Elas recorrem ao recurso da divulgação, marketing moderno, gerando assim um grande pluralismo religioso.

Surgem então várias expressões religiosas e movimento.

A exemplo disso surgem as comunidades de base (Teologia da Libertação) dentro da Igreja Católica. Uma espiritualidade voltada para os pobres e de critica ao capitalismo. Criando-se um movimento que se expandiu, articulando com a fé e política. (hoje a teologia da libertação está enfraquecida, segundo Dom Odilo Scheler, Arcebispo de São Paulo em entrevista ao Jornal a Folha de São Paulo).

Nos Estados Unidos desenvolve-se um corrente religiosa neo-conservadora com o intuito de salvar a sociedade capitalista de sua crise cultural, espiritual e religiosa.

Na América Latina, décadas anteriores foram agitadas pelo movimento libertador. Os Jovens entregaram-se generosamente a uma militância ardorosa. Decepcionados pelo resultado, os jovens perderam os sonhos utópicos e acomodaram-se numa vida burguesa. Nesse meio da pós-modernidade cética, a religião é chamada a cumprir várias funções.

Ela oferece segurança e paz contra a insegurança e angustia do futuro, leva a uma resignação diante da inexorabilidade do processo histórico. Isso exatamente como dizia Marx: “ópio do povo”. Existia uma promessa de um mundo melhor, uma nova terra uma outra vida “reencarnação”. Aqui surgem vários novos movimentos religiosos e do neopentecostalismo.

Anteriormente falamos de uma forma genérica que abrange o fenômeno religioso.

Trata-se agora do cristianismo. O Cristianismo, ao longo do século, tem sido abalado pelo impacto externo do ateísmo anticristão e pela força corrosiva interna do secularismo ateu.

O cristianismo foi combatido pelo ateísmo anticristão que considerava como forma supersticiosa, avessa à razão. De dentro do cristianismo surge um secularismo ateu, ligado a herança de J.Fiori (+1202).

O secularismo ateu suprime a Deus, sem abolir-lhe os atributos divinos.
A tradição Judaico-cristã veiculou elementos que permitiriam surgir no Ocidente em secularismo ateu e o progresso tecnológico na esteira de J.de Fiori.
Evidentemente a revelação judaico-cristã alcança o seu ponto mais alto com a Encarnação do Verbo Divino, assumindo a humanidade de Jesus Cristo. De Jesus Cristo pode-se dizer “Este homem é Deus”.
Diante dos acontecimentos os católicos e protestantes, percebem que o cristianismo nesse final de milênio já não se defronta tanto com o ateísmo como seu maior desafio, mas com essa religiosidade vaga, inquieta, pagã, fora das grandes instituições religiosas.

A Igreja Católica sofre no momento presente com o forte impacto dos movimentos religiosos. São ambas as manifestações que deixam a Igreja às voltas.

Um grande movimento que surge dentro da Igreja hoje é conhecido como, Renovação Carismática Católica. Um fenômeno explicável pela trajetória teológica e institucional da Igreja Católica no Ocidente. Um movimento de grande massa, um povo que busca na raiz, as expressões pentecostais. Seu carisma principal é a Efusão do Espírito (falar em outras línguas, língua dos Anjos). Anos atrás essa espiritualidade também gerou grande problema para a Igreja, principalmente na América Latina, onde a espiritualidade que havia era libertadora. O Cardeal Ratzinger (hoje Papa Bento XVI) não hesitou em dizer que o aparecimento de novos movimentos “abre espaço à esperança em nível de Igreja universal”, que “nela se manifesta, ainda, ainda que discretamente, algo com o um período de pentecoste na Igreja”. (J. Ratzinger-V Messori, A fé em crise? O Card. Ratzinger se interroga, São Paulo, EPU, 1985:27.).
O cristianismo em geral, e a Igreja Católica, em particular, vêem-se chamados a praticar com lucidez esse discernimento pastoral e social.
Podemos então aqui perguntar: Por que os homens fazem religião?. Algo difícil de ser dito e respondido. Foi proposta no século passado, a teoria que a religião nada mais era que uma reminiscência que o homem guardava de um período primitivo do seu desenvolvimento. Acrescentava-se que o homem estava aos poucos se educando para a realidade, e dentro em breve deixa para trás, definitivamente, as suas ilusões religiosas, as mais primitivas.
Muitas das expressões do fenômeno religioso que vemos, nos é apresentado como qualquer coisa. Há mitos que se cristalizaram, ritos que se solidificaram, instituições que se chamam religiosas e linguagens que falam acerca dos deuses. Por detrás disso, elas são as fontes de onde surge não a religião mas a racionalização da religião. Pergunta-se: Que é o que caracteriza a consciência religiosa?
Em resumo a consciência religiosa é uma expressão da imaginação. É a própria consciência religiosa que afirma: “Ninguém jamais viu a Deus”.
Por exemplo, os animais não têm imaginação, por isso nunca produziram arte, profetas ou valores e tampouco produziram religião. A religião tema sua base na diferença essencial entre o homem e os brutos – os brutos não tem religião, porque a imaginação é a origem da criatividade humana.
A imaginação é a consciência de uma ausência, a saudade daquilo que ainda não é, a declaração de amor pelas coisas que ainda não nasceram.
A imaginação nos revela as intenções mágicas que habitam os níveis mais profundos da personalidade. O ato da imaginação observa Sartre, é um ato mágico. É um encantamento destinado a produzir o objeto que desejamos, de forma que dele possamos nos apropriar.
Agora, entraremos nas formas de expressão religiosa, e uma delas é o rito. Do ponto de vista religioso o ritual é uma característica que esta em todas as religiões. Vários elementos podem ser caracterizados no seu ritual (preparação do lugar, objetos ou utensílios, atores entre outras). O rito é todo simbólico, todo rito é uma linguagem e todo rito é uma ação.
Rito aparece como uma norma que guia todo o desenvolvimento de uma ação sacra. O rito se torna uma prática periódica. A palavra latina ritus é próxima da palavra sânscrito-védica rta (Rita), a força da ordem cósmica sobre a qual velam divindades.

Isso indica que o rito não é somente uma ação humana mas também uma ação divina. Já o rito está entre o “entre” o símbolo e o mito, quer dizer, uma participa do outro. O rito é equivalente ao mito. O mito recita (é um legómenon) o que o rito converte em cena teatraliza (é um drômenon, de drao “fazer”, que também origina a palavra drama).


à Símbolo/imagem à Mito = discurso (legómenon)

Coisas

à Simbolo/gesto à Rito = ação (drómenon)


O mito relata uma ação divina que difunde na realidade presente em um contexto de sacralidade. Mas é no rito que essa expressão se torna em um ato litúrgico.
Toda ritual precisa de um grupo de pessoas, um lugar sagrado, objetos, vestes e outros, assim o mito dá ao rito um sentido. Podemos assim ver na Bíblia a variedades de mitos e ritos que o povo de Israel realizava. Assim “mitos é historias contadas pelos profetas e demais pessoas, e os diversos ritos realizados como os sacrifícios de animais etc”.
A principio os ritos são classificados pela finalidade. Émile Durkheim propõe uma divisão em três classes:

Ritos negativos (tabus, ascese, jejum).
Ritos positivos (oferendas, comunhão oração).
Ritos expiatórios (expiação e propiciação).

Já para Norman Habel, distingue:

Rito de reforço da energia vital (caça, pesca, guerra).

Ritos de redução da energia vital (práticas de bruxaria)

Ritos apotropaicos (isto é, de proteção contra os maus espíritos).

Ritos de purificação e cura (ablução, lustração, batismo de fogo).

Ritos de adivinhação (por meio de ossos, entranhas de animais, oráculos).


Nisso também temos variado ritos no judaísmo, cristianismo etc.

Rito das festas anuais (judaísmo e cristianismo) festa do Pessah, festa da colheita, festa do tabernáculo, festa de Cristo Rei, Natal, Semana Santa etc.

Há também o rito do sacrifício. Ritos dos ritos, o sacrifício é o fato religioso mais típico, mas ao mesmo tempo o mais difícil de ser compreendido.

A palavra latina sacrificium está relacionada ao “fazer com que alguma coisa seja sagrada” (sacrum facere). Sacrificar é converter em sagrado o que é entendido como a “oferenda” do sacrifício.

Podemos compreender que a chave do sacrifício é a vida oferecida (Jesus se deu ao sacrifício) e a chave desta vida é o divino, fator decisivo sem o qual a ação sagrada não teria sentido.
O Sacerdote realiza o ato do sacrifício, ou melhor, o ato litúrgico. Ele é o sujeito que apresenta a oferenda e recebe o dom divino para tal. Na tradição Católica o sacerdote realiza o sacrifício da missa para um grupo de pessoa. Mediante a oferenda ou a vitima existem os atores principais.


DEUS
OFERENDA VITIMA
divino --------------------------------------------------------- SACRIFICADOR

OFERENDA VITIMA


OFERENDA VITIMA


OFERENDA VITIMA

profano


SACRIFICANTE


Agora veremos o quadro religioso em que se encontra o Brasil.
O Brasil depois de uma pós-redemocratização passa por uma transição econômica, cultural e política, na qual o fator religioso não pode ser descurado.
Diversas igrejas, movimento religiosos surgiram no país como: Igreja Evangélica Assembléia Deus que exportamos para Moscou, Igreja Universal do Reino de Deus que exportamos para Paris e a Umbanda para o Cone Sul.

Já o Catolicismo romano oficial tem em vista a diversidade de seu papado. Diante disso o catolicismo vem buscando retomar sua liderança no Brasil e na América Latina. Mas hoje chama a atenção as manisfetações realizadas pelos pentecostais, na liderança política e nos interesses pelo os meios de comunicação. Uma visão capitalista da sociedade atual.
Pode-se dizer que no Brasil a sua matriz religiosa é diversificada e única, devido às várias expressões culturais e religiosas no país.

Somos de um país brigas religiosas como, por exemplo, entre a Igreja Católica e Igrejas Protestantes, devido às diferenças no seu modo de entende e evangelizar. Entre Igrejas Protestantes e as Religiões Afros-descendentes.

Existe no Brasil diversas matrizes protestantes pentecostais devido seu crescimento, mas também um grande crescimento destas outras igrejas que se destaca-se pelo conhecimento através da mídia etc, são: Assembléia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus (pode ser considerada pentecostal?), Renascer em Cristo etc.

Um caso preocupante é que nas últimas décadas houve um grande crescimento de ataques às religiões afro-brasileiras feitas pelas igrejas neopentecostais, que levam a se tornar em uma “guerra santa ou batalha espiritual”, uma luta do bem contra o mau, devido às representações consideradas como demônios. Já que as Igrejas neopentecostais, pentecostais são consideradas, como igrejas das curas milagres etc.
Mas podemos nos perguntar: Por que as escolha dessas religiões como alvo principal?.
Essa briga deve-se a diversos movimentos que tem um vinculo com a sociedade e mantém um importante valor histórico. A Igreja Universal do Reino de Deus a exemplo de declarar uma guerra aberta é devido ao interesse de quebrar um monopólio religioso. Ela tem uma visão proselitista. Sua linguagem é não é muito diferente de uma sociedade capitalista que pensa somente na sua importância. Para IURD e para as Igrejas neopentecostais, a expressão das religiões afro, como o Candomblé, Umbanda e o espiritismo em geral são considerado demoníacos.

Nesse impasse religioso de muitas criticas até os dias atuais, o bispo Edir Macedo, presidente geral da IURD, lança seu livro: Orixás, caboclos e guias, deuses ou demônios?, numa grande criticas ao candomblé, e a todas as entidades que recebem os nomes de orixás, sejas eles; ogum, exu, oxum, etc.
Com isso as igrejas neopentecostais arranham o Brasil, com suas inseguranças, em um país de grande sincretismo religioso e cultural.

Tendo toda essa pluralidade religiosa, podemos dizer que a sociedade brasileira é marcada por profunda diversidade de práticas religiosas.

Nisso temos o declínio do catolicismo e crescimento dos grupos de cunho evangélico pentecostal. Além das mais diferentes possibilidades de vivenciar o cristianismo, como práticas variadas do catolicismo e as multiplicações dos evangélicos, das tradições afro-brasileiras como candomblé e xangô, da umbanda e do espiritismo. Outras como novas expressões como Santo-Daime e a Ordem Espiritualista Cristã (Vale do amanhecer), Nova Era, Wicca, a Ordem Rosa Cruz (AMORC) Igreja da Cientologia, Nova Acrópolis, entre tantos outros.

Para concluir, no futuro, história cobrará das religiões a contribuição que deram ou os obstáculos que colocaram para uma sociedade humanizada. Assim, nos dias atuais, a mediação do diálogo entre as Igrejas cristãs e entre as religiões deve ser a própria vida, caso contrário, perderam a sua credibilidade e a sua razão de ser.

BIBLIOGRAFIA

LEITURA DE TEXTOS – Filosofia da Religião. Apostila desenvolvida pela Professora CLAUDETE ARAUJO.

GUERRIERO, Silva. Novos movimentos religiosos: o quadro brasileiro. São Paulo: Paulinas, 2006 – Coleção temas do ensino religioso.