SER OU NÃO SER EDUCAÇÃO

Análise Crítica sobre Projetos Educacionais

A Educação no Brasil caminha a passos lentos, descontectados entre sonhos, o ideal e com a dura realidade apresentada e percebida quando nos deparamos com a situação caótica perpassando por infraestrutura fisica, localização, preparação dos profissionais, tanto por parte dos educadores, professores, diretores, trabalhadores das escolas, assim como com a parte administrativa, legislativas e prática.

            Nos filmes aqui citados como base para este trabalho, faremos uma análise do que foi abordado e sobre os seus desdobramentos.

            No primeiro filme, a educação é mostrada, comparada a uma linha de produção industrial, onde as fases são realizadas de forma separada, desconectadas umas das outras, como se não houvesse um elo entre tais fases, embora o objetivo no final, é “preparar esse aluno para o mercado de trabalho”

            Nas palavras de Edgar Morin, “ A escola não lida com indivíduos, mas com uma massa de alunos” referindo-se a forma acima citada e que é aqui apresentada. Mais adiante, o próprio Morin, completa: “A escola ensina conteúdos fragmentados que se empilham sem sentido”

            Neste primeiro filme, também são abordadas outras formas de “educação” que não se aprende na escola, mas que influenciará diretamente na formação do cidadão. Tais atitudes como jogar lixo nas ruas, impede que haja problemas de enchentes e que esta vai trazer problemas que afetaram toda um região, promovendo o aparecimento de doenças relacionadas às enchentes e ao lixo posto de forma inadequada nas ruas, bueiros, esgotos, rios, lagoas, etc.

            Para um país que pretende e carece de mudanças urgentes, a educação não pode ficar restrita somente à escola. Toda a comunidade deve participar ativamente. Os gastos necessários para manter as estruturas funcionando adequadamente, são os mesmos que fazem falta para a manutenção da educação, seja ela voltada para a manutenção estrutural das escolas, sejam para oferecer uma remuneração justa aos professores.

            Segundo o primeiro filme da série, “ a meta era colocar todas as crianças na escola, era alcançar a meta. Porém, as expectativas geradas pela escola moderna não chegou a ser concretizada, ela não provocou o crescimento econômico, a ascensão social, muito menos a igualdade que fora prometida”

            No segundo filme da série, focou-se na transmissão de informações e esqueceu-se a relação entre as pessoas. Os alunos referem  uma dificuldade em estar na escola e repassam a culpa aos professores, com a alegação de que os mesmos estão despreparados para tais funções. Com isso, afastam-se.

            O filme comenta a introdução de artifícios como arte, música e teatro na escola, como faziam as escolas gregas. Alegam que com  a introdução de tias recurso, a criança tem iniciação a seguir as regras e ter  uma participação mais efetiva na vida social futura.

            Fala de  protagonismo do aluno, onde é o aluno que vai em busca do conhecimento e não aquele que fica esperando a passagem de conhecimento pelo professor. Mostra uma escola-modelo no estado de Pernambuco, onde jogos e atividades lúdicas interagem com o ensino regular. Mas bem diferente da realidade do restante do País.

            Segundo Buarque, “o que faz um país mudar, não é o PIB subir, é a taxa de analfabetismo cair...É a capacidade dessas escolas,  de fazer com que homens e mulheres se deslumbrem com a realidade e também de indignar-se e transformar essa realidade”.

            No terceiro filme, vem mostrando  questões como manter a criança na escola para afastá-la das ruas, estrutura das escolas, a afastamento da escola com a vida particular que a criança trás de casa. No filme, é mostrado um exemplo de um município do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. O antropólogo Tião Rocha observou que mais de 95% das crianças tinham rendimento escolar insuficiente e comenta que o local necessita de “menos “ensinagem” e mais aprendizagem. Precisavam de menos escola e mais educação”. Através de uma abordagem franca, chama a sociedade local a participar do processo de aprendizagem das crianças.

            O educador Moacir Gadotti, cita que a escola perdeu o seu espaço, uma vez que perdeu seu espaço de alegria.

            A experiência do Vale do Jequitinhonha é vista como exemplo de uma escola sem muros que deu certo, uma vez que mantinham as crianças estudando e oferecendo possibilidade de crescimento.

            No quarto filme da série, nos fala do período considerado o mais fértil da educação brasileira. Era o período de 1964, pouco antes do Golpe de 64. Nesse período, Anísio  Teixeira e Paulo Freire tornam-se conhecidos no mundo inteiro pro defender uma educação critica e reflexiva. Anos depois, em 1971,  este modelo é substituído pelos militares. As disciplinas como Filosofia e Antropologia são retiradas com currículo, implementando assim o que agora era chamado de Reforma Tecnicista. O País passava por intensa reforma industrial e o objetivo dessa reforma era preparar o aluno para o mercado de trabalho.

            Um dos assuntos abordados neste filme é a re-inclusão da filosofia e da antropologia, aos cursos  fundamental e médio, de forma obrigatória, para que os alunos aprendam a pensar e refletir.

             Quinto filme, trás um exemplo de escola sem muros, onde é o aluno quem decide onde e como aprender. Trata-se de um exemplo de uma escola em Portugal, na localidade de Vila das Aves, próximo  a cidade do  Porto. A Escola da Ponte, onde o objetivo maior é promover a autonomia dos alunos. Neste tipo de  escola  não há series e sim ciclos, que vão desde a iniciação até a consolidação e o aprofundamento.

            De acordo com o professor Celso Antunes, “O aluno preparado, é aquele que sabe pesquisar, que sabe argumentar, que sabe ligar-se ao mundo que ele vive.”

            No sexto e ultimo filme desta série, o foco é a evasão escolar e a principal causa desta, é a reprovação. Na tentativa de eliminar o problema “reprovação”, a escola Amorim Lima Nesta escola em questão, foram  abolidas as provas e  reprovações, adotando o sistema de aprovação continuada e há acompanhamento de tutoria, que um educador se responsabiliza pro um grupo de até 18 estudantes, inspirada na Escola da Ponte, Portugal.

            O que vemos nesta série de documentários é que parece que vivemos num mundo de fantasia, onde tudo é belo e perfeito.

            Falta-nos estruturas para chegarmos a esse denominador comum.

            A educação no Brasil não é levada a sério e em muitos, mas muitos casos, quem fala pela escola não são os professores, não são os educadores e sim filósofos, antropólogos e outros tantos “ólogos” que pouco entende de educação, que não conhecem as realidades de estar em uma sala de aula sem a menor condição física, ambiental, humana, para se fazer um bom trabalha educacional.

            É fácil falar de uma escola-exemplo, mas estas são pinçadas cirurgicamente. Na grande maioria das escolas espalhadas pelo Brasil, as condições são péssimas; Não é espaço físico, não há material básico, como carteiras, quadros. Não  há em muitos casos, como varias vezes noticiados em jornais de televisão, escolas sem água potável, sem teto, sem chão, sem energia elétrica...  e como falar de educação nesse tipo de situação?

            Não há como falar em educação, sem antes falar prioritariamente de educação fundamental.. Mas é aí que encontramos nosso maior desafio. Observamos o ensino superior receber verbas para pesquisas, tudo bem. Mas como fazer com que este aluno, em sua grande maioria, vinda de áreas de grandes carências, seja elas financeira, habitacional, alimentar, higiênica, social, chegar ao ensino superior e aí sim, fazer proveito das verbas e dessas condições?

            Há de se repensar como esta população vai, se é que vai, chegar ao ensino superior com qualidade.

            Há de se pensar em uma grande reforma educacional brasileira em todos os níveis, mas principalmente na base educacional.

            Os exemplos acima citados são importantes, mas o mais importante é fazer com que o aluno realmente aprenda a aprender. Artes, dança, teatro, esporte são fundamentais, mas há de se voltar ao “be-a-bá” da educação, e isso começa lá no ensino fundamental, do primeiro ao quinto ano. E é justamente aí que este recebe menos atenção.

            A comunidade deve participar efetivamente dessa reforma, mas esta tem que partir de dentro para fora da escola. Ensinar o aluno a ler, escrever, entender o que lê e não simplesmente ensiná-lo a assinar ou desenhar o seu nome.

            Segundo dados do IBGE, de 2012, falam em mais de  8% da população analfabeta em 2011. Deste percentual, cerca de 54%, localizados nas regiões Nordeste e Centro-Oeste do país, na faixa etária dos 15 anos de idade.

            Ainda de acordo com a pesquisa, o percentual de analfabetos, acima de 60 anos,  chega a impressionantes 24,4 %.

            Em relação aos analfabetos funcionais, na faixa etária dos 15 anos de idade,  o percentual no ano de 2011 foi estimado em 20,4 %. Em 2012, esse numero foi cerca de 18,3%. Mas na há o que se comemorar, pois são cerca de 27,8 milhões de pessoas.

            Outro dado a ser observado nas pesquisas do IBGE em 2012, é que, de acordo com esses  dados, cerca de 98,2% da população com idade entre 6 a 14 anos estão na escola.  Na faixa etária de 15 a 17 anos, esse numero cai para 84,2%. Na faixa etária entre 18 a 24 anos, esse percentual cai para cerca de  29,4%. Isso significa que, a medida que a população vai avançando na idade, vai perdendo seu interesse em manter-se na escola. Evasão escolar? Desinteresse em estudar? Quais são os motivos?

            Um dos dados mais alarmantes deste cenário, é descrito pelo jornal Correio do Povo (17/07/2012) quando afirma que no Brasil, 38% dos universitários são analfabetos funcionais.

            E o problema é empurrado para debaixo do tapete, pois, como esperar um futuro com esta perspectiva assustadora???

            Enquanto se discute “como melhorar  a educação” atrás de computadores, atrás de mesas em salas com ar condicionado, algumas de nossas escolas nem luz elétrica tem, que dirá internet... Segundo dados da Agencia Brasil, publicados pelo site UOL Educação, em junho de 2013, trás informações consideradas e comparadas a piores nações. Segundo o site, apenas 0,6% das escolas brasileiras têm estrutura adequada para o ensino ideal, que inclui biblioteca, laboratório de informática, ciências, quadra esportiva e outras dependências. Mas a pior  e mais preocupante das informações diz que, ainda segundo a Agencia Brasil, 56% das escolas não conta com estrutura elementar, que abrange sanitários, sistema de esgoto, cozinha com equipamentos e energia elétrica. 13 mil escolas não tem energia elétrica e 72,5% não tem biblioteca.

            No município de São Lopes, no estado do Pará, a comunidade de São Lopes nunca teve energia elétrica, mas cerca de 150 famílias que moram na região, são beneficiadas por projetos sociais do Governo e recebem equipamentos e eletrodomésticos. Nem mesmo a escola tem conseguido fornecer à população condições adequada de higiene, tudo provocado pela falta de saneamento e de energia elétrica,  as escolas, algumas delas feitas em madeira, estão caindo aos pedaços, segundo o site do Sindicato dos Professores do Pará, postada em abril de 2013.

            Recentemente o Programa Fantástico, da Rede Globo, abordou os temas educação e a situação precária em vários cantos do Brasil, em especial, nas regiões mais afastadas dos  grandes centros, com a região norte, região nordeste. Equipes do programa da emissora estiveram  em várias cidades da região nordeste e segundo dados da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de Santa Catarina, 44,5% das escolas do país apresentam a mesma situação.

            Quando nos deparamos com situações  como as descritas acima, observamos o quanto ainda falta infra-estrutura  para as nossas escolas, observamos que ainda há muito a ser feito para melhorar.

            Em relação aos professores, a situação não é tão diferente neste cenário. Para Sueli Cain, diretora acadêmica do grupo educacional Weducation, controlador, entre outros, dos colégios Mater Dei, Internacional Ítalo-Brasileiro e Internacional Vocacional Radial, o professor  é retratado pela mídia como um profissional que até tem força de vontade, mas não possui formação adequada para exercer sua profissão. Assim, ele é causador em parte da deficiência educacional dos alunos. “Há projetos que valorizam o professor na mídia, porém são poucos”, postado por PAIVA (2014)  no site Carta Fundamental.

            O resultado disso, da falta de estrutura no ensino fundamental e no ensino básico, vai ser refletido no futuro, com a chegadas desses alunos à faculdade, arrastando os problemas à tira-colo. Gatti (2008) denuncia a precariedade em que se encontram os cursos de formação de professores em nível de graduação, esclarecendo que os cursos de formação continuada, em especial na rede pública, servem muitas vezes como processos compensatórios. A constatação dos resultados de concursos, pesquisas, avaliações aponta que os cursos de formação básica dos professores não propiciaram adequada base para a sua atuação profissional, afirma Nunes (2013)

            Segundo ainda a autora, As dificuldades de aprendizagem se originam nas relações produzidas nos processos de socialização e apropriação do conhecimento. Neste sentido, não se pode falar em dificuldades de aprender sem levar em conta as condições de ensinar, o contexto no qual os sujeitos estão inseridos e outros fatores determinantes.

REFERÊNCIAS

- Jornal Correio do Povo. Noticias-Geral-Educação. Disponível em: http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=444534  Acesso em 31/03/2014.

-  BARBOSA, C.;  Enquanto 13 ml escolas brasileiras não têm nem  mesmo  luz elétrica, Governo gasta R$28 bi  com a Copa. 04/06/2013. Disponível em: http://www.folhapolitica.org/2013/06/enquanto-13-mil-escolas-brasileiras-nao.html  Acesso em: 02/04/2014.

- SINTEPP. Falta de energia elétrica prejudica escolas de comunidades de Bujarú. Disponível em: http://www.sintepp.org.br/some-denuncia-falta-de-energia-eletrica-prejudica-escolas-em-comunidade-de-bujaru/ Acesso em:01/04/2014

- PAIVA, T. O professor e a notícia. Carta Fundamental, a Revista do professor. Janeiro de 2014. Disponível em: http://www.cartafundamental.com.br/single/show/148. Acesso em 01/04/2014.

NUNES, M. R. M. e Col. O Professor frente às dificuldades de aprendizagem: Ensino Público e Ensino Privado, realidades distintas?  Revista de Psicologia. Vol IV, número I. (Jan-Jun 2013). Disponível em: http://www.revistapsicologia.ufc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=146%3Ao-professor-frente-as-dificuldades-de-aprendizagem-ensino-publico-e-ensino-privado-realidades-distintas&catid=39%3Avolume-iv-numero-i&Itemid=54&lang=pt  Acesso: 02/04/2014.