Filme "O amor e outras drogas" é um insulto aos Propagandistas!

Se você trabalha na propaganda médica irá ficar enrubescido após levar seus familiares ao cinema para ver este filme. Para retratar a indústria farmacêutica e o trabalho dos representantes, o diretor Edward Zwick utilizou-se de quatro personagens, sendo três propagandistas e um GD, completamente caricatos e por isto, bem distantes da nossa realidade profissional. Segue abaixo minha visão sobre o que assisti.

O ator Jake Gyllenhaal é Jamie, protagonista da trama. Ele ingressa como trainee na Pfizer, em meados dos anos 90, com a missão de promover Zoloft e Zitromax, que naquela época ainda eram blockbusters da empresa. Seu mentor, o 2º personagem relacionado à IF, é um GD obeso, patético e tarado. As primeiras tentativas de visitas de Jamie aos médicos, no estacionamento de um hospital, do ponto de vista de treinamento, são ridículas de tão absurdas. A situação piora mais quando, após cobrança de resultados por parte do GD, Jamie acessa o armário do serviço do hospital, deixa as AGs de Zoloft, mas furta todas as AGs de Prozac (Lilly), seu principal concorrente. Na sequência, ainda no estacionamento do hospital, ele simplesmente joga as AGs de Prozac no lixo, onde são achadas e consumidas avidamente por um mendigo. Esta cena é repetida algumas vezes, indicando um hábito rotineiro de acesso, furto e descarte de material da concorrência.

O envolvimento entre Jamie e Maggie (Anne Hathaway), inicia quando o Dr. Knight (médico líder de prescrição) aceita a oferta de US$ 1 mil de Jamie para vê-lo consultando seus pacientes. Na consulta de Maggie ela tem o seio examinado pelo Dr. e este fato desperta imediatamente o interesse de Jamie em conhecê-la mais intimamente(!).

Ao longo do filme, Jamie também se destaca como garanhão, conquistando, além de outras, a secretária do Dr. Knight e através dela, obtendo facilmente o telefone de Maggie.

O 3º personagem, Tray, é o representante da Lilly, que justamente promove Prozac com grande sucesso no hospital onde Jamie necessita alavancar resultados. Este, assim como o protagonista e rival, é alto, bonito, ex-fuzileiro naval e dirige um Porche. Para impulsionar o receituário de Prozac com o Dr. Knight, Tray costuma pagar viagens de férias para o mesmo para Flórida e Havai. Por uma incrível coincidência, apesar de casado, Tray manteve um romance extra-conjugal com Maggie, já então namorada de Jamie. Por conta dos ciúmes de Tray, deste caso antigo, ambos representantes trocam socos no estacionamento do hospital, sendo que Jamie é o agredido, mas revida mesmo caído.

Lisa é o 4º personagem relacionado a IF. Trata-se da única que representante que aparece no filme. Perfil: jovem, loura, bonita e sensual. Lisa entra em cena três vezes. Na primeira, Jamie dá em cima dela, sem sucesso. Na segunda cena, ela diz para Jamie, desencorajando suas investidas, que ingressou na profissão apenas para engravidar de qualquer médico(!). Na terceira cena, Lisa promove uma festa do pijama (suruba) em sua casa, convida Jamie e o leva para seu quarto. Neste ambiente, a meia luz, já há uma outra mulher, naturalmente linda também, nua observando. As duas mulheres se beijam longamente e a representante então puxa Jamie para a cama, que mantém expressão atônita, para início do menage. Durante o sexo grupal, turbinado por Viagra, Jamie sofre priapismo, abandona às pressas a casa de Lisa e segue direto para o hospital, onde recebe atendimento médico de emergência.

Quase ao final da película: Jamie distribui AGs de Viagra como bananas dentro do hospital para pessoal de apoio (nenhum médico na cena) e por conta dos bons resultados de vendas obtidos com o Dr. Knight, além do impulso do lançamento de Viagra, é promovido para trabalhar na matriz da Pfizer, em Chicago.

Esta é a IF retratada no filme. Não há nada de positivo na conduta profissional ou pessoal dos representantes. Pelo contrário. Quando promovendo produtos, somente práticas antiéticas são retratadas em quase duas horas de filme.

Sinceramente fiquei constrangido de assistir a tanta baixaria e maniqueísmo no relato de uma profissão que considero das mais interessantes, honradas e cujos fundamentos passo adiante para dezenas pessoas, em cada turma, nos nossos cursos.

Se você quer ver pouco humor, muito sexo com roupa, a palavra fuck citada a cada minuto e a imagem dos profissionais da IF sendo novamente jogada no lixo moral, assista "O amor e outras drogas". Caso contrário, sugiro fazer qualquer outra coisa mais divertida.

André Reis
Coordenador Geral da REPFARMA
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www.repfarma.com