Filho do ritmo, Terra e luta.

Chico Science, filho da terra, traz em sua bagagem a cor olindense e o cheiro do Recife. Isso já revela, em tom, o seu aguçar pela batida colorida e mastigada do manguebeat.

Infância humilde faz que o andarilho pontue a sua arte, a sua liberdade. Canta a desigualdade e os desiguais, grita de horror alimentado, nas calçadas, com seus berços sem colchões.

Sensibilidade ao pensar no bico do beija- flor, ao sentir o amor grita à natureza, imbricando elementos naturais com factuais. Faz arte, tendo arte.  Desvela o olhar daquele que já não ver mais. Os cegos do conformismo com os sapatos que não os apertam.

Ponte, luta de hemisférios desconectados, retirados da óptica do vivente, diferença social e intelectual, jogo de paradoxo no mesmo cenário, que alimenta e passa fome. Sua música, sem aval mascarado da MPB, dos rádios com cataratas nos olhos, agora entra no cenário do branco burguês, do jornal do rico de sangue, da sociedade de carros blindados.

Chico Science injeta nas veias dos que pisam no chão o fato de que a diversidade existe e precisa levar a vacina da não ignorância. Salva o mangue. Salva a sociedade que cata caranguejo do fidalgo que não pega ônibus. Salva a herança da terra trajada de seda que insiste em matar.

Não comeu escargot dos restaurantes franceses, não vestiu paletó, nem engravidou das soluções da história desumana, dos quem têm tanto, contra os que não têm nada. Pariu um ritmo de vida, um sopro de vida; “ anamauê, auêia, aê...”