* Título: O que é passar a limpo.

 “A edição de textos consiste em reescrever o original para lhe dar três características básicas do trabalho de qualidade – clareza, concisão e objetividade”. (pag. 16)

“Não estamos falando de produções literárias, mas de textos profissionais (...). Eles precisam ser claros para dizer exatamente o que precisam dizer. Precisam ser concisos para não sobrecarregar o leitor com informações desnecessárias. E precisa ser objetivos para ater-se às informações relevantes. Editar pois, é fundamental”. (pág. 16)

“A técnica de passar a limpo utiliza dois instrumentos de trabalho, o facão e o pé de cabra. Com o facão, o autor ceifa palavras e frases longas, inúteis, vagas e desconjuntadas. Com o pé de cabra, à semelhança dos ladrões, abre espaço par aa pontuação e para vocábulos, frases e estruturas claras e descomplicadas”. (pág. 17)

“A gramática é o esqueleto do texto. Ignorá-lo? Nem pensar! É como se o engenheiro civil desprezasse os cálculos estruturais na construção de um prédio. A obra desmoronará cedo ou tarde. Com o texto ocorre o mesmo. Se não estiver bem escrito, falhará no momento em que atingir o alvo (o leitor). Ou seja, deixará de transmitir a mensagem”. (pág. 18)

“O conhecimento gramatical ou a aplicação automática das regras não garante bom texto. Eis a lição de Chomsky. Uma frase, para ser considerada frase, precisa fazer sentido. Deve respeitar as normas da morfologia e da sintaxe e, ao mesmo tempo, comunicar a ideia. Sem isso vira uivo”. (pág. 19)

*Título: Palavra perfeita.

“O problema mais comum nos textos é o tamanho. Escreve-se demais. Escreve-demais, escreve-se muito, como se a qualidade pudesse ser medida por metro ou peso. Extensão não é documento e nem excelência”. (pág. 21)

“Palavras têm peso. Poder. Vida. É preciso escolhê-las com cuidado, porque há palavras para tudo. Afirmar é mais incisivo do que contar. Gritar é mais agressivo do que afirmar. E assim vai a rica Língua Portuguesa”. (pág. 22)

“Cabe a pergunta: qual é mesmo o objetivo da dissertação? O resumo, como o próprio nome diz, deveria ser a síntese da proposta, com objetivos, metodologia de pesquisa e conclusões. No texto, o verbo investigar caracteriza a vagueza”. (pág. 23)

“Locuções são duplas, trios, quartetos de vocábulos que cumprem, juntos, uma função na frase. É possível passar o facão – menos palavras podem dar o recado (...)” (pág. 24)

“O uso de termos específicos deixa o texto mais claro, sofisticado e elegante. A generalização confunde o leitor e deixa-o incerto sobre o que o autor pretendeu dizer”. (pág. 25)

“Redundância, nome sofisticado para o blá-blá-blá, é um tipo de prolixidade. Nada criativa, repete a ideia com palavras diferentes. Parece que o autor duvida da capacidade do leitor de entender o recado (...)”. (pág. 26)

“O uso de jargões corporativos é mais dramático em determinados setores, como o de informática e novas tecnologias. Ao jargão corporativo acrescenta-se o vocabulário técnico, incompreensível para leigos (...)”. (pág. 28)

“Qual o problema da voz passiva? De um lado, ela torna a frase mais longa. De outro, dá a impressão de que o sujeito foge às responsabilidades. Ele não pratica a ação. Sofre-a. Na voz ativa, o sujeito é o agente. Funciona como a locomotiva, que puxa o verbo e os complementares”. (pág. 29)

“O editor tem de se debruçar sobre a organização dos períodos com o despudor com que as sogras se metem no casamento dos filhos. Se necessário, deve fazer uso do facão e do pé de cabra. E, como ocorre com os seres humanos, casamentos harmoniosos podem durar a vida inteira se alguns compromissos forem mantidos. Ao editar, preste atenção em pontos importantes”. (pág. 36)

“Entre orações subordinadas, o casamento é mais difícil. A comunicação, mais sutil. Como se trata de enunciados que dependem uns dos outros para sobreviver, o entrosamento deles deve ser perfeito, de tal magnitude que precisam apresentar estrutura gramatical e sintática idêntica. A essa comunhão de almas chamamos paralelismo”. (pág. 36)

“Nos períodos, as orações precisam de nexo. Elas não podem ficar soltas, falando sozinhas. O truque para engatá-las está no uso de elos chamados conectivos. São partículas de transição que, como o nome diz, permitem a passagem lógica de uma ideia para a outra. Se uma rompe, adeus sentido”. (pág. 39)

“Por isso, um dos cuidados do editor é a escolha da conjunção, locução ou advérbio que melhor traduza o vínculo das ideias (...)”. (pág. 39)

“A maneira como as ideias se juntam muda o sentido da mensagem. Olho vivo!”. (pág. 41)

“(...) Na edição de períodos labirínticos, é preciso levar em conta a ideia central do autor, que deve ser o fio do condutor das demais. A estruturação das orações altera o sentido do texto (...)”. (pág. 43)

“(...) A razão é simples: a ordem e a organização dos períodos não são aleatórias. Obedecem a um adjetivo. Ao editar o texto, privilegie a ideia principal. As outras seguirão a chefona”. (pág. 44)

*Título: trilhos das ideias.

           

            “(...) As frases precisam ser conduzidas de forma harmoniosa pelos precipícios, vales e montanhas. Em isso, um texto pode se transformar num amontoado de ideias sem rumo – bem escritas, mas soltas ao vento”. (pág. 45)

            “A redação dos parágrafos constitui recurso fundamental do texto. É também instrumento importante de edição. Em muitos casos, mudanças simples – como trocar frases de lugar ou decompor ideias – conferem clareza, eloquência e elegância ao recado”. (pág. 45)

“Não há nada mais clássico do que a regrinha de ouro que recomenda utilizar um parágrafo para cada ideia. E, como regrinha de prata, que se dê vez a parágrafos curtos. Na passagem de um bloco para outro, o leitor respira, tira um tempo para assimilar o que foi dito e recupera o fôlego para outro percurso da viagem”. (pág. 46)

“Há jeitos e jeitos de redigir parágrafos. O mais seguro é o padrão. Ele tem duas partes. A introdução, chamada tópico frasal, mata a cobra. Anuncia a ideia-núcleo. O desenvolvimento mostra o pau. Sustenta o tópico”. (pág. 46)

 “Escrever bom parágrafo tem duas vantagens. A primeira: dá prova de maturidade linguística. A segunda: ajuda a redigir textos de qualidade (...)”. (pág. 48)

“(...) O tópico frasal define a ideia-núcleo do parágrafo – as diferentes opiniões sobre o PAS (...)”. (pág. 48)

“(...) O tópico frasal faz uma pergunta. O desenvolvimento, ao responde-la, recorre à decomposição. Divide o todo em partes. Depois retoma-as uma por uma (...)”. (pág. 50)

“Você pode construir o parágrafo com uma estratégia. Ou misturá-las. Mas precisa de três cuidados. O primeiro: amarre os períodos. Uma frase tem que conversar com a outra, se ficar de fora, sem diálogo, obra o olho. Há algo errado. O segundo: evite a fragmentação – isolar ideias que deveriam estar juntas. O último, mas não menos importante: fuga da acumulação. Não agrupe ideias que têm de estar separadas”. (pág. 50-51)

“(...) diante do mar de informações, precisou enfrentar o desafio de transformá-las num texto com unidade, coerência, clareza e, claro, charme (...). Primeira providência: conhecer o terreno. Do que trata o texto? (...). Segunda providência: separar ideias: 1. Apresentar o tema; 2. Citar os avanços; 3. Referir o desafio atual; 4. Apontar a forma de vencê-lo”. (pág.56)

“(...) Comecemos pela introdução. A abertura é a parte do texto que pega ou perde irremediavelmente o leitor. Para assegurar personagem tão requisitado, impõe-se encontrar uma forma que lhe chame atenção”. (pág.56)

“Os parágrafos ficaram muito longos? É possível diminuí-los sem cometer o pecado da fragmentação. Basta dividir uma ideia em subideias. Às vezes a secundária ganha relevo. Outras, o tópico frasal se desenvolve em mais de uma etapa”. (pág.57)

“Ao editor compete garantir a coerência dos enunciados. Em outras palavras: dizer coisa com coisa. A introdução dá o norte. O desenvolvimento segue-o. Se o escritor defende um ponto de vista na abertura, a sequência tem de apresentar argumentos capazes de sustenta-lo. Se faz perguntas, as respostas devem vir logo adiante. Só assim, articulando as partes como ganchos que prendem os vagões, garante-se trenzinho uma viagem tranquila até o destino final”. (pág. 59)

*Título: Pontos & CIA.

           

“Os sinais gráficos – vírgulas, pontos, travessões, parênteses – não caíram do céu nem saltaram do inferno. Foram criados. Vieram ao mundo por necessidade de expressão. Sem os recursos da língua falada, que também fala com o tom da voz, os silêncios, a gesticulação, as caras e bocas, a escrita buscou compensações. A vírgula indica pausa curta. Não é tão breve que se confunda com a vírgula. Nem tão longo que pareça ponto. Equilibra-se no fio da navalha”. (pág.63)

“O emprego da vírgula obedece a três regras. Ela separa: termos e orações coordenados, termos e orações explicativos, termos e orações deslocados”. (pág. 64)

“A língua copia a vida. Na frase, também aparece termos independentes. A única relação entre eles é estarem postos um ao lodo do outro. Sempre que numa oração aparecer mais de um sujeito, mais de um objeto, mais de um adjunto, haverá termos coordenados”. (pág. 65)

“A língua é um conjunto de possibilidades. Flexível, a danada detesta monotonia. Oferece vários jeitos de dizer a mesma coisa”. (pág. 69)

“Na ordem direta, o adjunto adverbial (o termo que indica circunstância – causa, tempo, modo, lugar, comparação, conformidade) vem no fim da frase”. (pág. 71)

“As orações adverbiais não fogem à regra. Quando vêm depois da oração principal, estão no lugar delas”. (pág. 72)

“As orações são como as pessoas. Algumas adoram dar duro. Trabalham tanto que se sobrecarregam. Têm dois predicados – um verbal e outro nominal. O verbal exprime uma ação; o nominal, modo de ser do sujeito no momento da ação. O modo de ser chama se predicativo. Identifica-lo parece difícil, mas não é. Basta saber que ele esconde o verbo estar (...)”. (pág. 73)

“O predicativo dos predicados verbo-nominais joga no time dos advérbios. Os professores o chamam de rabo quente porque não pára no lugar. O cantinho dele é depois do verbo. Se passar para frente, não dá outra. A vírgula pede passagem”. (pág.73)

“As conjunções coordenativas têm o cantinho delas. É no começo da oração. Mas nem todas têm a fidelidade do cão. É o caso das adversativas e das conclusivas”. (pág. 74)

“O ponto e vírgula separa os termos de enumeração (...), o ponto e a vírgula torna o texto mais claro. Com isso, facilita a vida do leitor (...). Os dois pontos fazem o papel do anjo Gabriel. Anunciam! (...), o hífen (-) tem dois empregos: liga o pronome átono ao verbo; forma palavras compostas (...), o travessão introduz diálogos, junta palavras sem formar vocábulo novo, separa as datas de nascimento e morte de uma pessoa, destaca um termo opaco, escondido, substitui os dois pontos (...)”. (pág. 75-78)

“O detalhe faz a diferença. Um texto caprichoso não nasce ao acaso. É fruto da atenção plena. Pormenores aparentemente sem importância ganham relevo (...)”. (pág. 80)

“Se o período começa e termina com aspas, o ponto vai dentro da duplinha (...), se o período começa antes da citação, o ponto é intruso (...), pontos de interrogação que integram a frase citada fica dentro das aspas (...)”. (pág. 81)

“O uso de pontos constitui ótimo recurso para evitar períodos cheios de centopeias e labirintos. Gerúndios, quês e demais muletas que encompridam a frase não resistem a um ponto. Se seu período ultrapassar os 180-200 toques, acenda a luz vermelha. Dê a marcha a ré e divida o grandão”. (pág. 81)

“A ausência de pontos, vírgulas & cia mata mais que pneumonia” (pág. 83)