Ficha bibliográfica da obra:

WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. Petrópolis/RJ, Vozes, 1992, 87 p.

"O professor em sala de aula, adotando o livro texto (...), os alunos compram o livro. Na realidade, a aula versa sobre qualquer coisa, menos sobre os assuntos do livro. Os conteúdos restringem-se aos resumos e as provas são feitas como copias sobre o que foi escrito nos quadros de giz. Quase nada foi ensinado, o gasto com material serviu apenas para agradar aos vendedores e editores (...). a teoria do fingimento é assim. O professor pode estar em sala, no entanto, não se sabe se há algum ensino." p. 13.
"O professor enrolador, nada ensinando durante o ano letivo, chega ao final sem material para exigir (...); geralmente quando o professor finge que ensina, e, depois nada exige, os alunos fingem que aprendem e nada fazem. Quando porem, não se leciona e se exige depois um grau de dificuldade incompatível, os alunos fingindo-se interessados, procuram a direção e reclamam do mau desempenho do professor e desejam da escola uma satisfação para melhorar o nível." p. 15.
"Esta fase reflete a política do fingimento, estabelecida no Brasil (...). ao lado do jeitinho (...) é o fingimento de todos os acomodados, por um lado aquietado pelo clima e pelas injunções conjunturais, e por outro, fingindo fazer alguma coisa para garantir um salário irrisório no final do mês. Esta estrutura define-se como sub-emprego (...)."
"A manutenção do subemprego persiste, os funcionários vão levando uma vida sem cobranças e sem exigências, continuam nas praias com salários baixos (...); lazer + reclamação + greves + desilusão = FINGIMENTO IMPRODUTIVO em nome da ordem e do progresso." p. 19.
"(...) os pais desembolsam mesadas semanais para que eles gastem nos clubes e nos lanches, permanecem em seus trabalhos durante todo o dia, deixam de lado algum lazer para levar e buscar filhos nas escolas, nos clubes, nas portas dos cinemas, e vão se tornando verdadeiros escravos-livres, pensando estar fazendo uma obra meritória, quando fabricam adeptos da malandragem." p. 22.
"(...) na verdade, todas as escolas fazem política (...) cada sistema escolar, quer defender, através de seus currículos e programas, sua ideologia política, sem a interferência do estado que, na maioria das vezes, tem outra ideologia; ensinando, o professor faz política, organizando-se uma escola faz política, através de todo o seu sistema didático-pedagógico." p. 26.
"(...) neste país, ser capaz de sentar-se numa carteira para receber algum ensinamento é um privilegio. Deveria ser um direito concretizável, mas é, na realidade, privilegio (...). As vagas são semelhantes às moedas, os alunos detêm o valor representativo, não podendo destruí-las por ser propriedade de toda uma nação (...)." p. 30.
"A atitude de professores nas escolas, de educadores em vários estabelecimentos de ensino, não pode está ligada à ideologia partidária, deve e pode está ligada à verdade cientifica. A escola pode ser palco de debates, o que não se admite é a exigência de um professor, no sentido de que os alunos assimilem seus objetivos ideológicos (...)."p. 32.
"Na verdade não importa tanto a ideologia, importa o comportamento profissional de quem pensa e milita. (...) porque alguns confundem mudanças com relaxamento."p. 33.
"O profissional que não cumpre o seu dever, não importa que seja da direita, do centro ou da esquerda, simplismente, não é bom profissional e suas idéias merecem pouco credito."p. 34.
"(...) a escola em nossos dias é presa em dois princípios opostos a educação: reprimir e punir para incutir responsabilidade nos alunos (...); quem é irresponsável, o aluno, deixando seu dever incompleto, ou o deputado, faturando o setor apesar da solene ausência? Qual dos dois tem menos vergonha, menos escrúpulos, o aluno, por não dar importância à função social de sua escola e a mensalidade para pelo pai, ou o Senador da Republica, recebendo o dinheiro do povo por um serviço não cumprido?."p. 37.
"Em todos os sistemas de ensino, os conteúdos apresentam-se como manifestos e ocultos (...); (...) muitas vezes um professor, sem sentir, passa aos alunos valores ocultos em seu conteúdo, mas assimilados até com maior facilidade e refletidos em forma de atitudes (...)."p. 40.
"(...) em educação e no processo de aprendizagem, existem duas coisas diferentes, a quantidade e a qualidade (...) corrigir uma prova somente pelas respostas inclui uma grande distorção no processo de aprendizagem (...)."p. 43.
"Uma prova com dificuldade superior ao que foi lecionado não tem valor como medida de aprendizado dos alunos (...); os casos de rejeição à disciplina, e de relacionamento com o professor, devem ser contornados ou solucionados de outra forma, não através da prova (...); se o professor, no entanto, não admitir insegurança num adolescente, então ele é que não serve para professor."p. 45.
"Aos mestres (...); importante seria que refletissem sobre as duas imagens propostas, para que cada um pudesse optar por ser mais um garimpeiro neste espaço geográfico de nossa educação, cheio de urubus."p. 52.
"(...) na didática absolutista, o professor ensina conforme seu método, tendo os alunos que se acostumar a se sujeitar ao processo. Os conteúdos não são discutidos, nem há possibilidade de mudar processo algum na comunidade de aprendizado. (...) na didática anárquica, as aulas não são programadas, acontecem conforme o andar dos desejos de cada turma ou de cada aluno."p. 54.
"Para saber se um aluno aprendeu, o professor poderá recorrer a muitos tipos de avaliação. Tudo dependerá da disciplina, da quantidade dos alunos em classe, da quantidade de aulas por semana, dos sistemas de notas a serem enviados à secretaria e dos recursos disponíveis para aferir o aprendizado."p. 55.
"(...) o aluno deve perguntar e é dever do professor ser capaz de encaminhar a resposta. Deve respondê-la toda, ou então dar as "dicas", para que o aluno chegue a resposta, como meio didático de forçar o aprendizado pelo esforço próprio do aluno, num processo de aprender a aprender." p. 57.
"A vida urbana dispensa a família, a ponto de não se enxergar os excessos de exigências e esforços na competição pelos postos, por vezes impostos status exigindo na sociedade." p. 63.
"(...) o livreto com milhares de verbetes e de suma importância nas escolas, redações, escritórios e repartições publicas, buscar o dicionário é um ato de inteligência, não um ato de burrice. Ir a fonte certa é um modo de agir consciente e correto. Hoje é impossível sabermos tudo (...)."p. 66.
"O socialista ? professor neste país é tomado de um incontrolável deslumbramento quando começa a participar em assembléia e reuniões. Deslumbrando, costuma iniciar uma viagem insegura pelos terrenos de todos os assuntos, sobretudo dando a tudo que fala uma conotação dita "socialista" porque não pode rezar fora do devocionário típico; (...) não é capaz de se sentir errado. Sempre sabe, tudo sabe e tudo questiona; esta é a democracia do deslumbramento, pensar conforme o grupo pensa, sem a possibilidade de algum livre-arbítrio." p. 68.
"Ser professor é coisa muito séria. Não podemos confundir esclarecer com o "fazer a cabeça" (...) p. 71.
"A escola fundamental com maior número de alunos em todo território nacional, é uma escola sem paredes, sem diretor, sem coordenação pedagógica, sem orientadores educacionais, sem biblioteca, sem carteiras. Nesta escola não existem alunos reprovados, eles são sempre promovidos porque o que da conta é a idade cronológica (...); (...) são os trombadinhas (...)."p. 75.
"(...) o segundo grau não é feito na rua (...), geralmente ligados à FUNABEM e FEBEM. Sem vestibular, porque o sistema oferece quantas vagas forem necessárias, o curso de graduação é realizado na cadeia publica (...); (...) sem exame especial do currículo, ingressam no pós-graduação que, em regime de internato, é o que dá retoque final naquele que será o marginal, oriundo das penitenciarias."p. 76.
"(...) o balcão sobe à medida que perde peso. Assim, o invejoso cresce, aparece, à medida que procura rebaixar os degraus dos outros. Sobe porque, também, perdeu peso; ao educador será exigido competência; (...) não se perguntará o que impediu que os outros fizessem, mas, sem duvida, o que ele fez."p. 78.
"Na escola, quando se assina o pedido da matricula, esta implícita a aceitação do regimento e normas internas da escola (...); A educação é algo pessoal, cada aluno apresentação um caso, é um caso especifico e, como tal, deverá ser tratado (...)."p. 83.
"(...) Assinei a sentença no final do julgamento pressionando com a força da minha mão. Nada aprendi, estava condenado.
E nem percebi que tinha sido destinado
À coordenação e à prisão do meu Estado
Quando antes da escola, aos quatro anos, fui abandonado
Nada sei, nada estudei
Não tive condição de aprender
Porque não me deram pão para comer." p. 85.

"(...) Não aprecia uma festa, um cinema, um recital!
(...) oscilando entre um aperto e um apuro, como criador do futuro do filho?
(...) É herói desconhecido. Isso ? é mais do que ninguém."p. 87.