Durante o período da década de 1830 na província de Minas Gerais um grande movimento marcava a história do Brasil Imperial. Conhecida como festas cívicas, as celebrações instituídas pelo império, mudaram as proclamações dos habitantes, criando ideais e valores diferentes. Estes valores estavam basicamente relacionados com a construção de um país dotado de prosperidade e civilização.

Diante desse ponto de vista cuja autora Carla Simone Chamone retrata em sua obra Festejos Imperiais[1], as questões voltadas para prosperidade e civilização estariam ligadas aos elementos principais na formação de uma nação recém-criada: o patriotismo e a unidade nacional.

As festas cívicas simbolizavam as celebrações de valores e virtudes sociais. Em análise ao relato descrito pela autora acima citada, os moradores De São Gonçalo da Contagem das Abóboras jamais deixariam passar ileso uma data importante na história constitucionalista. O dia 07de abril se tornara no coração de muitos um ato de liberdade. Era festeja do brado de independência e a aclamação de D.Pedro l, se ouvia o brado de vitória e da emancipação política finalizando o domínio colonial Português.Em tons de alegria e satisfação, o objetivo de tantas comemorações girava em torno de um fator de suma importância: A criação da identidade nacional.

As festas realizadas entre os dias 07 de abril e 11 de junho alegrava os corações do publico que assistia. Com obras que retratavam o fim do despotismo, a visão que o povo tinha nas ruas era simbolizada pela figura da paz.

Segundo a autora a emancipação do Brasil não foi fruto de luta nacional, refletindo sobre a historiografia é possível afirmar que todo este processo significou a ruptura com o sistema colonial, e por fim a restrição ao livre comercio, algo que interessava a elite. Como a elite estava bem representada, no domínio de propriedades rurais, o Estado se preocupou em organizar os interesses desta classe elitizada, o que a cada momento se preocupava em construir algo novo, criar a identidade nacional, tornando os cidadãos mais envolvidos e preocupados com a nação. Analisando estes fatores, compreendemos que até este momento a idéia de nação era indefinida.

O conceito de pátria começava a ser visto com mais freqüência partir do processo de independência, apesar de ainda ser restrito no império, surge a importância de criar formas fazer com que o povo se integrasse em ideais comuns no que se refere à questões relacionados ao conceito de nação.

A criação da identidade nacional teve grande  importância diante da história nacional. A elite dirigente observava o império diante de uma ótica nova, um novo tempo, de onde surge um olhar voltado para as necessidades de criar formas de adesão e crença do publico nesta nova etapa política.

O objetivo principal de fazer tantas celebrações era exatamente de se criar uma imagem de comunhão e afeto entre todos os cidadãos. A criação desta imagem de comunhão só seria possível através da integração dos membros de cada província. Em Minas Gerais, as festas eram bem celebradas como já foi dito anteriormente, relatos em jornais davam ênfase a toda comemoração ocorrida nesta província.

As praças eram enfeitadas, quadros, folhagens de fumo e café deixavam os passeios alegres e com ares cívicos. As comemorações dos dias07 de Abril,se estenderam ao som de vivas edísticos, motivados pelos idealizadores que lembravam a paz nacional. A religiosidade das festas relatada no jornal[2] tornou os festejos alegres e comoventes. O publico rendia graças a Deus através da missa realizada pelo Padre Manoel da Silva Diniz, enfatizando as bênçãos recebidas ao império do Brasil. Músicas, iluminação, alvoradas e obras poéticas alegravam a homenagem á nação e ao senhor D.Pedro ll e a todos defensores da pátria. Desse modo, o que podemos entender é que toda a motivação e alegria para as comemorações giravam em todo de um só pensamento: A unidade nacional.

A abdicação de D. Pedro l tornou Minas Gerais intensamente preocupadas em relação às celebrações. Nota-se que a comemorações não paravam.O relator sabarense descreve, no entanto que a cada dia se repetia os motivos para tantos festejos, e se estendia por todas as partes, por menor que fosse o vilarejo o dia 07 de Abril era lembrado.

[...] "O discurso antilusitano que perpassava de maneira sutil as festas cívicas prolongou-se até o ano de 1834 quando morre o Duque de Bragança. Em 1834 comemorou pela quarta vez o dia 07 de abril, dia de trazer a lembrança, a vitória sobre o partido estrangeiro, dia que sacudimos de nossa pátria um pesado jugo estrangeiro. Nesse período a colonização de três séculos ainda aparecia como um fantasma que poderia renascer das apagadas cinzas dessa luta contra a Mãe Pátria".[1]

A autora ressalta que o dia 07 de abril era visto pelos mineiros como um resgate de pureza, onde o país se veria livre do jugo do estrangeiro. De acordo com a análise feita ao relato do sabarense no jornal citado, a comemoração feita na cidade de Sabará foi uma discussão voltada ao antilusitanismo. Analisando por este viés podemos entender que, o silencio do povo até então conhecido começa a ser visto por gritos e vivas à liberdade. Tanto que como foi mencionado no inicio, as festas se estenderam por motivo de felicidade dos defensores da pátria.

Em suma, podemos concluir que ao refletirmos sobre estas questões, relacionadas aos festejos imperiais a população letrada tinha acesso aos jornais que relatava esses assuntos. Sendo de cunho particular ou não, os jornais informavam o discurso antilusitano que sutilmente era vistos nas festas cívicas. A comemoração de 07 de abril era vista como uns históricos em 1831 alem de está em evidência a questão de patriotismo, novos valores seriam difundidos pelo povo.

O antilusitanismo que definiria até então a identidade brasileira andava de mãos dadas com as festas cívicas, pois se formavam valores e ideais de liberdade. Diante do que foi visto e analisado com base no ponto de vista de alguns autores já citados, concluímos que se não houvesse existido esta integração de província, da população com os festejos, provavelmente seria difícil a criação de uma imagem de comunhão, afeto e acima de tudo relacionamento de valores que poderiam criar a identidade nacional.


[1] op.cit, p.110.


[1] CHAMON, Carla Simone. Festejos Imperiais: festas cívicas em Minas Gerais (1815-1845). Bragança Paulista: EDUSF, 2002.

[2] Apud. Comunicado- Sabará. Ouro Preto. n.589, 02 de maio de 1831.p.3.