Fernando Henrique atrapalha Serra em 2010

Prof. Ivan Santiago Silva

O início de setembro de 2010 marcou uma ruptura radical dentro do PSDB, afinal o último grande elo do partido se rompeu com as críticas de Fernando Henrique Cardoso a tudo e todos.
Fernando Henrique Cardoso, o grande ícone do PSDB e histórico presidente do Brasil, foi esquecido na campanha de Serra e este fato culminou, no início de setembro, no abandono público da campanha do PSDB por FHC.
O ex-presidente alegou o seu descontentamento, criticou a condução da campanha de Serra e oficializou que seguirá para compromissos "particulares" no exterior e no Brasil, na reta final da campanha presidencial. Um baque para Serra e aliados.
O PSDB vem a alguns anos completamente perdido no cenário nacional e os atritos internos do partido, de certa forma, eram minimizados por Fernando Henrique, o antecessor de Lula. Em meu último artigo publicado, disse aos leitores que esta eleição seria uma espécie de referendo popular entre FHC ou Lula. Serra não leu o meu artigo e preferiu, de forma suicida, se atrelar ao continuísmo de Lula.
Os confrontos internos do PSDB advêm dos atritos entre suas principais figuras : Geraldo Alckmim, José Serra, Aécio Neves e Fernando Henrique. Em 2006, o inexpressivo Alckmin, governandor de São Paulo (que obteve inicialmente o cargo com o falecimento do grande político Mario Covas), disputou publicamente contra Serra a vaga do PSDB para as presidenciais.
As debilidades de Geraldo Alckmin e do PSDB foram tantas, que nem mesmo no ano do ?Mensalão" conseguiram vencer Lula. O candidato e o partido não apresentaram propostas coerentes e sofreram a segunda derrota presidencial.
Em 2008 Alckmin e Serra enfraqueceram ainda mais o partido quando tornaram pública a briga pela candidatura à Prefeitura de São Paulo. Serra apoiou Kassab (seu antigo vice-prefeito) e Alckmin do partido de Serra se candidatou e provou mais um racha. Alckmin conseguiu a proeza de perder.
Em 2010 a briga pública foi entre Serra e Aécio Neves pela disputa à presidência do Brasil. Os governadores de São Paulo e Minas duelaram durante um bom tempo até que Serra oficializou a candidatura. Neste fato, eleitores de Aécio em Minas necessariamente não são eleitores de Serra. Eleitores de Alckmin em São Paulo, também não.
Neste ano Fernando Henrique "demitiu todos". O PSDB com tantas debilidades deixa claro que não está organizado para voltar ao poder. FHC, o histórico presidente é maior do que o partido e resolveu se distanciar diante desta fragmentação.
Fernando Henrique sepulta o sonho de Serra em ser presidente do Brasil de uma vez, por ter sido esquecido e por tolerar tantas debilidades dentro do partido que se associa ao seu nome. Afinal, o que é o PSDB sem Fernando Henrique Cardoso?
A fogueira das vaidades dentro do PSDB ofuscou a realidade dos fatos, a popularidade do rival Lula e da candidata apoiada por ele. As pesquisas realizadas indicam a vitoria de Dilma, talvez em primeiro turno. Em 2002 Serra perdeu para quem era sempre derrotado; em 2006 Alckmin perdeu para quem estava derrotado; Em 2010 Serra perderá para quem nem existia.
Diante deste quadro, Fernando Henrique fez bem em renunciar a esta candidatura, sendo que estas se vinculam ao seu nome e status e o transformam em um perdedor, o que ele não é em função de sua representatividade para este país, através do Plano Real, da abertura econômica e do primeiro grande governo democrático do Brasil após ditadura militar.
Prof. Ivan Santiago Silva ? graduado em Geografia e pós graduado em Educação é Professor do Instituto Superior de Ciências Aplicas e autor do livro Brasil : Imperialismo e integração na América Latina.