Fenomenologia e Educação

Lara, Natália Bianca Bruni de

A Fenomenologia é uma corrente teórica que procura conhecer os objetos em estudo por todas as suas partes, interno e externo, trata-se de descrever o objeto e não de interpretá-lo a fim de que se chegue a conhecê-lo no todo.

Criada por Edmund Husserl a Fenomenologia é a ciência que procura investigar a essência dos objetos. De acordo com essa teoria, ao se estudar algo é preciso se desvencilhar da ótica cultural que possuímos e analisá-lo do modo como se apresenta dessa maneira o objeto será conhecido como realmente é, puro, livre de qualquer conceito cultural que tenhamos, ou seja, chega-se a essencialidade do objeto.

O trecho acima se refere ao que chamamos de redução fenomenológica, com ele procura-se chegar à essência do objeto em estudo sem qualquer interferência cultural ou de nossas vivências, ao chegar a essência do objeto a fenomenologia acredita ter alcançado o conceito universal, pois o objeto foi reduzido a uma pureza que deve ser comum a todos.

Esta redução permite ter como dado a essência do fenômeno. E as essências, segundo Husserl, se determinavam por sua universalidade. Isto significa que a fenomenologia estuda o universal, o que é valido para todos os sujeitos. O que eu conheço, o que eu vivencio, é a vivencia para todos, porque foi reduzido a sua pureza intima, a sua realidade absoluta.[1]

Dessa forma, é possível que todas as pessoas possam chegar a conhecer a pureza de um objeto, e fazendo isso o ser humano pode criar novos conceitos, novas teorias, novas praticas de uso. A fenomenologia é uma ciência que se permite acessível ao ser humano sem distinções e é essa sua contribuição quando voltada a educação.

Diferente do positivismo defendido por Durkheim, que acreditava ser a educação uma forma de dar continuidade a sociedade em que se vive sem grandes interrupções no processo evolutivo, a fenomenologia de Husserl traz uma visão diferenciada da educação, na qual aluno e professor possuem características comuns, que podem contribuir para a melhoria do processo educativo e da sociedade quando ambas as partes trabalham juntas.

O aluno não é um mero ouvinte, mas participa ativamente e se torna um “co- investigador crítico em dialogo com o professor”.[2] Essa teoria está em constante relação com os escritos de Paulo Freire, nos quais professor e aluno não se distanciam, mas estão integrados e devem agir com o propósito de conhecer a realidade e produzir uma reflexão critica sobre a mesma, para que a sociedade existente possa ser alterada e estar sempre em transformação, buscando sua melhoria.

Freire acredita que essa educação do tipo ‘fazer depósitos’ deveria ser substituída pela educação que expõe os problemas [...]. Em suma os professores e alunos são, ambos, sujeitos na tarefa de revelar a realidade e recriar o conhecimento através da reflexão e ação comum, assim, professores e alunos se descobrem como recriadores permanentes.[3]

A fenomenologia acredita que todas as pessoas podem ser teóricas, dessa forma não há pontos extremos do que é certo e do que é errado, pois ao ser chegar à essência de algo, alcança-se a sua verdade e essa verdade por ser entendida como pura e universal, assim professores e alunos se tornam possuidores da verdade e devem utilizar dos conhecimentos que possuem para alterar seu mundo, modificá-lo de forma a se chegar ao que se considera como ideal, como por exemplo,  uma maior igualdade de direitos.

Essa visão fenomenologia referente à educação, embora podemos considerá-la como democrática, apresenta algumas dificuldades. Em primeiro lugar, destacamos o problema da valorização e da aceitação de diversas analises sobre o objeto em estudo, ou seja, segundo essa teoria há a aceitação da visão de diversos autores para um mesmo objeto, isso provoca um conflito já que não se pode determinar nenhuma das observações feitas como certa ou errada.

            Essa dificuldade ocorre porque o mesmo objeto possui finalidades diferentes em diversas sociedades, e embora a redução fenomenológica tenha que ser feita fora da ótica cultural não é possível atribuir-lhe funções as quais nunca se teve contato ou se imaginou. Assim podemos afirmar que alguns conceitos a que estamos habituados são construídos socialmente.

             A afirmação acima nos remete a outro problema da fenomenologia, a contextualização a – histórica. Ao realizar a analise de um objeto, acaba-se por não se considerar a produção histórica a que foi submetido, essa corrente não abordada os conflitos das classes sociais, e realiza os estudos escolares separados dos elementos históricos do contexto cultural. Esses fatos em uma analise nos remetem novamente ao problema anterior, o das múltiplas interpretações para o mesmo objeto. Prendemos-nos dessa forma em um vicio circular, que nos levará sempre aos mesmos questionamentos quanto à redução fenomenológica.

            Essas dificuldades apresentadas fazem da teoria, a nosso ver, subjetiva, pois embora seja consistente em suas afirmações e promova uma relação de igualdade entre alunos e professores, acaba por não compreender o processo de desenvolvimento humano, cultural e social. A redução fenomenologia permite conhecer as essências dos objetos em sua particularidade, mas não em seu contexto, entendemos que nada existe isolado, e que algo só tem sua função ou sua especificidade porque está ligado a outro.

            Desta forma, compreendemos que a fenomenologia é uma teoria democrática, que não distancia professores e alunos, mas que os mantém em contato e procura ressaltar suas características em comuns, o que proporciona aos professos, alunos, diretores, e funcionários escolares, trabalharem em comum para que alcancem uma educação feita com qualidade, embora compreendemos que a educação só será coerente com a realidade quando entendida no desenvolvimento de seus processos históricos, sociais e culturais.

Referência Bibliográfica

SANUY, M. A Rejeição da Filosofia Liberal da Educação. In: _______. Marxismo e Educação. Rio de Janeiro: Zahar, 1980, cap. 4, p. 54-67.

TRVIÑOS, Augusto N.S. A Fenomenologia. In:_______. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. Pte. 2, cap. 2, p.41-49.



[1] TRIVIÑOS, Augusto N. S., A Fenomenologia, 2004, p.46.

[2] SANUY, M., A Rejeição da Filosofia Liberal da Educação, 1980, p.60.

[3] Ibidem, p.60-61.