Acordou aquela manhã com dor de cabeça,tinha bebido um pouco alem da conta na noite anterior.Olhou-se no espelho do banheiro,o rosto abatido, a aparência cansada e para piorar, cólicas.Lembrou da festa, se preocupou com atraso da menstruação.Não pelos motivos pelos quais se preocupava há duas décadas,
Sem chance de uma gravidez não planejada!
Era pior. O "fantasma" da menopausa, que á essa altura já não era tão "fantasma" assim.
Sabia que tinha procurar sua medica,começar tratamentos que aliviariam os sintomas desconfortáveis da menopausa, embora ainda não sentisse nenhum.
Os sintomas que se apresentavam, eram na verdade os mais temidos, cabelos brancos(mensalmente tingidos), pequenas rugas em torno dos olhos, da boca e a pele ressecada e flácida, que diariamente era premiada com doses generosas de cremes e eram tantos, que faltava tempo e corpo para serem todos usados.
Enquanto trocava de roupa, pensava :
-Não tenho mais roupa! Droga! Como a natureza é injusta!Que tipo de roupa tenho que usar?
-Não quero me vestir como uma velha, mas sei que não posso me vestir como se tivesse vinte anos!
Todos os domingos prometia á si mesma :
- Amanhã começo a academia, a musculação vai me ajudar a retardar a velhice e de quebra vou ficar com um condicionamento fisico melhor.Mas o bom mesmo seria uma plástica.Mas cadê o dinheiro?
Diante da realidade desta luta inglória,pois ninguém consegue evitar as mudanças que o passar dos anos nos causa, foi para a cozinha tomar um tomar café.
Olhando a xícara fumegante pensava:
- O tempo, ah! o tempo! Umas vezes nosso amigo, outras inimigo.
Pensou no marido com carinho, buscando encontrar na figura daquele homem, um cúmplice, alguém com quem poderia dividir a amargura daquele momento.
- Será que ele também está sentindo o peso da idade? Será que se olha no espelho e se enxerga envelhescido? Será que já viveu alguma situação onde alguém ou alguma coisa lhe mostrou sua idade? Onde foi parar o interesse que tínhamos um pelo outro?
A aparência do marido também já não era a mesma, mas ela ainda o achava muito interessante, principalmente quando via os olhares que outras mulheres lançavam sobre ele. Isso a deixava arrasada, pois há muito tempo vinha notando que não atraia mais os olhares masculinos, especialmente, o dele. Com uma certa revolta, falou em alto e bom som:
- Quem disse que os homens são como vinho? Quanto mais velho, melhor? E quanto á nos, mulheres? Nos suicidamos aos quarenta? Aos cinqüenta? Dizemos a todos que nos tornamos muçulmanas, passando o resto da vida cobertas por uma burca? Nos enterramos na cozinha, á espera de netos? Nos divertimos com agulhas de crochê ou novelas? Meu Deus! É o fim!
Pronto, a crise estava instalada!
Olhando as horas no relógio da parede, enxugou duas lagrimas que quase caíram dos olhos e começou á arrumar a desordem que restou da festinha na noite anterior.
Pegando as velas em cima do que restou do seu bolo de aniversario, que "gritavam","cinqüenta anos", olhou-as como se sentisse saudade de alguém ou alguma coisa muito importante, disse a si mesma:
- Quem sabe, ano que vem, te olhe e me com mais carinho! Ou ainda, consiga me adaptar a essa nova fase, descobrindo um jeito novo de ser feliz!