Felicidade... todos nós já sentimos ela algumas vezes. Essa palavra nomeia um objetivo em comum a todos os seres humanos: sentir-se feliz.

 

A verdade é que durante toda nossa vida perseguimos esse sentimento, que descobrimos logo no início de nossa jornada. Após a nossa fecundação e descoberta de consciência, nossos sentidos (a primeira sensação tátil, o primeiro gosto na boca, o primeiro barulho, o primeiro cheirinho e, finalmente, a primeira imagem – ainda turva – e como elas podem ser infinitamente diferentes), descobrimos sorrisos, choros, carinhos e tapas, tombos e passos... os abraços e a coragem de seguir em frente, e, assim até hoje.

 

Inicialmente, descobrimos a felicidade através do prazer puro. Depois esse prazer vai se misturando e somando a uma série de outras sensações como realização, bem-estar, amor, prazer, poder, reconhecimento, aceitação, satisfação, saciedade, conquista, dentre outros.

 

No entanto, talvez tivéssemos que repensar sobre a conquista da felicidade como algo definitivo. Por natureza somos seres em constante evolução e progresso, e, tentar conquistar a felicidade através de algo que pareça imutável, possa nos colocar numa situação de comodidade, que vai de encontro à nossa natureza.

 

A acomodação gera apego, e, apego gera infelicidade, pois nos tornamos escravos do medo da perda do objeto amado. Dessa forma, ao invés de avançarmos para novas jornadas, nos tornamos fugitivos, nos escondendo de tudo que é novo, com medo de sermos roubados ou incomodados. A fuga é um movimento anti-evolucionário, porem nunca poderemos nos esconder de nós mesmos, da nossa essência.

 

Felicidade é um sentimento ligado a novidade – o novo nos excita tanto quanto pode nos frustrar quando não conseguimos entendê-lo, ou, quando não sabemos como lidar com ele – isso nos causa “tristeza”.

 

Devido a essa natureza evolutiva e progressista em busca da novidade, nosso cérebro é um constante solucionador de problemas e está sempre em busca de um desafio novo. A cada vitória, ele produz hormônios que nos geram indescritíveis sensações de bem-estar = felicidade.

 

Mas, invariavelmente, a conquista está relacionada ao “ter” e ao “poder”, que remetem a algo que deve ser mantido. E é na tentativa de manter a conquista que geramos o apego e o medo de perder, parando de evoluir. Cabe esclarecer que felicidade não é a soma de conquistas acumuladas, e, sim a liberdade de seguir em frente tendo a certeza de que tudo é momentâneo.

 

Alguns podem avaliar que essa maneira de pensar poderá nos tornar pessoas avassaladoras. Mas a verdade é que se nos acomodarmos a uma felicidade já conquistada, acabaremos por nos tornarmos apegados e egocêntricos, enquanto que para sermos felizes precisamos desenvolver o desapego e o egoísmo.

 

Falar sobre egoísmo é entrar num assunto polêmico, já que a nossa cultura castiga o egoísmo como pecado, justificando a modéstia excessiva, a humildade quase humilhante e a caridade por falta de amor próprio como condutas mais aceitáveis.

 

Vamos recorrer ao segundo mandamento instituído por Jesus Cristo e aceito culturalmente pela maioria das pessoas: “Deves amar ao próximo como a ti mesmo.”. O que realmente quer dizer essa frase? Ela compara o amor ao próximo com o amor próprio, ou seja, devemos amar ao próximo com a mesma intensidade que nos amamos. Então, só é capaz de compreender o amor ao próximo quem tiver o verdadeiro amor próprio.

 

Será que amor próprio e egoísmo caminham juntos? Egoísmo é amar a si mesmo e aos seus interesses, antes de tudo...

 

Quem se ama está pleno de si mesmo, logo está feliz, e, não se acomoda, pois sabe que pode ir mais longe.

 

Quem se ama sabe como pode ajudar e amar ao próximo sem se tornar escravo dele, deixar de viver sua vida, ou impedir que o outro evolua sufocando-o com o seu próprio estilo de vida.

 

Ainda podemos nos perguntar: Mas e quanto à caridade e o sacrifício?

 

Caridade e sacrifício não são sinônimos de suicídio. Para fazer caridade você tem que ter para poder doar sem sentir culpa ou sentir o direito de poder cobrar num momento oportuno, ou ainda, sentir-se favorecido, nem mesmo tomar para si a caridade como pagamento de erros e dívidas, como algo a ser dado em troca de um autobenefício futuro.

 

Sacrificar-se a algo ou por alguém envolve uma missão extraordinária, na qual, nunca poderemos exigir que aquilo pelo que nos sacrificamos tenha qualquer atitude por causa de nosso sacrifício. O sacrifício reforça o direito de livre-arbítrio do outro.

 

Tanto a caridade como o sacrifício quando genuínos nos geram felicidade quando estão fortalecidos pelo amor próprio e egoísmo.

 

Algumas pessoas acabam conhecendo o amor próprio quando se tornam conscientes e capazes de se sacrificar e fazer caridades a si mesmo. Elas concedem permissão a si mesmos para serem felizes, e, essa permissão funciona como um despertar para a vida.

 

Felicidade é também um sentimento constrangedor, pois rir de felicidade sozinho no meio da rua o torna aparentemente um louco. Torna-se tão constrangedor que a pessoa feliz é vista por alguns como solitária. Enquanto que a tristeza é um sentimento mais coletivo, pois ela exige que as pessoas acolham quem estiver passando por um momento triste. A pessoa feliz, plena de si, pode dar a idéia de que não precisa de mais nada, pelo contrário, ela acaba sendo cobrada por se sentir bem.

 

Talvez felicidade seja o sentimento mais individual que exista. E quando uma pessoa que não está feliz observa alguém se sentindo muito bem, outro sentimento pode aparecer: a inveja, que nada mais é do que o anseio em querer algo e não conseguir, sentindo-se incapaz de conquistar, atribuindo o sucesso do outro à sorte. Logo após a inveja vem a raiva do outro e de si mesmo.

 

Sendo a felicidade esse sentimento tão particular e introspectivo, ao mesmo tempo é impossível escondê-lo ao entrar em contato com ele. No entanto, nem todos pagam o preço de serem felizes, já que como comentamos, ser feliz envolve prazer pela liberdade e desapego, infinito amor próprio, além de estar preparado para lidar com o constrangimento, a inveja e a raiva alheia. Talvez por isso, há quem diga que quem é feliz é egoísta.

 

A verdade é que a felicidade é contagiante quando abrimos nosso coração para recebê-la, como ela vier. É hora de se desprender do passado, esvaziar nossas mãos, coração, mente e espírito daquilo que já passou. Receba cada evento que lhe acontecer como novidade, deixe seu cérebro se deliciar com a possibilidade de tudo lhe parecer novo. Permita-se redescobrir o mundo através da janela de sua casa. Olhe para as pessoas enxergando nelas o mesmo potencial que existe em você. Orgulhe-se de seu reflexo no espelho, pois ele reflete a verdade que existe em você. Não protele decisões para que não desperdice tempo organizando-as. Viva cada dia da sua vida percebendo como você é importante para o universo e como ambos são integrados.

 

Bem vindo ao mundo, seja feliz tanto quanto puder imaginar ser!

Vanessa Ferreira Cury