Quando se ouve a frase “fazer o bem” é comum imaginar voluntários entregando doações de alimentos, roupas e outros itens de primeira necessidade aos mais pobres e carentes. Ainda mais, quando a ambição e o egoísmo exacerbado deste mundo no qual vivemos faz gerar, cada vez mais, situações de pobreza, fome, miséria e abandono entre as pessoas.

É inteligente pensar que, nesta época de grandes necessidades materiais onde no Brasil, por exemplo, aproximadamente três milhões de pessoas vivem na miséria, segundo dados coletados em 2014 pela ONU, faz-se necessário doar mais que alimentos e roupas ou itens de higiene pessoal. Este tipo de doação é muito importante, mas para realmente fazer o bem énecessário ir além dela, pois ela não é a única forma de fazer o bem a um ser humano.

 Melhor que fazer o bem esporadicamente a um indivíduo, é prover-lhe uma vida melhor.Neste sentido, os sistemas de governo social, político e econômico podem fazer mais do que a sociedade civilestá fazendo através de campanhas. Estes sistemas de governo devem implementar os meios existentes e criar outros mecanismos efetivos de diminuição da pobreza que, suspeita-se, a cada dia ganha mais fôlego.

 No sentido particular, individual, fazer o bem é importante. Principalmente fazê-lo sem olhar a quem se faz. Isto mesmo, pois por vezes não se ajuda o próximo porque escolhe-se antes a quem o bem será feito. Possui, o ser humano, a mania ou digamos, a prática de selecionar e catalogar as pessoas. Se colocando em uma situação de destaque ou assumindo um papel de juiz dos comportamentos falhos, as vezes, observado nas outras pessoas. Este é um ponto de vista, que na maioria dos casos, impede ou dificulta prestar ajuda a outras pessoas.

Contudo é preciso lembrar que nenhum ser humano está acima de erros ou isento de assumir comportamentos que o levem a uma situação de dificuldades e necessidades. Desta feita, quando alguém escolhe a quem ajudar, fazendo juízo próprio sobre quem merece ou não merece ajudapor estas ou aquelas questões este alguém automaticamente se coloca numa posição melhor e emnível elevado em relação, tanto ao próximo a quem escolheu ajudar, pois o classificou inferior; Quanto ao próximo que ficou fora da sua seleção por julgá-lo não merecedor de ajuda. Fazer o bem sem olhar a quem é fazer o bem independentemente de quem seja a pessoa. Agindo de maneira imparcial e desprovida de preferências pessoais.

Portanto, para aquele que deseja fazer o bem sem olhar a quem são necessários, dentre outras, três condições muito importantes a saber: Humildade, Bondade e Respeito.A começar com a decisão de não julgar-se melhor que o outro. Deve-se pensar que o ser humano independente de sua condição financeira, social ou intelectual, acaba por ser constituído, de sangue, pele, ossos, sentimentos e pensamentos. Que traduzido resume-se em: Todo ser humano possui corpo físico, coração e cérebro, indistintamente. O que o dota de razão e principalmente de emoções.

Ou seja, a primeira condição para fazer o bem é ser humilde reconhecendo a si mesmo como necessitado. Às vezes, quando se reconhece necessitado é mais fácil ver a necessidade do outro. Humildade não é ser tolo, bobo ou mesmo ingênuo. Humildade é ser autêntico, não ser pretencioso, orgulhoso ou arrogante. Ao pensar que não depende-se de ninguém o homem passa a imaginar que é autossuficiente e a ideia de autossuficiência é ruim ao ser humano, porque leva-o a “criar” determinadas barreiras entre ele e o seu próximo. Além do que, só Deus é autossuficiente.

Outra condição importante, esperada de quem quer fazer o bem sem olhar a quem é ser bom. Ser bom talvez não na concepção divina, porque totalmente bom só Deus pode ser. Mas é preciso ter um coração relativamente bom para sentir a necessidade dos outros. A bíblia afirma que é preciso “chorar com os que choram”. É preciso ser bom para fazer o bem, porque uma pessoa má não achará disposição na alma para ajudar o necessitado. Logo, deve-se pensar que somente pessoas com alguma bondade na alma e no coração estarão dispostas e disponíveis para fazer o bem.

Ser bom nada mais é que ser sensível à dor do outro, ser sensível à necessidade que o outro possui.  É preciso pensar que uma pessoa ruim dificilmente sentirá pena do próximo, um coração ruim é insensível e o insensível possui uma alma “anestesiada” contra a bondade e um dos melhores sentimentos que o ser humano pode ter é a bondade. Aquele que é mau terá dificuldades em praticar boas ações.

Uma última e terceira condição para fazer o bem sem olhar a quem chama-se respeito. Respeitar o próximo, sua condição fragilizada pela necessidade é de suma importância para mover-se em direção a solidariedade para com ele. O respeito humano, assim como outros bons sentimentos humanos, é um sentimento que, atualmenteencontra-se esquecido e em vias de desaparecer da convivência humana.

Respeitar é considerar o outro é ver o outro, se não melhor, pelo menos em pé de igualdade. A despeito de possuir bens materiais, tersalário melhor, morar melhor, ter um automóvel bacana ou vestir-se melhor não autoriza ninguém a tratar o próximo com desrespeito. Fato é que pensando de forma racional, descobrir-se-á que todos os homens possuem a mesma condição frágil frente as adversidades e fatalidades da vida.

Todos os homens, em sentido genérico, possuem data de validade terrena que fatalmente, cedo ou tarde, os levarão a encontrar-se com o Criador. Este encontro, que a maioria dos indivíduos fará tudo ao seu alcance para evitar ou, no máximo prorrogar, nivela todos os homens, sem condição de apelação, a um estado só. Nivela-os ao estado de mortais.

Ao se pensar na fragilidade humana e associá-la com a ambição, o orgulho, a intolerância, a injustiça e maldade humana será possível descobrir, mesmo que seja difícil aceitar, que todos os indivíduos em algum momento de sua história enfrentaram, enfrentam ou irão enfrentar dificuldades financeiras, conflitos pessoais, familiares e de saúde física e mental.

Respeitar uns aos outros é ter a consciência de que somos iguais, como seres humanos, se não de uma forma, com certeza de outra. Ter este tipo de conscientização é um poucoirônico pois é concordar com o pensamento de que o indivíduo que hoje presta determinada ajuda a outro ser humano amanhã pode vir a ser o necessitado. Aquele que hoje é goza de boa saúde amanhã pode vir a estar doente e, por fim, aquele que hoje está vivo amanhã pode não estar.

Estas três condições expostas anteriormente, como meio para se fazer o bem ao outro, são talvez difíceis de ser encontradas no ser humano, existem pessoas que precisam ser confrontadas mais de uma vez com uma situação de abandono, há pessoas que precisam ser expostas mais de uma vez a situações de necessidade para serem “tocadas”, para serem sensibilizadas. Não é impossível perceber humildade, bondade e respeito nas pessoas, no entanto não é tão fácil ver expostas na maioria delas estas qualidades.

Contudo, o fato de não encontrar facilmente determinadas qualidades como estas nos indivíduos; por vezes faz revelar uma sociedade composta por grupos de indivíduos, que apesar de conviverem num mesmo meio social, se mantem distantes, como seres humanos, uns dos outros.

Por outro lado, é saudável observar que fazer o bem sem olhar a quem não se trata apenas de doar alimentos, roupas e, de alguma forma suprir necessidades alheias. Fazer o bem vai muito além disto, vai muito além de ser um simples “doador de objetos ou dinheiro” para as campanhas sociais que pululam pela cidade.

Fazer o bem sem olhar a quem é também sensibilizar-se com o próximo quando em dificuldades. Oferecendo um “conte comigo” ou um “posso ajudar?” ou ainda simplesmente “emprestando os ouvidos para ouvir e os ombros para chorar”. É demonstrar diariamente que se gosta do outro. Dando-lhe “um abraço”, dizendo “por favor”, “um muito obrigado” ou dizendo simplesmente “gosto de você”.

Portanto, quando se consegue respeitar o próximo, ser compreensivo, ser tolerante, ser educado, ser gentil, alegre, confiável, leal, verdadeiro e justo com todas as pessoas que conhecemos, estamos fazendo do mundo um lugar melhor para se viver. Quando se é mais humano com o outro, então sim. Estaremos fazendo o bem sem olhar a quem. Afinal de contas, parafraseando Jesus Cristo, devemos sempre “fazer ao outro aquilo que nós queremos que o outro nos faça”. Façamos o bem, sejamos mais humanos, sejamos bons com as pessoas e elas começarão a ser mais humanas e boas conosco.

  

Geraldo Goulart.