Fazer de todas as noites o Natal

Edson Silva

Uma noite dessas me peguei sem sono a olhar o céu. Vi uma estrela cadente, brilhando a riscar a escuridão. Vi um homem de barba branca, vestindo vermelho encarnado. Não era nosso presidente, um governador ou deputado. O sorriso daquele homem era de admirar. Falo seu moço com franqueza que quase me pus a chorar. Era um riso tão terno, tão bom de admirar, que resolvi com aquele homem conversar.

Me diga quem é o senhor, se é que pode falar ?! Não me deixe nesta aflição com tanto prá perguntar. O velhinho me respondeu com tanta bondade no falar, que voltei a ser criança e como criança chorar. Ele passou a mão na barba, tirou o seu chapéu e com a voz mais doce do mundo disse: sou Papai Noel. Apareço nesta época para todos especiais, na verdade eu sou é mesmo o espírito de Natal.

Eu vivo no coração daquele que acreditar que o mundo será melhor, se um ao outro ajudar. Hoje, em algumas casas há fartura de montão. Mas em outras há tristeza e falta até para o pão. Quem acredita em mim, muda essa situação. Porque reparte o seu muito com quem não tem nada não. E assim a noite é santa, é noite de comunhão. E do Natal vocês tiram a verdadeira lição.

Que a noite é muito mais que festa e comemoração. Mas que é do aniversário do maior entre os cristãos. É o aniversário do Cristo, o menino da salvação. Do que foi morrer na cruz prá buscar nossa salvação. E eu entendendo tudo naquele sonho acordado, com os olhos brilhando mais que as estrelas do céu riscado. Tratei de deixar Papai Noel sair com seu trenó lotado.

Lotado com uns brinquedos e com a esperança dos que sonham acordados. Pois um sonho também até pode ser verdade, se um outro sonhar junto e fazer realidade. Naquela mesma hora decidi juntar aquilo que tinha. Comida e bebida boas e prá farofa, a farinha. Uns brinquedos tão singelos, mas prá criançada servia. E a festa começou da minha casa prá casa vizinha.

Logo então outros vizinhos naquela festa entraram. Não demorou era a rua inteira, quarteirão, bairro, cidade e estado. A festa animou-se tanto, era tanta gente feliz. Que aquela alegria toda tomou conta do país. Não estou mentindo, vocês podem acreditar, a festa conseguiu até atravessar o além mar, chegou nos outros países, em todo o mundo, quiçá !?

E desta vez foi minha a vez de então testemunhar. Vi o Papai Noel chorando de suas lágrimas pingar. O povo em sua alegria nem chegou a se importar com aquela chuva de lágrimas e tudo o que se ouvia, em todos e quanto lugar era um dizendo ao outro tenha um feliz Natal! (PS. do autor, escrito na versão caipira, entre os natais de 2003 e 2008).

Edson Silva, 48 anos, jornalista, Campinas
Email: [email protected]

VERSÃO CAIPIRA DO TEXTO ACIMA

Fazê di todas as noiti o Natá

Edson Silva

Uma noite dessas mi peguei sem sonu a oiá u CE. Vi uma istrela cadenti, brilhandu a riscá a iscuridão. Vi um homi di barba branca, vistindu vermeio incarnadu. Não era nossu presidenti, guvernadô ou diputado. O sorrisu daqueli homi era di admirá. Falu seu moçu cum franqueza qui quase mi pus a chorá. Era um risu tão turnu, tão bom di admirá. Qui arresolvi com aqueli homi prosiá.

Mi diga quem é o sinhô, si é qui podi contá?! Num mi deixi nesta aflição cum tantu prá perguntá. O véinho mi respondeu cum tanta bondadi nu falá, qui vortei a sê criança i comu criança chorá. Eli passou a mão na barba i tirou u seu chape. I cum a vóis mai doce Du mundu, disse sô Papai Noé. Apareçu nesta épuca para todos especiá; na verdadi eu sou é mesmu, u ispirito di Natá.

Eu vivu nu coração daqueli qui acreditá. Qui u mundo será mio, se um ao outro ajudá. Hoji in argumas casa há fartura di montão. Mas in outras há tristeza i farta até pru pão. Quem acredita in mim, muda essa situação. Purque reparti u seu muitu cum quem num tem nada não. E assim a noiti é santa, é noite di cumunhão. I Du Natá vóis mecê tira a verdadeira lição.

Qui a noite é muitu mais qui festa i comemoração. Mais qui é Du aniversáru dus maió entri us cristão. É u aniversáru du Cristu, um mininu da salvação. Du qui foi morrê na cruis, prá buscá nossa sarvação. I eu intendendu tudu, naqueli sonhu acordadu, cum os óio brilhandu mais qui as istrela du cé riscadu. Tratei di deixá Papai Noé sai cum seu trenó lotadu.

Lotadu cum uns brinquedu e cum a esperança dus qui sonha acordadu. Pois um sonu tomem até podi sê verdadi, si um outru sonhá junto i fazê realidadi. Naquela mesma hora dicidi juntá aquilu qui tinha. Cumida e bibida boa e prá farofa, a farinha. Uns brinquedu tão singelu prá criançada servia. I a festa cumeçô, di minha casa pra casa vizinha.

Logu então outrus vizinhu naquela festa entraru. Não demoro era a rua inteira, quarteirão, bairru, cidade, estadu. A festa animou-se tantu, era tanta gente feliz. Que aquela alegria toda tomo conta du país. Não estô mintindu, vocêis pode crerditá, a festa conseguiu atravessá u além ma. Chego nus outrus país, in todu mundo, quiçá !?

Dessa veiz foi minha veiz di intão tistimunhá. Vi u Papaí Noé chorandu di suas lágrima pingá. Um povu in sua aligria nem chego a si importá, com aquela chuva di lágrima e tudu qui si ouvia, em tudu e quantu lugá era um dizendu ao outru tenha um Feliz Natá!
(PS. do autor, escrito originalmente nesta versão caipira, entre os natais de 2003 e 2008).

Edson Silva, 48 anos, jornalista, Campinas
Email: [email protected]