FATOS QUE SE ENTRELAÇAM

             Enquanto a sociologia trata da postura humana, uns em relação aos outros; a psicologia se atém mais ao caráter individual dos seres humanos, em certos aspectos estas duas ciências se fundem, visto que o todo social é composto de inúmeros comportamentos individuais, melhor dizendo, de diferentes posturas. Sob a égide dessa gama enorme de maneira de se conduzir, a sociedade desenvolve sua linha de conduta, produzindo os mais variados teores quanto aos resultados que afetam a todos. Um ditado muito popular vem-nos auxiliar no que queremos enfatizar: “Uma só andorinha não faz verão”. Um pássaro isolado não pode dar-nos a idéia do que seja uma estação, pois dificilmente pode-se verificar o comportamento dessas criaturas servindo-se de apenas um único espécime. É necessário que observemos o conjunto para que seja avaliado o que uma estação do ano pode influenciar na vida desses pequeninos seres. Com relação aos seres humanos, o caráter análogo às andorinhas não nos deixa prescindir de certas visões que integram o universo humano. Assim, ao efetuarmos um estudo do caráter social, não podemos desenvolver uma introspecção no âmago de um indivíduo apenas, visando chegar a bom termo, quanto às posições assumidas pelo conjunto de seres. Partindo de uma postura isolada apenas, corre-se o risco de ficarmos restritos a algo extremamente sintético, perdendo uma visão mais analítica. Com isto queremos dizer: uma andorinha isolada não pode responder pela postura do enorme grupo desses voadores. Simplificando, um ser humano isolado não pode dar a idéia do que seja o comportamento social como um todo. Uma etnia, apesar de ser um conjunto de seres, em si não tem o teor intrínseco da globalidade, não obstante os indivíduos que a representam participam com uma parcela de características distintas aos demais grupos.

            Partindo desse metafórico paralelo, temos abundante material para nos referirmos às posturas humanas, assim como conceituar o pecado humano ante o comportamento da sociedade. Porém, mister se faça aludir às origens, onde começou a queda humana. Nesse ponto seria de vital importância destacar a situação do primeiro espécime da raça humana, o arcabouço da rebelião aos mandos divinos. Foi nesse patamar que, partindo de um único ser, o todo (humanidade) viu-se mergulhado numa situação de “apartaid ”ante o Criador. Não estaria havendo aqui um paradoxo ao que expusemos no primeiro parágrafo? Não, pela seguinte razão: se fosse atribuída apenas a Adão a culpabilidade pelos seus atos, o pecado – objeto desta dissertação – não levaria à derrocadas eternas todos os praticantes dessa nódoa espiritual. Se ainda, Adão ficasse isolado, “curtindo”, somente ele, as conseqüências de sua desobediência, a humanidade como um todo não seria atingida, e não estaria a esta altura com a condenação esperando por ela na eternidade. Por isso cabe aqui salientar o principal aspecto do pecado na vida do ser humano: culpa e separação de Deus. Não obstante Adão ter começado a efeméride maldita, a humanidade ao receber essa herança passou a ser responsável pela culpa do pecado. Por isso é que temos que tratar do pecado em caráter global. Tratasse o Criador apenas do pecado de Adão e este ter-se perdido (ou salvo), estaria resolvido o problema da rebelião. Como o ato adâmico contaminou a humanidade, é com ela que temos que tratar, visto que é nas sociedades (o todo humano) onde todos os atos pecaminosos são praticados. Também, devemos ater-nos a outro ponto deveras importante, ao referirmos às conseqüências do pecado na vida futura da humanidade. De que forma o ato adâmico passou às gerações, se elas não tiveram participação direta na origem do pecado?  Se lembrarmos que os genitores passam a seus filhos seus caracteres hereditários, tal problema não se apresenta como um intrincado quebra-cabeça. É isso que veremos a seguir.

            Consultando os escritos sacros, alguns textos elucidativos nos vêm ao encontro, dando conta da situação do ser humano ante o pecado: “Um pecou, logo, todos pecaram”; Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Como dissemos, Adão ao desobedecer as determinações divinas transferiu às gerações a mácula que contaminou a todos. É como efetuar, através de um processo químico denominado ‘mistura’, alguns elementos, os quais vêm formar um novo produto. Sabe-se que nesse processo é impossível novamente recompor os elementos que geraram essa nova substância. Analogamente, o pecado adâmico impregnou  a humanidade toda, a qual se viu “misturada” com as mazelas desse nocivo elemento.

            Voltando à condição dos seres humanos após a queda fatal de Adão, ver-se-á que somente um antídoto divino pode anulara o letal veneno do pecado. Qual seria, e de que forma esse elemento restaurador entraria em ação, visando propiciar ao homem o safar-se da condenação? Quais foram as medidas engendradas pelo Pai das luzes para tão importante tarefa? Os testemunhos escritos atestam com sobriedade os passos tomados, visando à recuperação da combalida criatura. Logo nos primeiros capítulos temos uma profecia acerca da tomada de posição do Eterno visando à concretização do ato remissivo. A partir desse ponto segue uma enorme gama de testemunhos que aludem ao motivo supremo da regeneração humana. Sabe-se que sem a intervenção divina a criatura humana estaria fadada a uma eternidade sem horizontes. Destarte, a investida nos meandros da queda foi a tônica no processo que visa trazer o homem às lides espirituais, outrora desfrutada por Adão. Convém ressaltar ainda que é justamente o caráter espiritual – a identidade da criatura humana com seu criador – o elemento chave da intervenção divina na figura do Redentor. É esta “cédula” que respondia – em Adão – pela sua condição de filho espiritual de Deus. Não existia no primeiro espécime humano apenas o aspecto humano, pois se assim fosse Adão seria apenas criatura e não filho. O ser filho de Deus implica em estar de posse desse aspecto, ou seja, a filiação com o Pai eterno. Fosse válida a idéia de que todos são filhos de Deus, João não diria que para ser filho de Deus é necessário “crer e receber” a Cristo.

            O pecado como consta na carta de Paulo aos Romanos é o elemento deflagrador das posturas que levam ao abismo da perdição. E é neste ponto que entra a análise crítica do aspecto global do pecado. Como no trato da condição social de um povo, onde todos entram em consideração quanto ao seu “modus vivendi/operandi”, temos que nos ater aos aspectos negativos do pecado na vida da humanidade como um todo – seu status de alienação ante o Criador. Nestas circunstâncias, a incapacidade do homem em se safar de sua miserável condição de alienado de Deus fez recair em Cristo todo o peso da condenação humana. A esta altura deve-se distinguir o que vem a ser os atos próprios do homem em relação a si próprio, diferenciando-os dos atos inerentes ao Criador, no que tange à tomada de posição divina sem contar com os méritos humanos. Não obstante correntes sócio-filosóficas atribuírem ao homem todo o peso de sua recuperação visando à dimensão futura, tal proposta representa um paradoxo à palavra de Deus, a qual situa Cristo como o único responsável por essa empreitada. E é justamente aqui que entra o fator primordial no “passamento” do homem desta para outra dimensão. Assim, tentar tornar-se filho de Deus por iniciativa própria cai-se no malogro ante a petulância humana. Novamente recorrendo aos contextos bíblicos, somos direcionados a uma série de testemunhos, atestando a iniciativa divina, cujo fardo recaiu exclusivamente sobre o Responsável pelo ato regenerativo: Cristo! Como resultado dessa tomada de posição, um libelo de grandeza põe por terra todas e quaisquer pretensões humana em se refazer de seu calamitoso estado. Dessa forma, expressões como “Cristo morreu antes da fundação do mundo” causam grande surpresa.

            Em consonância aos fatos da hereditariedade do pecado, o “isolante” que oculta a face de Deus em relação ao homem, há sobejos exemplos nas páginas bíblicas, nos quais transparece a situação calamitosa do ser humano ante seu criador, assim como o antídoto que anula o efeito do mortífero veneno espiritual. Um dos mais belos exemplos da entrega filial do meigo nazareno o temos ainda no antigo testamento, quando o profeta exalta a condição servil de Cristo, cognominando-O  de Servo sofredor. Com efeito, A profecia exalada aproximadamente setecentos anos antes da vinda do Salvador, coloca-o em evidência ante o papel desempenhado em favor do homem. Certamente foi baseado nesse texto que Paulo – apóstolo – refere-se de maneira lacônica ao enunciar que “ele se esvaziou de sua condição divina, assumindo forma de servo para se identificar com o pecador renitente.  O gesto, previsto antes da fundação do mundo, trata o pecado, atirando-o sobre o Servo, “fazendo-O enfermar” para que pudesse, através de sua morte, receber todo o golpe do cutelo divino. Assim a ira divina se derramou sobre um inocente ser, para que, com Seu sacrifício, pudesse remir a criatura decaída, engajando-a novamente à condição de filhos – espirituais – de Deus. Foi por isso que João sabiamente escreveu, dando como desfecho o significa do que vem a ser realmente filhos de Deus. Assim a humanidade que, pelo ato de um se contaminou, pôde, pela obediência também de um ver-se livre da condenação eterna.

           Toda dívida exige uma paga. Assim também o pecado humano não poderia ficar impune aos olhos de Deus. Como o ser humano não tem a mínima condição de se remir por seus próprios méritos, pois à medida que passa os dias acumula mais pecados, foi necessário um “Cordeiro” divino assumir toda a carga que pesa sobre a humanidade. Destarte, os efeitos virulento do pecado, bem como os traços pecaminosos do fator espiritual – a hereditariedade de Adão – têm seus tentáculos decepados pela ação remissiva do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo – humano.