POR:

FÁBIO SANTOS DE ANDRADE

RIO DE JANEIRO

2008

Resumo

Este trabalho trata basicamente da história dos portadores de necessidades especiais deste a Grécia antiga até os dias de hoje. Trata-se de um trabalho historiográfico que visa elucidar como os portadores de algum tipo de necessidade especial eram tratados em civilizações muito antigas que são consideradas pilares das sociedades em que hoje vivemos. Cada parte desse trabalho foi elaborado a fim de prender a atenção de quem esta lendo, trata-se não apenas de um trabalho de simples leitura para análise, vai muito além disso é uma reflexão acerca da história dos portadores de necessidades especiais com relação à sociedade em que vivemos.

Pensar em indivíduos portadores de necessidades especiais no mundo em que hoje vivemos é algo muito difícil porque existe neste contexto uma infinidade de barreiras que impossibilitam ainda mais a vida da pessoa portadora de necessidades especiais; barreiras estas que precisam de muita força de vontade e apoio para serem ultrapassadas e quebradas.

Nesta monografia tecerei ainda vários comentários sobre alguns dos principais desafios e dilemas que acercam a vida do portador de necessidades especiais. Serão expressos também a importância dos jogos e brincadeiras no contexto de inclusão da criança portadora de necessidade especial e também seu contexto histórico.

Palavras-chave: crianças portadoras de necessidades especiais, história, inclusão, brincadeiras, jogos.

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Introdução

Senti a necessidade de desenvolver este trabalho, para tratar das questões historiográficas relacionadas tanto com os portadores de necessidades especiais quanto com os jogos e brincadeiras, trata-se de narrar historicamente como os portadores de necessidades especiais eram tratados em sociedades como a Espartana, a Ateniense, dentre outras, e que contasse ainda a importância dos jogos e brincadeiras no processo de desenvolvimento das crianças ditas "normais" e também das crianças que tem algum tipo de necessidade especial dentro e fora da escola.

Um exemplo muito interessante em relação ao tratamento dos deficientes na antiguidade e dado na Roma antiga, onde Calígula sucessor do imperador Tibério, exibia em sua corte pessoas deformadas, anãs, albinas como se fossem verdadeiras vitrines de horrores. Diziam os historiadores da antiguidade que Calígula era em sua infância uma criança muito revoltada que posteriormente se tornou um imperador louco e sem coração por conta de seus atos de atrocidades.

Partindo desse pressuposto, compreendem porque essa retomada da história e tão importante para se entender o que hoje passam os portadores de necessidades especiais. É essa a linha a qual pretendo levar este trabalho.

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PARTE I

Fatos históricos: Sobre os portadores de necessidades especiais (PNEs).

Lanço-me à tentativa de aqui relatar historicamente como a questão dos portadores de necessidades especiais foi vista e é vista até hoje como algo alheio a nossa realidade, historicamente a condição da deficiência produziu diferentes relações e as mais variadas conceitualizações, que foram sendo modificadas de acordo com os modelos econômicos, religiosos e sociais que algumas sociedades desenvolveram para poder florescer em sua época. Para cada período, percebe-se claramente estas alterações e quanto ainda hoje à questão corporal em nossa sociedade é influenciada por estereótipos produzidos no passado. Nas sociedades primitivas, pela sua própria constituição baseada no nomadismo, eram exigidos de seus integrantes as condições para uma sobrevivência individual bem maior do que nas sociedades subseqüentes. As pessoas que não se enquadravam no padrão social considerado "normal", seja em decorrência de problemas na sua concepção ou nascimento, seja por fatores externos como guerras, acidentes naturais, entre outros, eram considerados empecilhos ou "peso morto", sendo por isso geralmente abandonadas ou relegadas ao isolamento, sem que isso fosse considerado errado pelas demais pessoas. Acontecia uma espécie de seleção natural onde apenas os mais fortes sobreviviam e se estabeleciam. Em civilizações tidas como os pilares das sociedades em que hoje vivemos o que caracterizava a deficiência segundo alguns historiadores da antiguidade eram essencialmente a falta ou o acréscimo de membros em seus corpos; Na Grécia antiga especialmente na cidade de Esparta, por exemplo, quando uma criança nascia, os pais apresentavam-na a funcionários do Estado que avaliavam se a "robustez" do recém-nascido valeria o esforço que sua educação exigiria. Se não valesse, o bebê seria jogado do alto do monte Taigeto, localidade onde eram destinados todos os recém-nascidos com alguma deficiência que agredisse a estética quase que perfeita dos espartanos. Considerava-se ilógico, diz um historiador da antiguidade:

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"Selecionar as crias dos cavalos e dos cães e deixar viver os filhos nascidos de idiotas ou de velhos doentes. Era preferível, tanto para a criança como para o Estado, promover a morte do bebê que a natureza tinha tornado inapta para a vida. (Historiador Desconhecido, Apud Grimberg, 1989, p. 6, 7)".

É de se compreender tão grande falha nas palavras do historiador desconhecido, uma vez que na Esparta da antiguidade as leis e a organização social tinham como finalidade criar um poderoso povo de guerreiros então não poderia haver nesta sociedade "monstruosidades" que pudessem macula a vontade de um povo, não quero dizer aqui que a aristocracia espartana era feita de homens e mulheres sem coração muito pelo contrário, segundo Carl Grimberg (1989), um historiador Sueco, as mulheres espartanas eram mães admiráveis, uma vez que para elas a maternidade era uma benção dos deuses. Os hebreus viam, na deficiência física ou sensorial, uma espécie de punição de Deus, e impediam qualquer portador de deficiência de ter acesso à direção dos serviços religiosos. A Lei das XII Tábuas, na Roma antiga, autorizava os patriarcas a matar seus filhos defeituosos, ou seja, os romanos já tomavam posições bem mais drásticas em relação às pessoas com deficiência. Basta observar o que afirmava Sêneca:

"Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e monstruosos afogamo-los, não devido ao ódio, mas à  razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis. (Sêneca, Apud Silva, 1986, p. 129)".

Há exemplos opostos, de povos que sempre cuidaram de seus deficientes, ou outros que, evoluindo moral e socialmente, mudaram de conduta. Os hindus, ao contrário dos hebreus, sempre consideraram os cegos, pessoas de sensibilidade interior mais aguçada, justamente pela falta da visão, e estimulavam o ingresso dos deficientes visuais nas funções religiosas.

Os atenienses, por influência de Aristóteles, protegiam seus doentes e os deficientes, sustentando-os, até mesmo por meio de sistema semelhante à Previdência Social, em que todos contribuíam para a manutenção dos heróis de guerra e de suas famílias.

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Assim também agiam os romanos do tempo do império, por influência ateniense.

Em dado momento da história, hebreus e hindus discutiam se a conduta adequada seria a assistencial, ou a readaptação destes deficientes para o trabalho que lhes fosse apropriado. Um exemplo mitológico da concepção antiassistencialista e profissionalizante é a figura de Hefesto, que ao nascer foi rejeitado pela mãe e foi jogado do alto do monte Olimpo e resgatado e criado por um casal, por ironia do destino, salvou sua mãe Hera de uma briga fatídica com seu pai Zeus; seu pai com raiva jogou-o no vulcão Etna e foi designado a forjar as armas e escudos dos deuses, a despeito de sua deficiência nos membros inferiores. Existe na história grega um famoso poeta cego chamado Homero, a quem se atribui a Ilíada e a Odisséia, diziam que por ser cego declamava os poemas sem mesmo escrever uma linha sequer. Em muito os deficientes tiveram na sociedade grega bastante destaque, principalmente os deficientes visuais que eram os oráculos, que orientavam seus habitantes com os deuses. No período medieval, o deficiente era julgado como demônios já que a igreja católica estava em seu apogeu, por isso, tinha que se afirmar como estado governamental e religião dominante. À medida que a Idade Média avança, a relação da diferença física com o pecado começa a intensificar-se, entretanto, é necessário que se perceba que esta relação surge muito antes, em sociedades como a judaica que já coloca no Antigo Testamento referências a esse respeito. A Bíblia no Novo Testamento também se refere aos cegos, surdos, aleijados e leprosos como pessoas que tinham cometido algum pecado e por esse motivo sofriam tais "penalidades" físicas. Portanto é compreensível que a Igreja Católica tenha manipulado a sociedade medieval neste sentido. Tanto que os castigos impostos ao corpo tais como as flagelações, a fogueira e as torturas da Santa Inquisição representavam a purificação dos pecadores, intensificando a idéia de que o corpo era o reflexo de tudo o que a alma cometia de errado. Enquanto isso, povos do Norte da Europa como os Visigodos, Ostrogodos considerados bárbaros, matavam seus deficientes assim como os Célticos que achavam ser um mal pressagio ou castigo dos deuses; também eram povos nômades e deixavam seus deficientes para trás.

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Os índios Peruanos trancavam seus deficientes em jaulas para serem humilhados, os do Brasil não se sabe se havia algum esquema desse tipo, mas sabe-se que no ano de 1854, D. Pedro II iniciou o atendimento ao deficiente criando o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, no Rio de Janeiro, os portadores de deficiências mentais posteriormente passam a ser atendidos por organizações e associações de pais e comunidades; apesar de, em 1874, o Hospital Juliano Moreira haver criado uma escola, o modelo era de subsistência (Januzzi, 1985). Os médicos foram os primeiros que despertaram para a necessidade de escolarização desta clientela que se encontrava "misturada" nos hospitais psiquiátricos, sem distinção de idade. Assinala-se também o que mais chocou os homens espanhóis quando de sua chegada na América, "foi o fato de Montezuma (México) ter em instalações separadas homens  e  mulheres defeituosas, deformadas, corcundas, anãs, albinas, onde eram apupados, provocados e ridicularizados" (Silva, 1986, p. 46). Voltamos à era medieval, sendo um sistema muito parecido com os dos bárbaros, os senhores feudais resolveram abrir casas de assistência ao deficiente; sendo assim, os deficientes eram cuidados pelos senhores feudais por toda vida. Na França, instituiu-se, em 1547, por Henrique II, assistência social obrigatória para amparar deficientes, através de coletas de taxas. Mas foi com o Renascimento que a visão assistencialista cedeu lugar, definitivamente, à postura profissionalizante e integrativa das pessoas portadoras de deficiência. A maneira científica da percepção da realidade daquela época derrubou o estigma social piegas que influenciava o tratamento para com as pessoas portadoras de deficiência, e a busca racional da sua integração se fez por várias leis que passaram a ser promulgadas. Na Idade Moderna (a partir de 1789), vários inventos se forjaram com intuito de propiciar meios de trabalho e locomoção aos portadores de deficiência, tais como a cadeira de rodas, bengalas, bastões, muletas, coletes, próteses, macas, veículos adaptados, camas móveis e etc; o Código Braille foi criado por Louis Braille e propiciou a perfeita integração dos deficientes visuais ao mundo da linguagem escrita. Existe um conto clássico, da Idade Moderna chamado o Corcunda de Notre Dame que ilustra perfeitamente a segregação que sofreram, e ainda sofrem, os portadores de necessidades especiais.

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Um menino "muito aleijado" e com deficiência mental foi abandonado na porta da catedral de Notre Dame em Paris e confinado no sótão dessa igreja por vários anos, por não ser considerado normal e digno do amor familiar. Depois se torna o herói da cidade por salvar a mocinha do conto de ser queimada na fogueira, pela inquisição. Na era industrial, houve poucos programas de inclusão de deficientes físicos. Vieram os sistemas totalitários, como o comunismo que eliminava quem não era qualificado para trabalhar, o fascismo italiano não li nada de diferente, mas o maior escândalo foi quando li sobre o nazismo. As pessoas com deficiência eram utilizadas como cobaias em experiências médicas e os anões eram castrados para que a raça não se multiplicasse, foi usada a esterilização como método para evitar a reprodução desses "seres imperfeitos" e aconteceu o mesmo, em plena época do fascismo italiano, a aniquilação pura e simples das pessoas com deficiência que não correspondiam à "pureza" da raça ariana. Paralelamente a estas atitudes extremas de aniquilamento apareciam, aqui e ali, os isolamentos destas pessoas em grandes asilos (como foi o caso da Inglaterra) e atitudes dispersas de rejeição, vergonha e medo. Mas nos países árabes, pelo menos antigamente, se matava um filho ou outro parente com essas condições e não milhões de pessoas inocentes como ocorreu na Alemanha Nazista. Mesmo nos dias de hoje é comum ouvir cientistas propondo medidas eugênicas como forma de buscar, por meio da seleção genética, a reprodução de seres humanos "perfeitos". Os eugenistas mais reacionários vão mais longe e preconizam a esterilização obrigatória e mesmo a eliminação física das pessoas (hereditariamente deficientes) e de populações inteiras. Vêem nas guerras de exterminação um dos meios mais eficazes para melhorar a raça humana (Leontiev, 1978, p. 282).

O despertar da atenção para a questão da habilitação e da reabilitação do portador de deficiência para o trabalho aguçou-se inegavelmente a partir da Revolução Industrial, embora foi falado claramente que esse período não teve grandes avanços em relação aos programas de atendimento. As guerras, epidemias e anomalias genéticas deixaram de ser as causas únicas das deficiências, e o trabalho, em condições precárias, passou a ocasionar os acidentes mutiladores e as doenças profissionais, sendo necessária à própria criação do

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Direito do Trabalho e um sistema eficiente de Seguridade Social, com atividades assistenciais, previdenciárias e de atendimento à saúde, bem como a reabilitação dos acidentados. Os anos oitenta foram marcados pela globalização dos capitais financeiros, mas também das comunicações. Aparentemente também se mundializou a informação, mas não o conhecimento que continua a ser coisa rara. As diversas economias foram todas incluídas numa vasta economia mundial comandada pelas grandes multinacionais. Os ricos nunca foram tão ricos e a miséria dos pobres nunca foi tão exposta. Os países mais ricos necessitam dos pobres para lhes sugarem as matérias primas, venderem produtos, mas também para o fornecimento de mão-de-obra barata. O sistema passou a ser gerido a uma escala e numa lógica efetivamente global. A nova economia tornou-se hegemônica, tem-se revelado capaz de tudo rentabilizar, inclusive as atividades assistenciais. As ajudas internacionais, os programas de apoio aos excluídos revelam-se hoje investimentos estratégicos em termos econômicos. Depois da "Queda do Muro de Berlim", o Capitalismo passa a ser apresentado como a única alternativa realista, mesmo para os que ainda se mantém à margem. O objetivo é a Inclusão total.

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PARTE II

O Significado dos jogos e dos brinquedos ao longo do tempo.

Desde a antiguidade o jogo tem um sentido social, muitas vezes vinculado ao aspecto religioso, tendo a simulação lúdica como forma de expressão cultural. Os jogos poderiam destacar-se no teatro, na mímica, na dança e eram efetuados geralmente por escravos que eram assistidos por expectadores.

Para os gregos, romanos e astecas o jogo era tido como um espetáculo, um ato oferecido aos deuses como presente. Em comunidades tribais ou primitivas existiam certos rituais que muita das vezes se confundia com brincadeiras ou jogos como, por exemplo, os rituais de dança da chuva, dança do fogo, rituais estes que eram vinculados a religião desses povos. Sabe-se que em certos cultos africanos em quase todo África e também nas Antilhas pratica-se comumente o "Vodu", ritual em que consiste na elaboração de um boneco ou boneca ao qual é apresentado aos espíritos para que se possam fazer o mal à pessoa que esta representada no boneco, neste caso o boneco tem um apelo muito religioso.

Com o surgimento do cristianismo o jogo passa a ter uma conotação repressiva e controladora, pois tudo era considerado como pecado empobrecendo os ideais lúdicos do jogo e do brinquedo.

Segundo Kishimoto, (1999, p. 28):

Durante a Idade Média o jogo foi considerado "não sério" por sua associação ao jogo de azar, bastante divulgado na época. (...) O Renascimento vê a brincadeira como uma conduta livre que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo.É uma nova forma de perceber o jogo e a criança passa a ser dotada de valor positivo, de uma natureza boa que se expressa espontaneamente por meio do jogo, perspectiva que irá fixar-se com o romantismo.

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Através da consciência poética do mundo, esta fase da história humana passa a reconhecer na criança uma natureza semelhante à alma do poeta e a considerar o jogo sua forma de expressão, onde a imitação e a brincadeira são dotadas de espontaneidade e liberdade.

No século XVIII passa-se a observar as brincadeiras infantis e a capacidade imitativa da criança, onde o conhecimento desta torna-se via de acesso às origens humanas criando-se uma equivalência entre povos primitivos e a infância para se entender a mesma como a idade do imaginário, da poesia, de forma semelhante aos povos dos tempos mitológicos.

Surgem, neste período, novas intenções pedagógicas onde o jogo se expande como elemento do processo educacional por meio dos princípios inovadores, sugeridos por Rosseau, Pestalozzi e especialmente Froebel.

Em tempos atuais os estudiosos do assunto tentam equilibrar jogo e educação, para que o contexto formativo não seja superado pelo lúdico, sem que este perca suas características de liberdade, prazer e diversão.

A brincadeira que até a pouco tempo tinha um cunho simplesmente de brincadeira ou seja brincar, agora é encarado como trabalho, pois esse conceito vem se juntando ao universo das crianças e não podemos desvincular mais o trabalho do brincar, mas não devemos encarar a brincadeira, o ato de brincar como algo obrigatório.

O brinquedo exerce na criança uma relação tão íntima que às vezes pensamos que elas estão conversando com o brinquedo dando margem a uma idéia de que não esta neste mundo, ou seja, esta num mundo de fantasias ou faz de contas, quando vemos uma menina brincando de boneca e ela começa a agir como mãe da boneca pode ser que ela esteja antecipando a vontade principal de uma mulher que é o de ser mãe.

Hoje os jogos e os brinquedos podem ser encarados como auxiliadores do processo de desenvolvimento de qualquer criança, sendo ela "normal" ou portadora de necessidades especiais, tevemos lembrar que os jogos e brincadeiras não devem substituir as atividades

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diárias de uma escola, os jogos e brincadeiras servirão para aumentar ou potencializar o processo de ensino aprendizagem de dada criança independente de deficiência ou não.

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PARTE III

Indignação: Estigmatização e Marginalização do portador de necessidades especiais (PNEs).

O ser humano em seu sentimento arcaico leva os portadores de necessidades especiais (PNEs) para o buraco do esquecimento, como se eles fossem ETs sem um lugar aqui; como se não fossem desse planeta e sim, seres que por algum motivo, nasceram erradamente nesse planeta. Não existe lei de estado que assegurem o direito ao matrimônio, por exemplo, entre PNEs ou o direito de serem independente; pois ainda hoje na sociedade confundem os vários tipos de deficiência. Claro que entre os próprios PNEs existe também essa confusão, como muitas vezes eu também já presenciei, mas a questão é que muitos são excluídos por causa de suas cadeiras de rodas ou muletas, enfim, a rejeição existe por parte da sociedade e muita das vezes pela nossa própria família; muitas vezes negando a eles os direitos que na constituição é garantido. Esmolas sociais não os interessam como acontecem em algumas entidades, em minha opinião os PNEs, têm e devem ser incluídos de uma maneira mais concreta e menos demagógica; devem ter garantias de empregos e o respeito de todos; têm que ser membros verdadeiramente da sociedade.

Vamos falar nas entidades que nos cercam hoje no Brasil, vamos pensar que o capitalismo chegou em nossas entidades também, criando muitas entidades-industrias. Muitas fazem da imagem do portador de necessidades especiais (PNEs), uma maneira de ganhar dinheiro, como se fossem uma mercadoria, a culpa nem seria deles; eles em sua maioria são industriais e só sabem fazer isso, a culpa é daqueles que põem tais indivíduos nesse cargo. Os próprios deficientes se apegam muito facilmente a qualquer tipo de pessoa e não se sabe quem tem boa índole ou não, nesse caso eles são muito carentes de atenção; isso tem uma conseqüência muito desagradável, isso dá um poder muito grande à pessoa que esta sendo alvo de tanta atenção por parte do portador de necessidade especial (PNE). As pessoas acham que só porque se cuida do seu filho ou de qualquer outro individuo deve existir uma divida de gratidão eterna.

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Ora, isso não passa de crença infundada, pois se há um pagamento isso se refletirá em agradecimento. Essa entidade tem por obrigação dar um tratamento melhor, pois isso é garantido em constituinte, isso é lei federal.

Os deficientes são na mesma maneira presos socialmente, amorosamente, enfim não são mortos pelos inquisidores ou por nazistas como aconteceu há anos atrás, mas são esquecidos em entidades que os pioram; pois, os pais ou responsáveis pagam por um serviço que muita das vezes aliena e piora as condições desses indivíduos. Vamos pensar que uma entidade é feita de pacientes que sustentam a mesma, se concordarmos com tudo e aqui eu me incluo, estamos sendo cúmplices de tudo que a de errado nessa entidade; ora, vamos achar que essas entidades são ineficazes para os deficientes, que tudo que mostram na TV é mera propaganda enganosa. Lógico que nesse meio existem canalhas que só visam o dinheiro, o lucro fácil e principalmente o poder, poder este que às vezes ou muita das vezes é usado de maneira muito errada. A entidade torna-se uma fachada para uma série de atos criminosos, vira noticiário policial, enfim isso e recorrente no Brasil. E uma pergunta é feita quem vai cuidar desses deficientes que foram relegados? Não sei não se tem uma resposta.

O deficiente traduz dentro de si o que sempre foi educado, numa rígida e falsa educação onde ele próprio se frustra para se proteger do mundo onde lhe puseram; ele ou ela só viverá em sonhos, mas, porém, tem que esconder esses sonhos. Na mente de seus pais, esse deficiente é apenas um ser indefeso e fraco, onde tem necessidades de proteção; pois não agüenta o sofrimento ou a angústia de ter a vida nesse mundo regido pelas pessoas "más".

Há hoje um conflito muito grande de interesses, que estão contaminados pelo sistema há muitos anos, mas que o brasileiro aperfeiçoou muito bem. A vantagem descabida de senhores feudais abrirem instituições por mera "bondade", que somente para entrar nas graças da igreja católica já nos dar uma idéia como isso tudo começou; mas hoje nesse mundo globalizado e frio em questões sociais, não deixaram tal vicio, mas tem solução e todos sabem.

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Os velhos ideologistas, que carregam em si os velhos conceitos sobre os PNEs, ainda persiste em cuidar deles como os senhores feudais; pois pensam descabidamente que reabilitar é ensinar o deficiente a fazer salada de alface, amarrar um cadarço, abotoar uma camisa ou pôr uma calça é tudo. Lógico que isso é importante, mas temos que preparar o deficiente para o mundo lá fora onde ele será descriminado até mesmo pela sua família; e que o preconceito também seja atenuado e quem sabe acabado até pela mídia. Mas existe outro viés a família que na esperteza brasileira se esconde atrás do deficiente, se finge de coitada para ganhar um amparo por parte da sociedade cristã, onde o "coitadismo" reina em absoluto. Vamos dizer que por causa disso é que muita gente se aproveita das cadeiras de rodas, muletas; enfim, nada escapará das garras do aproveitamento das pessoas, mesmo que essas pessoas sejam da mesma família. Muitos falam, mas poucos fazem por merecimentos de seus atos de atrocidade moral; pondo em seus corações o comodismo como prioridade e nunca o bem estar de um filho PNE. Onde o malabarismo mental tem como conseqüência de abandono e exploração com o PNE, pior ainda, em uma alienação excepcional que rebaixa e leva o PNE ao nível de excluído do seu próprio conceito psicológico e emocional. Onde leva a prepotência de entidades ou de ONGs a salvarem o deficiente de sua condição de excluído, mas com atitudes de alta proteção sempre acabam por alienar e inferiorizar o PNE em suas condições ou afazeres; que longe de tudo isso o deficiente não é absolutamente nada, pois longe dessas entidades não haverá jeito perante a sociedade. Cria-se, portanto o meu pensamento, pois todos têm um autoritário ou ditador dentro de si, que todos estão à procura do ser perfeito, onde o deficiente por ser diferente esta sendo excluído de muitas partes da sociedade; que para o ser humano ser feliz é estar diante do ser perfeito, da raça perfeita que tanto gerou hipocritamente a combater os nazistas.

Psicologicamente e sexualmente deve ser muito frustrante todos namorarem e o deficiente principalmente o deficiente físico não, mas isso é feito na maioria das vezes pelas entidades que não orientando o portador de necessidades especiais (PNEs), aliena-o para ser uma eterna criança. Isso gera em sua família, um aparato especial, uma exagerada sub-proteção perante a deficiência que gera um trauma inesgotável.

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Outro aspecto muito importante é que na maioria das vezes, a uma frustração por parte dos pais ao nascer uma criança portadora de necessidades especiais (PNEs), gera-se uma autopunição; por parte da mãe, levada por conceitos religiosos ou por outros fatores, ela sente que deve proteger esse filho(a) do mundo lá fora ou ao contrário jogá-los em córregos ou rios imundos por aí.

Os fatores chave são a falta de leis que assegurem aos PNEs, de ter o direito do matrimonio ou a liberdade de se expressar, o que temos são as possíveis leis que são juntadas com as leis do menor e do adolescente e do idoso, que a meu ver, são confusas e muito burocráticas. Leis que exijam que o PNE tenha uma orientação sexual, que tenham leis que assegurem o direito dele de ir e vir que não são respeitadas, leis que obriguem escolas ou repartições públicas a empregar ou ter o direito de ter um ensino digno; se elas existem, então que se efetuem elas.

Será que é certo barrar a pessoa portadora de necessidade especial (PNE), de sua vida amorosa? Eu acho que não, pois estão fazendo como aquelas mães de antigamente faziam jogavam seus filhos deficientes em abismos matavam, davam para os inquisidores queimarem, abandonavam, entre outras coisas; ainda querem me convencer que o ser humano evoluiu.

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PARTE IV

Conclusão

Este trabalho foi muito interessante de escrever, pois eu descobrir muitas peculiaridades em relação aos portadores de necessidades especiais e também em relação aos jogos e brincadeiras, a história antiga e a história recente dos portadores de necessidades especiais se confundem, uma vez que o preconceito, os estereótipos, os rótulos são os mesmos, diferenciando que hoje não se jogam as crianças acometidas de deficiência de cima de um morro e que também não se caça pessoas deficientes como ocorreu no holocausto. O diferente sempre foi alvo de grandes perseguições, na primeira parte desse trabalho vemos perfeitamente o que acontecia com os portadores de deficiência. Os jogos e brincadeiras se encaixam nesse contexto uma vez que as crianças, dependente de deficiência ou não, potencializam seu desenvolvimento motor, psicológico e principalmente interagem entre si. Portanto existe uma ponte que não se pode quebrar entre portadores de necessidades especiais e os jogos e brincadeiras. Na antiguidade vimos como eles os portadores de necessidades especiais eram tratados, tratados de maneira muito preconceituosa e hoje isso não é diferente, em alguns pontos o tratamento melhorou e em outros pioraram, espero que algum dia o portador de necessidades especiais sejam assistidos de maneira melhor, com igualdade e respeito.

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Referências Bibliográficas

GRIMBERG, Carl. História Universal, Santiago – Chile: Europa América, Vol: 4, 1989.

JANUZZI, G. A luta pela educação do deficiente mental no Brasil. São Paulo: Cortez,

1985.

KISHIMOTO, T. M. 1999. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e Educação. (3), São Paulo, Cortez Editora, 183 p.

LEONTIEV, Alexis. O Desenvolvimento do Psiquismo. Tradução: Manuel Dias Duarte. Lisboa: Ed. Horizonte, 1978.

SILVA, Otto Marques da. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e hoje. São Paulo: Dedas, 1998.