UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE

 E EXPRESSÃO ARTÍSTICA

CURSO DE LICENCIATURA

EM ARTESVISUAIS

 

 

 

 

LAÉRCIO EDUARDO NASCIMENTO

LÍVERTON ROBERTO DE FRANÇA

 

 

 

 

 

 

Trabalho a ser apresentado à disciplina Fundamentos da Arte-Educação do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da UFPE 1º período, sob orientação da Professora Vitória Amaral como requisito avaliativo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RECIFE

2015

 

 

 

FANZINE: CRÍTICA SOCIAL COMO OBJETO ARTÍSTICO.

 

 

Laércio Eduardo Nascimento UFPE/PE/BR

Líverton Roberto de França UFPE/PE/BR

 

 

RESUMO

 

 

Neste artigo, procuramos entender o que é um Fanzine (Zine) e como se dá o seu dialogo na relação entre arte e política numa perspectiva crítica dentro e fora da sala de aula. Entendemos a utilização do Fanzine como incentivo à ampliação da visão de mundo e consciência crítica. Interessa-nos para o fato de que todos tem algo a dizer. Para tanto, de início, tratamos de como surgiu à cultura dos zine diante da perspectiva de teóricos e filósofos da arte e outras áreas humanas. Apresentamos assim o zine a partir do conceito de mídia radical e propomos a abordagem triangular para a sua construção fundamentando nossa discussão teórica.

 

Palavras-chave: Fanzine; Arte; Política.

 

ABSTRACT

 

We tried to understand what a Fanzine (Zine) and how is your dialogue on the relationship between art and politics in a critical perspective inside and outside the classroom. We understand the use of the Fanzine as an incentive to expand the world view and critical awareness. We are concerned for the fact that everyone has something to say. Therefore, at first, how did we deal with the culture of zine on the theoretical perspective and philosophers of art and other humanities. Thus we present the zine from the concept of radical media and propose the triangular approach to its construction basing our theoretical discussion.

 

Keywords: Fanzine; art; Politics.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

 

A iniciativa deste artigo se deu diante das reflexões causadas durante as provocações e questionamentos ocorridos na disciplina Introdução à arte educação do curso de artes visuais da universidade Federal de Pernambuco, servindo também como requisito avaliativo. Nossas primeiras reflexões se deram diante de uma rememoração sobre de nosso primeiro contato com a arte, chegando a nossa lembrança as publicações impressas, como os quadrinhos e o Fanzine. Dialogamos então com a ideia de que a arte é a expressão da cultura de uma nação, da percepção e visão de mundo, e que as diversas artes existentes expressam a liberdade desse povo, como também expressam a sua estética, então se pode entender o uso da estética para lermos os valores políticos deste mesmo povo. Dessa forma nos vimos motivados para decorrer numa reflexão sobre a função politizadora do Fazine. Segundo Morin (2002), o elemento de formação do ser humano como é ou como deveria ser, está intrinsecamente e amplamente baseado na cultura. Ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo, no que diz respeito a cada um em si trazer toda humanidade e carregar a sua individualidade. Só a estrutura biológica, sem a interação com a cultura, não é suficiente para demonstrar homens e mulheres como produtores e produtos de seu meio social. A humanização vivencia o ser individual harmoniosamente com a cultura humana, requer uma relação como o contexto sociocultural banhado na maré de certezas e incertezas, ordem e desordem, que movem o ser humano em sua ação, humanizar-se é um aprendizado, e sem os elementos da construção de nossa identidade que chamamos de artístico, o ser humano seria embrutecido, e é contra este endurecimento do homem que devemos nos opor, por que o perceptível, o sensível, o sentimento, o sonho, são elementos indissolúveis do que é a condição humana.

A arte é um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela cultura. Nesse sentido, qualquer atividade humana, desde que conduzida regularmente a um fim, pode chamar-se artística. Para Platão exerce a arte tanto o músico encordoando a sua lira quanto o político manejando os cordéis do poder ou, no topo da escala dos valores, o filósofo que desmascara a retórica sutil do sofista e purga os conceitos de toda ganga de opinião e erro para atingir a contemplação das Ideias. (BOSI, 2006, p. 13)

 

A partir daí, relacionarmos Arte e Política parece-nos natural. Uma forma de arte pode traduzir tanto situações comuns do cotidiano quanto relações de poder, ideológicas, etc. A relação entre arte e política pode se apresentar de forma engajada, critica ao poder e uma dada ordem vigente, relacionando mais a processos de caráter contestador. As conexões entre arte e política se iniciam diante da análise histórica da produção de um povo. A arte é uma das dimensões mais importantes destes fenômenos.

Contextualizar a obra de arte, consiste em contextualizá-la, não só historicamente, “… mas também social, biológica, psicológica, ecológica, antropológica etc., pois contextualizar não é só contar a história da vida do artista que fez a obra, mas também estabelecer relações dessa ou dessas obras com o mundo ao redor, é pensar sobre a obra de arte de forma mais ampla.” BARBOSA Basto, 2005, p. 142)

 As artes da Ciência, da Política, da História, da Pintura, da Poesia, tem o mesmo material, que é constituído pela interação da criatura viva com aquilo que o cerca. Elas diferem quanto aos meios pelos quais transmitem e expressam este material, mas não no material em si mesmo. O que distingue essencialmente a criação artística das outras formas de aquisição de conhecimento humano é a qualidade de comunicação entre os seres humanos que a obra de arte propicia, por uma utilização particular de linguagem, sendo um meio desimpedido de comunicação, sem barreiras ou abismos que outros símbolos gerariam. A forma artística fala por si mesma, independe e vai além das intenções do artista. No processo de conhecimento artístico, o canal privilegiado de compreensão é a qualidade da experiência sensível. Diante de uma obra de arte, habilidades de percepção, intuição, imaginação e raciocínio atuam tanto no artista quanto no espectador, mediado pela percepção estética da obra de arte, percepção estética tal que é onde encontramos a chave da comunicação artística. Para Vygotsky (1984) a atividade humana caracterizada pelas funções superiores compõe-se de um processo interligado da memória, da percepção e da imaginação, as quais, complexamente elaboradas, desenvolvem, por meio de imagens mentais, o processo de criação se manifesta por igual em todos os aspectos da vida cultural possibilitando a criação artística, científica e técnica. Da mesma forma podemos dizer que o processo de ensino-aprendizagem de arte se dá. Ana Mae Barbosa (1998, p. 40) no que concerne à abordagem triangular nos adverte dizendo que: Os educadores precisam compreender que não se tratam de fases da aprendizagem, mas de processos mentais que se interligam para operar a rede cognitiva da aprendizagem. O universo da arte, e sua capacidade de mobilização dos valores estéticos, impulsionam ao exercício de perceber, imaginar e criar, utilizando-se de recursos e referências, muitas vezes não verbais, que favorecem o diálogo interno do individuo com sua própria produção. Blavatsky (1991) também nos adverte que Nada provém de nada, toda crença, todo costume desponta de fatos e de causas que lhe dão nascimento. O Fanzineiro força diferentes expressões artístico a proclamarem seu estado de espírito. Os fanzines são resultados da “estética da colagem” – desenvolvida por Braque e Picasso, em torno de 1911, na primeira fase do cubismo, que concedeu um novo sistema figurativo eminentemente crítico (MARTINS, 2007, p. 50-61). Analisa e reflete o processo e os elementos da arte (linha, cor, forma), tratando-se de uma reflexão sobre a forma de produção, da qual a técnica está incluída. Além do cubismo, sua estética dialoga com várias correntes artísticas da primeira metade do século XX: fauvismo, expressionismo e dadaísmo. O recorta e cola junto ao acabamento dado a partir da fotocopiadora, resultou numa arte mediada pela técnica, como nos indica Walter Benjamim (2012). Diante disso, o Fanzine pode ser apresentado a partir do conceito de mídia radical, resumido por Downing (2002). O teórico afirma que as mídias radicais são contra hegemônicas, seriam de fato formas de expressão de oposição das culturas populares. Adaptando-se diante desse conceito, se nota que o Fanzine pode ser compreendido por essa idiossincrasia, na medida em que os impressos se opunham as grandes mídias. Sua construção, Arte-Educativa ou seja conhecimento de Arte, no que orienta a Proposta Triangular do Ensino da Arte de Ana Mae Barbosa (2007) é mediada pela aplicação de três ações básicas que são: A descoberta da capacidade crítica dos Zineiros (estudantes), a contextualização histórico-social sempre contemporânea e o estimular a atividade artística, não como cópia de um Fanzine anteriormente visto, mas, como, e criação e Transformação. Partindo deste ponto de vista, o objetivo deste artigo é entendermos a utilização do Fanzine como incentivo à ampliação da visão de mundo e consciência crítica do individuo nos interessando o fato de que todos tem algo a dizer. Para tanto, de início, tratamos de como surgiu à cultura dos zine diante da perspectiva de teóricos e filósofos da arte e outras áreas humanas. Conforme Andrade (1997). Foi realizada a revisão da literatura dentro das delimitações permitidas no que envolve as obras pesquisadas. Contribuíram muito a esta percepção os olhares privilegiados de autores como: Barbosa (2005), Bosi (2006), Chauí (2001), Coli (1995), Duarte júnior (1991), Marchionni (2010), Morin (2002), Olson & Torrance (2000), Suassuna (1979), Souza (1968), Vygotsky (1984), Wallon (1975), como também o que versa nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Apresentamos assim o zine a partir do conceito de mídia radical para fundamentar nossa discussão teórica.

 

O que é Fanzine?

O termo fanzine surgiu, na verdade, da junção das palavras inglesas fanatic (fã) e magazine (revista) aplicou-se como denominação de um tipo de publicação sobre artes, política, etc. Um fanzine é diferente de uma revista porque seus produtores não se importam com o mercado editorial. Magalhães (2003) nos indica que esse termo foi usado inicialmente nos anos 30 para designar as publicações alternativas que surgiam então nos Estados Unidos que eram distribuídos pelos correios e circulavam de mão em mão. Se tornou rapidamente um veículo de comunicação alternativa ideal para aqueles que não tem acesso à grande imprensa. São basicamente constituídos de recortes, fragmentos, revistas, jornais, juntamente com desenhos e escrita. Essa fragmentação direcionada constitui um todo no final da produção onde estarão expostas as impressões da visão de mundo do seu construtor.

A arte pode elevar o homem de um estado de fragmentação, a um estado de ser íntegro total. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade social. (FISCHER, 2007, p. 57).

 

Os Fanzines são um registro espontâneo de um povo em um determinado momento histórico, um recorte que reflete a realidade social da contemporaneidade. É uma forma de expressão que funciona como publicação independente. Os Fanzines são um importante veículo de comunicação com diferentes segmentos da juventude. Uma dos motivos para isso é não tentar torná-los veículos de controle, conferindo aos seus construtores uma espécie de manual de instruções ou moldes estéticos específicos. A intenção é o que transforma o objeto em arte, percebemos que a arte se traduz como uma intencionalidade, assim também entendemos a construção de uma mídia radical como o Fanzine, já que o construto é carregado de intencionalidade.

 

A intencionalidade significa que toda a consciência é consciência de algo; ela não é apenas um espaço interior pleno de intuições e ideias. É orientada em todos os pontos para o mundo com o qual está em contato e isto significa o mundo físico e a sociedade humana. (OLSON 2000, p.65).

 

O Zine no Brasil.

Como vemos em artigo publicado na revista Mundo Jovem: Os Fanzines chegam ao Brasil em 1965, com ‘O Cobra’, resultado da 1ª Convenção Brasileira de Ficção Científica, acontecida em São Paulo (CASTELO BRANCO; BRITO; SOARES, 2011, p. 9). A partir de então os Fanzines se destacam por sua incorporação aos movimentos undergrounds, ligados a musicalidade e política, sendo sua principal característica o conteúdo ideológico-político, marcado pela negação de algum sistema. Podemos citar um retrato da cultura Zine no Brasil a utilização do Fanzine para divulgação de bandas e show de rock não difundidos pela grande mídia e protesto contra a política vigente no País pelo movimento Punk.

 

Por que Fanzine?

            A Arte e o Ensino de Arte em uma sociedade são indispensáveis. Historicamente, a Arte-Educação, vive diante de uma batalha constante para um reconhecimento com equidade diante das demais disciplinas que compõem o currículo escolar.

Arte não é básico, mas fundamental na educação de um país que se desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário, e é o conteúdo. Como conteúdo, arte representa trabalho do ser humano. (BARBOSA, 2005, p.04)

 

Alguns ideários pedagógicos ainda focados numa formação tecnicista se utilizam ainda de psicologias comportamentais de modo a relacionar o ensino de artes como um “instrumento” do desenvolvimento da criatividade, estímulo à memorização, forma de relaxamento, recreação ou ainda, para a repetitiva prática ornamental em culminâncias pedagógicas. No Ensino de Artes, de fato podem ocorrer essas práticas, mas não elas apenas, em si tratando de Arte-Educação. Podemos citar a arte voltada para o desenvolvimento Ético, sensibilidade e criatividade. Estes elementos podem se relacionar como elementos de um currículo oculto de artes e componentes da construção da identidade, da consciência crítica dos envolvidos nesse processo, tantos educandos, quanto educadores. Apesar disso, entendemos que essa certa fragmentação e que essa descontextualização, essa despolitização é consequência do projeto de sociedade pensado para o devir da sociedade brasileira desde meados dos anos 60, com um Brasil industrial. Onde o Fanzine se encaixa nessa equação? O Fanzine possui uma estética libertária, fugindo de moldes pré-estabelecidos, sua construção não se prende a uma metodologia, nem um modelo pré-estabelecido, mesmo assim não se enquadra como uma construção baseada num espontaneísmo irresponsável, já que sua objetividade, seu construto intencional, artístico, se dá diante da leitura de mundo ideológico-política e de uma prática contextualizada contemporaneamente numa possível democracia. Nas colagens o Zineiro entra em contato com as suas verdades, estabelecendo logo em seguida o contato com os universos exteriores que são as verdades e crenças dos demais indivíduos, produzindo uma sociabilização e uma comunicação inter-relacional entre ambos. Sua construção envolve a visão de mundo do zineiro que influi na composição e formatação do Zine. Como nos fala Analice Dutra Pillar (2007):

Nossa visão não é ingênua, ela está comprometida com nosso passado, com nossas experiências, com nossa época e lugar, com nossos referenciais. Desse modo, não há o dado absoluto, a verdade, mas múltiplas formas de olhar uma mesma situação. (PILLAR, 2007,p. 74)

 

 

Fanzines na sala de aula

O fanzine na Arte-Educação não é novidade. Na escola, O Fanzine surge como um facilitador de baixo custo e que comporta uma infinidade de temas. Ele pode assumir o papel de um veículo de comunicação dentro da escola. Certamente é uma produção importantíssima, realizada como criação coletiva de professores e alunos, a partir de um tema do conteúdo. Incita ao uso da criatividade e do caráter de produção independente, caracteriza uma forma de trabalhar qualquer matéria de forma reflexiva e conscienciosa. O Fanzine junta pessoas e envolve-as pela simplicidade, pela anulação da relação burocrática, entre o produtor e suas expressões. Através da união entre palavras e imagens, possibilitada pelos Fanzines, é possível ao professor estabelecer um diálogo entre as linguagens visual e falada. Dessa forma, pode-se perceber que o emprego na escola dessa construção, dita como marginal, pode trazer para o campo de discussão as ideias, opiniões e pensamentos, dos estudantes que por vezes são negligenciados no trabalho dos professores. A educação sempre exerceu um papel primordial no desenvolvimento da personalidade dos indivíduos, sendo assim ela não se limita à estruturação e à apropriação de conhecimentos técnicos, históricos, matemáticos, geográficos, entre muitos outros tão necessários para a formação humana, mas compreende também o objetivo de humanizar-se, ampliar a criticidade de forma a compreender o mundo ao qual o individuo se encontra inserido, de favorecer o crescimento intelectual, emocional/afetivo e cultural de cada individuo no sentido de que este possa incorporar valores como solidariedade, inquietude, desejo de mudança, sensibilidade, sentido de vida. É também através dos afazeres artísticos de anônimos, populares, gente comum, que a história tem sido construída, formando a cultura humana. O Fanzine é relevante enquanto forma de conhecimento, instrumento de politização, criticidade e comunicação, ampliando a compreensão do homem a respeito de si mesmo e de sua condição de ser coletivo, agente cultural no mundo.

 

Fanzine e subjetividade como conscientização politica.

A sociedade e a cultura em que vivemos são governadas por relações de poder que estão incutidas em ordenamentos discursivos que alinham e orientam a subjetividade do individuo. Scoz (2004) opina que: A subjetividade é o patamar de onde o sujeito se apropria de sua própria biografia, ressignifica os fatos, transfaz a vida, recebe e atribui sentidos ao sofrimento. O que temos chamado de realidade parece ser o resultado de uma pré-programação estabelecida pelas normas do discurso das coisas, criando assim a identidade do individuo diante de uma subjetividade coletiva pré-estabelecida. O fanzine constitui uma das maneiras de se dialogar criticamente com essa realidade. Conger (1993) comentando Jung e suas observações sobre sociedade e subjetividade nos informa que em vez da diferença e da singularidade, a sociedade encoraja a mediocridade do homem coletivo, e esclarece:

[...] Jung considerava que a patologia da sociedade exerce uma força coletiva massacrante contra o individuo. Grandes comunidades dominadas por preconceitos conservadores, desaprovam consistentemente as diferenças individuais. A única fonte dos avanços morais e espirituais da sociedade, que é a visão do individuo, é repetidamente reprimida e ignorada. Os elementos individuais da personalidade presentes desde o início da infância, são empurrados para o subterrâneo nível inconsciente em que são transformados em alguma coisa essencialmente baixa, destrutiva e anárquica. (CONGER, 1993, p. 80).

 

As obras realizadas pelo homem trazem em si cargas de subjetividade, afetividade, e prazeres que o fator tempo não foi capaz de desconstituir, formando assim o elemento histórico chave de nossa cultura. Os objetos e expressões artísticas, além de uma história, carregam valores que formam o emaranhado de nossa sociedade, e entrelaçado a eles está embutido o fio que chamamos sensibilidade, que nos transporta meio a cultura, a cada nova geração e nos permite visitar outras, que em muitas vidas não conseguiríamos.

[...] É a subjetividade a força renovadora do sujeito, que lhe dá impulso para aprender a aprender, aprender a conviver, aprender a amar, aprender a fazer, saber ver e esperar, conversar, abraçar, morrer, superar os obstáculos do cotidiano, cuidar de si, do outro e do planeta. (SCOZ, 2004, p. 36)

 

Dentro do conceito de mídia radical o Fanzine nos permite uma movimentação contraria a força coletiva que massacra as subjetividades individuais que poderiam contribuir para uma melhor criação de nossa subjetividade coletiva, funcionando como um instrumento de critica e reivindicação politica. Scoz (2004) nos adverte sobre a idealidade muitas vezes não nos permitir a visão obvia da realidade quando nos diz:

Em tempos de internet e com vistas à democratização do ensino é urgente rever o papel da escola, rever sua fundamentação e organização, alterando sua rigidez e as suas práticas de adestramento que levam a obediência, à passividade e à subordinação. (SCOZ, 2004, p. 13).

 

Se levarmos em consideração que o currículo educacional e a própria organização da academia, podem não permitir a criatividade e pode não levar os homens e mulheres a criticidade, pensamos então em qual molde de subjetividade está sendo produzido pelas práticas educativas atuais. Então acreditamos fazer-se necessário que uma revolução deva atuar nos preconceitos e proporcionar uma aceitação das diferenças individuais e a convivência com a diversidade. Sendo assim é possível pensar o Fanzine como um amplificador de uma visão critica de mundo e de possibilitar o autoconhecimento por clarificar visualmente o seu construtor sobre quais as questões que envolvem a sua subjetividade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As artes permitem ao ser humano a apropriação do conhecimento humano de uma forma singular, direcionando a formação do homem para virtudes que sendo alcançadas, instituem uma humanidade refinada, ética e democrática. O padrão estético dos Fanzines, de cara, nos comunica protesto. Sua suposta agressividade não é casual, de modo que qualquer tema que apareça neles adotaria atitudes contra hegemônicas e de reivindicação. Com o Fanzine, é possível levantar um olhar crítico sobre o cotidiano, produzindo um material de comunicação que expresse suas ideias. Unindo desenhos, outras imagens e escritos enfatizando a relação entre estes e destacando as soluções mais criativas. Além disso, permite-nos o trabalho em grupo, exercitando a socialização de ideias, discutindo nossas preferências de formatação (estética do Fazine). A produção do Fanzine seja na escola ou em qualquer ambiente de possibilidade de discussão democrática, no permite transitar por diferentes caminhos, usando representações que transmitem significados, compondo saberes que comunicam o poder de intervir como homens e mulheres atuantes no meio sociocultural. No seu trabalho criador, os indivíduos utilizam e aperfeiçoam processos que desenvolvem a percepção, a imaginação, a observação, o raciocínio, o controle gestual, capacidade psíquica que influem na aprendizagem e produzem conhecimento. No processo de criação do Fanzine, ele pesquisa a própria emoção, liberta-se da tensão, ajusta-se, organiza pensamentos, sentimentos e sensações que não podem ser condicionadas pelos processos individualizantes ao qual foram direcionados os pilares de nossa sociedade. Hoje, percebemos cada vez mais, que muitas das mazelas sociais são geradas pelo individualismo, a impessoalidade. O conhecimento surge como uma ação de transvasamento enquanto ocorre uma troca, sendo assim aprender parece significar contatar, interpretar, interagir, apropriar-se e transformar o dia a dia, através de atribuições de diferentes sentidos.

 

 

 

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