Família: namoro, noivado e casamento?

A filosofia se coloca, na atualidade a reflexão de vários temas aos quais podemos chamar de questões abertas. Questões essas que vem recebendo a atenção de várias áreas do conhecimento. Uma dessas questões é a família.

Veja como a questão familiar é colocada a partir de uma antiga música de uma dupla sertaneja, "A Vaca foi pro brejo" cantada por Tião Carreiro e Pardinho:

Mundo velho está perdido, já não endireita mais

Os filhos de hoje em dia já não obedece os pais

É o começo do fim, já estou vendo sinais

Metade da mocidade estão virando marginais

É um bando de serpente

Os mocinhos vão na frente, as mocinhas vão atrás...
Pobre pai e pobre mãe, morrendo de trabalhar

Deixa o coro no serviço pra fazer filho estudar

Compra carro a prestação, para o filho passear

Os filhos vivem rodando fazendo pneu cantar

Ouvi um filho dizer: O meu pai tem que gemer

Não mandei ninguém casar...
O filho parece rei, filha parece rainha

Eles que mandam na casa e ninguém tira farinha

Manda a mãe calar a boca, coitada fica quietinha

O pai é um zero à esquerda, é um trem fora da linha

Cantando agora eu falo: Terreiro que não tem galo

Quem canta é frango e franguinha...

Pra ver a filha formada, um grande amigo meu

O pão que o diabo amassou o pobre homem comeu

Quando a filha se formou, foi só desgosto que deu

Ela disse assim pro pai: "quem vai embora sou eu"

Pobre pai banhado em pranto

O seu desgosto foi tanto que o pobre velho morreu...
Meu mestre é Deus nas alturas, o mundo é meu colégio

Eu sei criticar cantando: Deus me deu o privilégio

Mato a cobra e mostro o pau; eu mato e não apedrejo

Dragão de sete cabeças também mato e não alejo

Estamos no fim do respeito

Mundo velho não tem jeito, a vaca já foi pro brejo.

Dentro do tema Família, podem ser contemplados mais alguns temas que são de interesse da juventude em geral: namoro e noivado; além, é claro, da possibilidade de se comentar a infância, adolescência e juventude e a sexualidade.

O que é isso que se chama de família? As respostas da sociologia e da antropologia são as mais diversas. Na antiguidade o conceito família era mais extenso. Envolvia além dos pais e os filhos, os genros, netos e outros agregados.

No período colonial, do Brasil, essa categoria de família ainda estava presente. A mudança só se evidenciou a partir da revolução industrial, quando os grupos familiares passaram a se concentrar não mais no mundo rural, mas no urbano; dependendo agora, para sobreviver, não mais da produção agro-pecuária, mas do salário mensal.

Assim sendo o número de pessoas foi diminuindo, pois a alimentação de muitas pessoas era mais caro. Além disso, os filhos já não podiam mais ajudar aos pais no trabalho agrícola visto que é o dono da industria que contrata e paga de acordo com as horas trabalhadas!

No mundo rural a família extensa é uma necessidade, pois representa mais braços para a produção. No mundo assalariado e urbano a sobrevivência está condicionada a vários fatores. E um dos preponderantes é o número reduzido de bocas a serem alimentadas por um salário reduzido. Por esse motivo, entre outros, a família urbana tendeu, ao longo dos últimos anos, a se resumir aos pais e aos filhos, reduzindo, inclusive o número de filhos. Todos os agregados se desagregam originando um novo estilo de vida e de família e de estruturação social: criam-se os asilos, as creches, e uma anomalia que são os menores de rua, os mendigos e os desempregados, entre outras categorias.

A partir da urbanização passamos a conviver com novas formas de se conceber o namoro, o noivado e o casamento. Os novos valores gerados pela sociedade urbana, por influência do consumismo capitalista, fazem nascer, também novos valores familiares. Até o desenvolvimento da pessoa, que antes era concebido em dois momentos: a fase da infância e a vida adulta se decompõem em infância, adolescência, juventude e fase adulta, incluindo aí a terceira idade...

O namoro, que era uma fase de extrema beleza e encanto, momento de escolha e conhecimento, perde esse caráter. Chega o momento em que o jovem não namora, apenas fica. A relação, que era de mutuo conhecimento, passa a ser de encontros fortuitos, para noitadas ou festas. Como a tendência é de diminuírem os casamentos, também diminuem os noivados. Como conseqüência da nova modalidade de namoro (o ficar) as relações sexuais, pré-matrimoniais proliferam, dispensando a festividade glamurosa e comprometedora do noivado e do casamento. Os pares se conhecem, começam a dormir juntos e assim permanecem até que seja bom e conveniente para ambos. As separações, que já fazem parte do cotidiano, também não são, como antes, traumáticas. A não ser, talvez, para os filhos que surgem, por vezes acidentalmente.

Na atualidade estão presentes famílias mais sintéticas, ainda, oriundas das separações ou de outros fenômenos ("produção independente"). São as famílias compostas por um adulto e um ou dois filhos, sem a presença do casal formal e tradicional (marido e mulher). Surge a figura da controvertida família homossexual (tanto masculina como feminina). E neste ponto a questão família se relaciona com o problemas da ética e da religião, além de nascerem questões de ordem cultural: é admissível ou não que um "casal" homossexual crie filhos? O que pode ser visto como impedimento? Com que argumentos é admissível?

Também a figura do chefe de família se altera. Antes era só o pai – ou o patriarca, na antiguidade. Hoje já se concebe o chefe de família na pessoa da mãe ou, em alguns casos, na pessoa de um irmão (ou irmã) mais velho. O chefe de família, na realidade acaba sendo aquele ou aqueles que detêm o poder de comprar o necessário para a família sobreviver. O chefe de família, na prática, é o que tem maior poder de compra.

Sem falar do problema da educação familiar. Os valores familiares se alteram tanto que até o processo educacional fica comprometido. As interferências são tantas que muitos pais já não são mais autoridades gerenciadoras da vida e comportamento dos filhos. Normas legais e apelo consumista interferem tanto ou mais que a palavra dos pais, no estabelecimento de direitos dos filhos. Tanto que podemos dizer que a voz obedecida por todos, dentro do lar, não é mais a do pai ou da mãe, mas das crianças. O poder de consumo e de direcionamento exercido pelas crianças é tão assombroso que a mídia investe em publicidade privilegiando não a razão dos pais, mas o grito e o choro das crianças.

Essas novas relações familiares geram questões tanto para a educação, como para a ética e a religião. Novos valores morais se apresentam: As figuras dos avós, tios, primos,... são cada vez mais ornamentos de um tempo passado. O casamento formal tende a desaparecer, surgindo em seu lugar a união informal, que, em alguns casos, se desfaz tão rapidamente como começou. Antes o sexo era um tabu, algo só para quatro paredes, depois do casamento. As mudanças sócio-econômicas fizeram aparecer novas posturas, onde os pais já se preocupam não mais com a virgindade dos filhos, mas com o sexo seguro e os preservativos são mais importantes na bolsa da garota que o batom.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação

Filósofo, Teólogo, Historiador

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