I - NOSSA FAMÍLIA – NOSSO PRIMEIRO GRUPO 

                 A família em que nascemos é o primeiro grupo em que somos inseridos. Ao pensarmos em grupo, não nos referimos apenas a uma reunião de pessoas em algum lugar. Não é pelo fato de estarem juntas num consultório médico, num ônibus, numa praça que essas pessoas formam um grupo, pois não existe relação alguma entre elas, não se conhecem, logo deixarão de estar juntas.

                   A família forma um verdadeiro grupo porque entre seus membros existem vínculos, algo em comum, enfim, as pessoas se relacionam, condição básica para que haja grupo. Quanto mais fortes forem os laços de união entre os membros, maior será a influência de uns sobre os outros.

                   Mas qual é a importância, para nós, de termos uma família? Por que os especialistas são unânimes em afirmar que, para uma criança, é fundamental conviver com o pai e a mãe, principalmente nos primeiros anos de vida? Porque é através da convivência saudável que a personalidade do indivíduo será bem formada, assim como suas necessidades básicas de amor, segurança, nutrição e proteção serão satisfeitas, tornando-o apto para inserir-se em outros grupos que farão parte da sua vida: amigos, escola, trabalho.

                   Porém, quando a família não consegue cumprir satisfatoriamente seu papel na formação dos filhos, qual é a consequência? Afinal, quantas famílias conhecemos, tão desestruturadas por vários motivos: financeiros, emocionais, educacionais, enfim, perdidas diante da enorme responsabilidade perante seus novos membros. Pais e mães que, por sua vez, não tiveram uma boa formação moral, psicológica, intelectual e carregam intimamente tantos conflitos, mostrando-se despreparados para criar seus filhos. Outros pais, devido à necessidade de ganhar o sustento material, trabalham dez, doze horas por dia, deixando as crianças aos cuidados de babás, creches, e ao voltarem para casa, tão cansados, não tem condições físicas para brincar com eles, dar-lhes um pouco de atenção. E essas crianças logo serão adultos, também carregando consigo conflitos e desequilíbrios, que passarão para seus filhos. Como mudar isso? O que fazer para fortalecer a instituição familiar, para que esta produza indivíduos bem ajustados na sociedade?

II – FAMÍLIA E EDUCAÇÃO 

                   “Quando os pais se acostumam a deixar os filhos fazerem o que queiram, quando as crianças não mais atentam para o que eles dizem, quando os professores tremem diante de seus alunos e preferem adulá-los, quando, enfim, os jovens desprezam as leis porque não mais reconhecem por trás delas a autoridade de nada e de ninguém, então é aí que está em toda beleza e em toda juventude o começo da tirania.”                                   (Platão)

                   Para que a família se fortaleça, para que as próximas gerações sejam de indivíduos mais saudáveis, confiantes e menos violentos, é necessário que se invista na educação da criança, incutindo-lhe os verdadeiros valores, que não podem, jamais, sair de moda. Existe hoje uma tendência para se depreciar o papel do lar na educação infantil e enfatizar o da escola. Sem dúvida, a escola desempenha uma função importante, vital mesmo, mas é o lar que fornece o solo e as sementes que, plantadas e adubadas, se transformam nas ideias e atitudes fundamentais de uma pessoa.

                   Claro que não é sempre exatamente assim, A família, como unidade básica da sociedade é, infelizmente, uma entidade imperfeita, como se vê pelos trágicos enganos em que a sociedade tem mergulhado no passado. Crescemos com a carga de inúmeros complexos, neuroses e ideologias contaminadas, muitas das quais, talvez a maioria delas, foram absorvidas dos desvios e limitações conscientes e inconscientes dos nossos pais. É preciso admitir que os resultados são, com muita frequência, assustadores. Sem falar da violência que toma conta de todos. Ora, os homicidas, estupradores, traficantes saem, na sua maioria, de dentro de um lar. Então, o que eles aprenderam? O que viram e ouviram? Foi a família a causadora de seu comportamento dito anormal? Até onde os pais são os culpados?

                   Os pais são responsáveis pela alimentação, vestuário e educação. Mas até que ponto vai essa responsabilidade? Se os pais permitem que seus filhos comam mais do que o necessário e eles engordam, estão fugindo ao dever de mantê-los sadios? É sua responsabilidade verificar se os filhos estão fazendo os deveres escolares, ou devem deixar que eles mesmos decidam a respeito? Se seus filhos violarem as normas do lar ou do Estado, a quem cabe corrigir esse comportamento? É o Estado ou a escola que deve corrigir a conduta moral e ética de uma criança? Quando um filho atinge a maioridade, termina a responsabilidade de seus pais?

                   Muitas famílias tem medo de assumir todas estas obrigações, que na verdade lhe cabem. Tem os pais, desde o início, o dever de bem conduzir seus filhos através da educação, que abrange vários aspectos: moral, espiritual, intelectual, emocional. Porém, com as mudanças de valores de nossa sociedade, os pais estão confusos sobre como educar, se devem ou não disciplinar, impor regras ou deixar os filhos mais à vontade.

                   O vizinho cria os filhos com total liberdade, então é como deve ser. Mas, e se não for? E na dúvida, muitos pais, outrora firmes, vão se perdendo em suas convicções, perdendo o controle, deixando de exercer seu papel nos momentos mais importantes da vida das crianças, por não saberem decidir, se posicionar. E a família se fragiliza. Bem poucos, ainda, se preocupam em desenvolver uma normativa comportamental que os norteie sobre como orientarem seus filhos. Grande número apoia-se na moda em vigor. Se aparece na televisão, os pequenos fazem e usam; Se é anunciado no rádio, os garotos compram ou recebem; Se está nas revistas, é porque é bom... E assim por diante. Deixam que seus filhos sejam levados pela mídia, por modelos que muitas vezes são de péssimo exemplo. Esquecem-se os pais, ou talvez nem saibam, que estão negando aos filhos o mais importante: o amor. É este sentimento verdadeiro que faz com que outras famílias se preocupem, vigiem, estabeleçam regras, disciplina, valores. Enfim, tudo aquilo que ensina o homem a ser homem, na melhor acepção da palavra, tendo condições de se relacionar bem com seu grupo social, de cabeça boa, cheio de bons sentimentos e feliz por demonstrá-los e, futuramente, constituindo sua própria família, com filhos também felizes. Eis o pequeno segredo: amor.

                   Somente os pais podem mudar a implacável maneira de viver que está se insinuando lentamente para destruir a unidade familiar e o lar. Se olharem atentamente em torno de si mesmos e julgarem honestamente sua responsabilidade, não é tarde demais. Precisam conquistar seus filhos, torná-los fortes e úteis, transmitindo-lhes dignidade e lhes concedendo liberdade, quando adultos.

                   Hoje em dia, o medo de assumir deveres parece existir em todos os setores e não apenas na educação. As pessoas estão tão inseguras daquilo que os outros possam pensar a seu respeito que não assumem uma postura diante da vida. Amam seus filhos, sua família, os amigos, mas será que amam o suficiente para ajudá-los? Se for tão difícil dizer que algo ou alguém está errado por se temer críticas ou não se desejar interferir, acabaremos prejudicando pela falta de auxílio efetivo. É necessária a intervenção para que haja transformação positiva.

                   Em se tratando dos adolescentes, um senso de disciplina baseado numa compreensão esclarecida dos valores morais e éticos é a necessidade urgente, tanto da parte da escola quanto do lar. Os pais são os primeiros professores, e os professores, os segundos pais. Há algum tempo atrás, os alunos nutriam admiração e respeito por seu Mestre, com apoio dos pais. Hoje, professores não conseguem impor respeito, e pais tiram sua razão para dar aos filhos, julgando com isso defender direitos. Na verdade, estão invertendo os valores mais uma vez, pois é preciso que os professores sejam respeitados antes de tudo como profissionais e não achincalhados e motivo de deboche. Se o professor está cumprindo fielmente sua tarefa e sendo bom exemplo para seus alunos, estes, por sua vez, crescerão a imagem de seus professores e absorverão, inconscientemente, os elementos essenciais de um caráter nobre. Mas, quando os pais não tem essa noção para colaborarem com o educador, o que se vê então são jovens perdidos dentro de uma sala de aula, querendo se autoafirmar, confundindo democracia com excessiva liberdade, desperdiçando tempo e energia, que poderiam ser melhor empregados.

                   Portanto, nossos jovens devem ser instruídos em boas maneiras, conduta decente, humildade, disciplina. Devem ser levados a compreender a importância das leis morais e as vantagens de seguí-las.

                  A ocupação constante com seus filhos, a vigilância, a observação, desde os primeiros anos de vida, de suas tendências, se são mais generosos ou egoístas, agressivos ou dóceis, fará com que, logo cedo,  possam seus pais com amor, mas também com uma boa dose de energia e firmeza, começar um intenso trabalho de educação, em que neutralizarão as más tendências e fortalecerão as boas. Assim, na adolescência, a convivência do jovem com seu grupo familiar será mais positiva, tranquila e agradável, não havendo, no lar, tantos conflitos. Pelo contrário, a relação entre os membros tenderá a ser bastante harmoniosa e equilibrada, pois a criança e posteriormente o adolescente se sentirão seguros, bem direcionados na vida, e sobretudo, amados.

                   Porém, é claro que antes é necessário um enorme esforço dos próprios pais, enquanto seres humanos, para melhorarem-se, buscarem ajuda profissional, se for o caso, para equilibrarem sua mente e sua conduta, para que possam fortalecer os laços de família no lar, com seu melhor exemplo, sempre.

III – CONCLUSÃO 

A unidade familiar, embora imperfeita, é até hoje o único instrumento inventado pela sociedade para produzir um homem humano, perseguido pelas fraquezas humanas, mas com os olhos postos nas estrelas. Uma família mais forte é a nossa esperança para o surgimento de homens capazes de alcançar as estrelas. Mas para que a família, cada vez mais, se fortaleça, é necessário que as crianças de hoje cresçam com saúde mental, física, emocional e espiritual. E que os valores básicos da nossa sociedade também se fortifiquem, não sejam descartados e trocados por outros duvidosos, convenientes para alguns, porém destruidores de gerações.

O reconhecimento da importância da educação ministrada no lar é essencial, se quisermos que a família se torne formadora de gerações futuras superiores às que as precederam. Nossas escolas podem ensinar história, matemática, ciências e literatura, mas é em casa que se adquire as atitudes e padrões com os quais se avalia essa enorme concentração de conhecimentos. Os valores morais são por demais relevantes para serem relegados a segundo plano.

Os pais de hoje estão inseguros, cheios de dúvidas sobre como lidar com seus filhos, quando precisam é de encorajamento, orientação e confirmação do valor supremo do lar como alicerce da educação.

O mais moderno e progressista complexo escolar só poderá arruinar-se e fracassar, se for construído sobre frágeis alicerces. Esses alicerces devem ser revigorados. Recai sobre nossos líderes e sobre os responsáveis pela comunicação o dever de ajudar os pais a desempenhar seu vital papel na educação para que, juntamente com a escola, possam criar um homem melhor para o futuro.