FAMÍLIA: AGENTE DE MUDANÇA NO COMPORTAMENTO INFANTIL

A família é o contexto social mais importante para o desenvolvimento do ser humano, seja ele social, psicológico ou cultural. Cabe aos pais educar seus filhos, torná-los competentes para que possam adaptar-se ao contexto social.

Os problemas de comportamento vêm a ser expostos com a introdução da criança no ambiente escolar, um dos primeiros ambientes de sociabilidade da criança. Porem a escola sem o engajamento da família não é capaz de modificar estes comportamentos desadaptativos.

Bolsoni-Silva (2003), afirma que “A forma como os pais interagem e educam seus filhos é crucial à promoção de comportamentos socialmente adequados ou de comportamentos considerados, pelos pais e/ou professores, como inadequados, os quais são entendidos como “déficits ou excedentes comportamentais que prejudicam a interação da criança com pares e adultos de sua convivência”

As famílias acabam estimulando comportamentos inadequados sem ter noção desta atitude, seja por meio de disciplina inconsistente, pouca interação positiva, pouco monitoramento, ou supervisão insuficiente das atividades da criança bem como as relações deterioradas dentro da família que acabam delegando o ato de educar exclusivamente a escola.

Uma das estratégias para auxiliar a criança na modificação do comportamento problema é a orientação a pais, que auxilia nas relações estabelecidas entre estes e seus filhos, reduzindo os problemas. O treinamento é uma alternativa de grande eficácia, reforça o comportamento pró-social e elimina o comportamento desadaptativo.  Os pais devem ter competências para manipular as contingências e assim modificar o comportamento dos filhos, prevenindo o comportamento problema no espaço-temporal, momento preciso no qual ele se produz. E também perceber o quanto reforçam ou mantém no dia a dia estas atitudes. (Mendez; Olivares & Ros: 2009)

O desafio da atualidade, é auxiliar a família a tornar-se agente de mudança do comportamento infantil, pois a escola sozinha não é capaz de sanar estas dificuldades. Tem-se percebido que as disfunções iniciam-se na infância e nesta fase os pais são responsáveis, pelo desenvolvimento ou manutenção de padrões de interação familiar perturbadores e de problemas de comportamento apresentado pelos filhos. (Marinho, 2005)

A tendência atual de educar com uma postura demasiadamente liberal, com culpa ao impor limites, tem gerado os problemas de comportamento. Logo os pais precisam readquirir coragem e autoconfiança para chegar ao meio-termo na relação com seus filhos, e a conquistar uma relação baseada no respeito mútuo, no diálogo e na franqueza.

 O comportamento de uma criança e as reações dos pais a ele, nem sempre está sob controle consciente, os pais respondem com base em suas experiências pessoais de vida, cabe aos pais buscar auxilio para perceber este fato e aumentar o senso de competência, domínio e auto-estima que destinam.

Chazan & Kernberg (1992) citam duas dificuldades que prejudicam o funcionamento parental e criam os problemas de comportamento nas crianças: a falta de especificidade e de individuação. Se faltar especificidade não há como afinar o temperamento do filho ao dos pais, logo não há como focalizar nas mensagens comunicadas por este. Se faltar individuação não consegue perceber a criança como um ser independente, separado de suas necessidades.

Winnicott  descreve o genitor suficientemente bom como aquele que oferece a criança oportunidades para que experiencie sentimentos de raiva, agressividade e magoa dentro dos limites de um relacionamento que garanta segurança física e emocional para que ela aprenda a suportar um mundo que não é perfeito. Um relacionamento seguro deve combinar carinho, firmeza e consistência. Dar carinho como recompensa de um bom comportamento para que não seja necessário que o filho use do comportamento negativo para obter atenção. Ser firme significa ausência de ambiguidade entre os pais, os limites e as consequências de excedê-los devem ser explicados de antemão para na hora que seja necessário aplicá-lo, seja feito de forma não ameaçadora, mas esclarecedora. A consistência atua como base segura para o comportamento da criança que internalizará como parte de seu repertório pessoal com a regularidade de resposta dos pais a seus comportamentos.

‘Se tivéssemos que apostar na loteria quanto ao resultado do tratamento de uma criança com comportamento-problema e tivéssemos que basear a nossa aposta em apenas um item, o melhor seria simplesmente investigar o modo como os pais se comportam em relação ao filho e as atitudes que mantém face a ele.’ Está e a conclusão do trabalho de Witmer e seus colaboradores, grupo responsável por uma pesquisa com 197 casos de crianças com comportamento-problema.

O modelo teórico de Baumrind (1966) sobre os tipos de controle parental serve como base para um novo conceito de estilos parentais que integra aspectos emocionais e comportamentais. Ele propõe que o controle parental autoritativo é mais efetivo que o autoritário e o permissivo. Isso foi comprovado em pesquisas, às crianças educadas por este modelo diferiam no grau de competência social, maior assertividade, maior maturidade, conduta independente e empreendedora, responsabilidade social.  Os pais autoritativos são aqueles que tentam direcionar as atividades de suas crianças de maneira racional e orientada; incentivam o diálogo, compartilhando com a criança o raciocínio por detrás da forma como eles agem, solicitam suas objeções quando ela se recusa a concordar; exercem firme controle nos pontos de divergência, colocando sua perspectiva de adulto, sem restringir a criança, reconhecendo que esta possui interesses próprios e maneiras particulares; não baseiam suas decisões em consensos ou no desejo da criança. Os pais autoritários modelam, controlam e avaliam o comportamento da criança de acordo com regras de conduta estabelecidas e normalmente absolutas; estimam a obediência como uma virtude e são a favor de medidas punitivas para lidar com aspectos da criança que entram em conflito com o que eles pensam ser certo. Já os pais permissivos tentam se comportar de maneira não-punitiva e receptiva diante dos desejos e ações da criança; apresentam-se para ela como um recurso para realização de seus desejos e não como um modelo, nem como um agente responsável por moldar ou direcionar seu comportamento. Que pode ser do estilo indulgente ou estilo negligente.

Uma das intervenções efetivas para resolver as dificuldades com as crianças que possuem comportamento-problema, seria munir aos pais com conhecimentos específicos e habilidades que lhes permitam promover o desenvolvimento e a competência de suas crianças. Um trabalho de orientação para pais originaria um aumento da coesão familiar e afetaria as gerações futuras. As práticas educativas eficazes para criar e manter um repertório de comportamentos adequados, desenvolver habilidades sociais e manter uma dinâmica familiar com muito afeto positivo e comprometimento deve ser a base deste treinamento. (Weber & colaboradores,2004)

É cada vez mais reconhecido o papel de um repertório elaborado de habilidades sociais dos pais como base para uma atuação educacional efetiva junto aos filhos.

Quando questionados, os pais queixam-se de que os filhos não obedecem às ordens dadas por eles, o que pode ser reflexo das dificuldades que estes apresentam em estabelecer limites aos comportamentos dos filhos. Esta situação possivelmente está relacionada com a dificuldade de comunicação também relatada pelos cuidadores, pois, como afirmam Bolsoni-Silva e Marturano (2002), essa habilidade possibilita o estabelecimento de limites, favorecendo uma interação social positiva com o filho.

O presente artigo refere que, ao expressar sentimentos negativos de modo não habilidoso, os pais são modelo para que as crianças reajam de modo semelhante, apresentando comportamentos não habilidosos ativos, tais como agressividade, gritar, bater e espernear. Logo a hipótese de haver relação entre as variáveis: repertório comportamental de pais e problemas de comportamento dos filhos, nas pesquisas analisadas se confirma.

Cabe aos pais aceitarem este compromisso, ser pai e mãe é uma das tarefas mais gratificantes e também uma das mais difíceis. Educar filhos requer habilidades que podem ser adquiridas e aprimoradas e a orientação a pais é um dos meios para educar. Mas é necessário haver interesse dos pais em aceitar esta missão e não simplesmente culpar a escola e a sociedade por um papel que cabe a família exercer.

Artigo escrito pelas professoras Dabda Tais Borba, Andréia Ramos dos Reis e Claudia Jarré Prestes da Escola Municipal de Educação Infantil
Amor Perfeito de São Marcos- RS

 

 

 

 

 

 

 

Referências bibliográficas:

Baumrind, D. (1966). Effects of authoritative control on child behavior.

Child Development, 37, 887-907.

 Bolsoni-Silva, A. T. & Dell Prette, J. A. (2003). Habilidades sociais de pais e problemas de comportamento de filhos. Argumento: Revista das Faculdades de Educação, Ciências e Letras e Psicologia Padre Anchieta (9)11-29.

Chazan, S., Kiernberg, P. e colaboradores. (1992). Crianças com transtornos de comportamento: manual de psicoterapia. POA, Artes médicas.

Marinho, M. L.(2005). Um programa estruturado para o treinamento de pais. In Caballo . E.V. & Símon M. A. Manual de psicologia clinica infantil e do adolescente: transtornos específicos (pp 418-443). São Paulo: editora santos.

Mendez, F. X.;  Olivares, J. & Ros, M. C. (2005). O treinamento de pais em contextos clínicos e da saúde In Caballo . E.V. & Símon M. A. Manual de psicologia clinica infantil e do adolescente: transtornos específicos (pp 365-385). São Paulo: editora santos.

WINNICOTT.D.W: Fatores de integração e desintegração na vida familiar. in: A família

e o desenvolvimento individual.3ªEd,São Paulo Martins Fontes:, 2005, Cap 6,p. 51.

WITMER, Diane F. Spinning the web: a handbook for public relations on the

internet. New York: Longman, 2000.