Olhando ao redor, talvez muitos de nós concluamos que a vida está muito difícil. E difícil para todo mundo. Os que são otimistas, não por conta de qualquer sentimento sem base, mas por conta da esperança cristã que foi plantada em seus corações, hão de olhar para as dificuldades e ver nelas oportunidades de crescimento. Isso é bom. Enquanto houver esperança, haverá sonhos; e enquanto houver sonhos, haverá chance de mudar o real.

Muitos vêem nos evangélicos a solução para o país. Mas, para que os evangélicos ocupem o seu lugar no Brasil e no mundo, é preciso que Jesus ocupe o seu lugar na vida e no coração dos evangélicos. Queremos conquistar o mundo, mas ainda não fomos civilizados. Queremos governar, mas ainda não nos submetemos totalmente ao senhorio de Cristo. E enquanto isto não ocorrer, a Igreja continuará apequenada; sofrendo do mal de estar perto e não conseguir chegar. O que fazer? Como vencer tudo isto?

                Vamos procurar mostrar alguns desafios que se apresentam para a Igreja de Cristo no alvorecer deste novo século. Mais que isto: De que forma a família pode representar e refletir estes anseios mais caros do Evangelho e que precisam ser vividos para serem passados como herança às gerações vindouras? Esta é a pergunta central que vamos procurar responder neste estudo.

 

O desafio da compreensão de seu lugar no mundo

Que papel deve desempenhar uma família cristã hoje? De que forma esta família pode ser significativa para a sociedade em que vive? O que será que os outros, os não-cristãos, esperam das famílias cristãs? Estas são perguntas de grande relevo, posto que nos levam a refletir sobre a participação que devemos ter como famílias cristãs em nossos dias. E o que Deus espera de nós? Vivemos o eterno conflito do "estar no mundo sem ser do mundo" (Jo 15.19). Isto nos aponta dois aspectos básicos que precisam ser experenciados com sabedoria:

1º) Somos família como qualquer outra. Ou seja, somos uma família normal. Temos direito de nos angustiar, quando alguma coisa nos aflige; chorar, quando estamos entristecidos; sorrir, quando há alegria; divertir, quando há motivo para isso.

Vivemos a experiência da vida dentro dos parâmetros normais da humanidade que em nós ainda fala alto e por isso: amamos, cantamos, gritamos, corremos, saltamos, nos cansamos, comemos, bebemos e dormimos.

Somos o que somos nos louvores ou nos folguedos; nas ambições ou nos fracassos; nas conquistas ou nas esperas. Enfrentamos as filas do INSS; o aperto do salário pequeno; o desgaste das filas de banco; a dor da perda de um ente querido; as derrotas do Fluminense; o cansaço de um dia fastiento; as inseguranças de um filho; as doenças de um familiar e muito mais.

Ser família para nós, possui todos os componentes naturais de uma família moderna que precisa acordar cedo para o trabalho ou a escola, que precisa ser responsável e ter o seu ganha-pão, que precisa se imbuir de esperança, coragem e forças para enfrentar todas as vicissitudes da vida. Nada foge à regra da existência comum debaixo desse sol que continua sempre o mesmo: a brilhar e a aquentar maus e bons desde a fundação dos tempos (Ec 1.9; Mt 5.45).

2º) Somos família de uma forma diferente. Quer dizer, não dá para anunciar que somos salvos, que temos a Cristo como nosso Salvador pessoal, e não mostrar para o mundo, e para a vizinhança de forma especial, a nova vida em Cristo. É preciso que nossa vivência familiar na rua em que moramos e no bairro de nossa residência demonstre alguma coisa diferente que é exatamente esta presença restauradora de Cristo em nós.

Seremos famílias normais, mas famílias que se pautam por um diferencial: O reinado de Cristo sobre suas vidas. Famílias onde há lutas e há dificuldades; mas há força de vontade, há comunhão, há harmonia, há desejo de superação, há expectativas, tudo isso à partir da atuação vitoriosa de Deus em nossas vidas.

As pessoas lá fora, quando têm problemas, enchem a cara de cachaça, se drogam, se prostituem e tornam suas vidas mais caóticas ainda. Nós, pela presença do Espírito de Deus, enfrentamos as crises familiares com joelhos no chão, em oração; com dependência de Deus, em submissão à sua vontade.

Temos este grande desafio de compreender o nosso papel como famílias cristãs, vivermos o Evangelho condignamente e ser sal e luz para aqueles que precisam do nosso testemunho para se encontrar com Deus.

 

O desafio da manutenção de valores

Outro desafio para a família cristã, que nos levará a ser mais do que vencedores sobre os problemas deste mundo (Rm 8.31-39), é a manutenção dos valores cristãos. Também, neste ponto, poderemos ser tidos como "esquisitões" pelos lá de fora; taxados de "extra-terrestres espirituais" ou alcunhas semelhantes, mas disso não poderemos escapar e isto não devemos temer.

A Bíblia já revela que o homem natural não consegue compreender as coisas de Deus:  "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucuras; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1Co 2.14). Então, de uma certa forma, haveremos de ser diferentes do padrão normal vigente em nossa sociedade. Muitos devem estranhar a nossa forma de "guardar" o Dia do Senhor. Devem se perguntar: "Estes crentes não se cansam de ir à Igreja todos os domingos não?" Para eles, este é um costume enfadonho. Quando você, como crente, começa a se perguntar assim: "Será que tenho que ir todo domingo à Igreja mesmo?", é sinal de que está começando a haver um problema em sua vida espiritual que precisa ser resolvido logo.

É de bom tom que a Igreja, mesmo em pleno Século XXI, continue a condenar o uso de bebidas alcoólicas (a bebida mata mais que as drogas e a sociedade finge não ver!); o cigarro e derivados; qualquer espécie de droga; as jogatinas, sejam elas legalizadas (Baú da Felicidade, raspadinhas, loto, loteria, loteca, loto-mania etc) sejam clandestinas (nem tanto: jogo do bicho, bingos, cassinos, máquinas caça-níqueis); os bailes, as danças e similares. E todo comportamento inadequado para o cristão, que menospreze sua fé e embote a atuação de seu Deus.

Permanecer nos valores do amor, da graça, da misericórdia, da piedade, da justiça e de tantas outras virtudes como exemplificadas no "fruto do Espírito" (Gl 5.22,23), deve ser o objetivo da família cristã que quer vencer este mundo presente.

 

O desafio da busca de relacionamentos conforme a vontade de Deus

A família cristã também vence os problemas do mundo moderno, com um padrão de relacionamento, seja conjugal (marido e mulher), filial (pais e filhos), fraternal (irmãos em Cristo) e vivencial (vizinhança e colegas diversos) vivendo-o em moldes superiores aos demonstrados por aqueles que não têm o temor de Deus (Mt 5.20).

Como conseguir isto? Através da experiência de fé e dependência de Deus. Para tanto, precisa-se cultivar o sadio hábito da comunhão na Palavra, diariamente, no lar. Ler a Bíblia e orar todos os dias com as crianças e todos da casa, forma valores e molda o caráter de uma forma que só podemos aquilatar quando nos tornamos adultos.

O relacionamento de um casal crente há que ser na base do amor, da espiritualidade, da compreensão, do diálogo, do carinho, do respeito mútuo e da aceitação da humanidade de um e de outro. Quando um casal procura ajustar-se, entendendo-se e fortalecendo-se mutuamente, fica mais fácil enfrentar as lutas da vida.

Da mesma forma, o relacionamento com os filhos há de ser respeitoso, ordeiro, amoroso, altruísta e pleno de espiritualidade. A harmonia do lar precisa ser sentida em cada instante, desde os momentos mais difíceis até aqueles em que se desfrute de abundância.

Devem, também, os membros da família cristã, procurar manterem-se firmes na busca de dar testemunho vivo da presença de Cristo em suas vidas. A boa convivência com os outros; o relacionamento amistoso com vizinhança, respeitando-se as regras do bom viver; tudo isto contribuirá para a conquista de um mundo melhor.

 

Aplicações para a vida

                Ainda há outros desafios de que deveríamos falar: "o desafio do exercício da autoridade com responsabilidade", "o desafio da vivência de um estilo de vida simples", "o desafio do amor ao próximo", "o desafio da religiosidade verdadeira", dentre outros. Vamos ficar com estes e perceber que venceremos todas as circunstâncias adversas da vida, à medida em que aceitarmos estes desafios e procurarmos refletir a luz de Cristo em nós.

                Vamos focar, então, esta afirmação de Jesus para encerrar o estudo, aplicando-o em nosso viver: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5.16).

                1ª) A família precisa resplandecer a luz de Cristo - Cada crente precisa entender que não tem luz própria, é planeta, não estrela, portanto, precisa refletir a luz de Cristo. Só ela nos garante qualidade de vida.

                2ª) A família precisa mostrar qualidade dentro e fora do lar - O resplandecimento da família cristã é para dentro e para fora. É diante dos homens. Que nos observam como somos em casa e como somos fora de casa.

                3ª) A família precisa evidenciar obras espirituais - Se não tivermos boas obras para mostrar, por onde andará a nossa fé? Como disse Tiago, "a fé sem obras é morta" (Tg 2.17).

                4ª) A família precisa entender que tudo o que fizer será para a glória do Pai - A humildade é uma das mais nobres virtudes cristãs. A família precisa desenvolvê-la e saber que tudo o que fizer na demonstração da luz de Cristo será para a glória de Deus e não para a vanglória humana.